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Empresas lançam manifesto com propostas para Brasil superar ‘gargalos logísticos e regulatórios’

No documento, Hidrovias do Brasil, Porto do Açu e Wilson Sons fazem ‘chamado à ação conjunta’ de governo, empresas, academia, centros de pesquisa e startups

Hidrovias do Brasil, Porto do Açu e Wilson Sons, três importantes empresas do setor aquaviário, lançaram um manifesto com o intuito de o Brasil conseguir superar as limitações históricas nessa atividade. O documento, intitulado “Manifesto pela Inovação no Setor Marítimo e Portuário”, diz que, “apesar de alguns exemplos de excelência em inovação na área, o país ainda precisa superar gargalos logísticos, regulatórios e culturais que impedem avanços mais consistentes e sustentáveis”.


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O manifesto identifica quatro grandes desafios, a partir de consultas feitas aos stakeholders do setor marítimo, portuário e hidroviário brasileiro. São eles: desarticulação entre organizações envolvidas em projetos inovadores; pouco incentivo à tomada de risco inteligente; falta de planejamento de longo prazo; pouco incentivo à inovação nos processos de contratação. O manifesto apresenta propostas de solução, convocando para o debate público, gestores públicos e privados, trabalhadores e empreendedores da área, formuladores de políticas públicas, reguladores do setor, parlamentares, pesquisadores e demais formadores de opinião.

Das sugestões apresentadas, as empresas que elaboraram o manifesto entendem que são três as principais prioridades: realizar diagnóstico sobre a inovação no setor marítimo e portuário do Brasil, com métricas bem definidas para acompanhamento; premiar os maiores avanços em inovação entre os portos; criar grupo de trabalho para construção de políticas de longo prazo voltadas à modernização dos portos.

“É importante que a discussão sobre os desafios e propostas de melhorias na área ganhe a atenção da sociedade brasileira. Queremos incentivar o debate qualificado sobre um tema de importância capital para o Brasil: a urgência de impulsionar o ecossistema nacional de inovação no setor marítimo, portuário e hidroviário”, diz o diretor de Transformação Digital da Wilson Sons, Eduardo Valença.

O manifesto aponta que, no Brasil, os desafios operacionais da indústria marítima, portuária e hidroviária são os mesmos do restante do mundo, destacando que o setor caminha em direção a operações autônomas de embarcações e terminais; tecnologias que permitam receber navios maiores com mais segurança; gestão facilitada da comunicação; e previsibilidade na operação. Ressalta ainda que o “relativo atraso nacional” na aplicação das grandes inovações já estabelecidas na indústria se reflete em maiores custos logísticos e operacionais, maior tempo de trânsito, menor segurança operacional e impacto na emissão de gases do efeito estufa.

Nesse contexto desafiador, Mariana Yoshioka, diretora de Inovação e Tecnologia da Hidrovias do Brasil, enfatiza que o manifesto chega para impulsionar uma nova realidade no setor. “Acreditamos que o Brasil possui os elementos essenciais para se destacar globalmente no setor marítimo, portuário e hidroviário. Com uma extensa costa, infraestrutura consolidada e um ecossistema rico em tecnologias de ponta, temos a oportunidade única de transformar desafios em oportunidades. Ao trabalhar de forma conjunta, podemos alavancar a inovação e impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país”, ressalta a executiva.

Com 26 páginas, o documento traz números do desempenho dos portos brasileiros comparado aos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e EUA. No caso do tempo médio de espera para atracação, no Brasil é de 5,5 dias, enquanto nos EUA é muito menor: 2 dias. Já o tempo médio de desembaraço aduaneiro alcança 49 horas no País, contra 12,7 horas na OCDE, com o custo chegando a US$ 862 aqui, contra US$ 136 lá. O manifesto mostra ainda que o Brasil ocupa o 60º lugar no ranking de competitividade econômica global. “Somos menos competitivos e menos eficientes, mas é possível mudar esse cenário”.

Em diversos países, enfatiza o manifesto, tecnologias como inteligência artificial, robótica, sistemas autônomos e análise de dados em tempo real já fazem do ambiente portuário e hidroviário um dinâmico laboratório de soluções inovadoras. “Podemos e devemos aprender com as melhores práticas de portos e hidrovias inteligentes, adaptando-as de forma criativa para a solução dos problemas de nossa realidade”, ressalta o documento, acrescentando: “ao propor caminhos, esperamos incentivar ações concretas para resolver ou mitigar os entraves à inovação”.

O estudo também aponta a relevância global do setor marítimo e portuário, salientando que 90% do comércio mundial entre países são realizados pelo mar. Além disso, chega a US$ 5 trilhões o valor agregado anual dos produtos transportados pelo mar, enquanto os gastos anuais em serviços de frete marítimo totalizam US$ 1 trilhão.

O manifesto indica que o Brasil tem décadas de atraso em inovações setoriais. Cita o Serviço de Tráfego Marítimo (VTS, em inglês), implantado em 1948 no Reino Unido e aqui em 2015; o calado dinâmico nas janelas de atracação, disponível nos Países Baixos desde 1985, mas aqui só em 2022 (a Norma da Autoridade Marítima foi publicada em dezembro de 2019); e o PCS (Port Community System), implantando em localidades na Europa nos anos 1970.

“Chamado à ação conjunta”

Em suas conclusões, o manifesto faz um “chamado à ação conjunta”, dizendo que o Brasil reúne vantagens comparativas para acompanhar o nível global de inovação no setor marítimo, portuário e hidroviário. “Temos uma das maiores extensões costeiras do mundo; infraestrutura consolidada; corrente de comércio que movimenta mais de US$ 600 bilhões anuais; corporações e startups que criam tecnologias de fronteira; ambiente acadêmico com pesquisadores capacitados; órgãos públicos de fomento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e gestores públicos comprometidos com o tema”.

Como destaca Vinícius Patel, diretor da Administração Portuária do Porto do Açu, o manifesto clama para que todos os agentes envolvidos – governo, empresas, academia, centros de pesquisa e startups – se unam e trabalhem juntos a partir de bases consensuais para superar gargalos. “Já passou da hora de o Brasil se posicionar no setor marítimo e portuário em concordância com o que vem sendo desenvolvido no mundo e com o tamanho da nossa economia. É mandatório uma ação conjunta para criar um ambiente mais dinâmico no setor, de modo a gerar eficiência e prosperidade para a sociedade brasileira”, conclui Patel.

Sobre a construção do manifesto

O “Manifesto pela Inovação no Setor Marítimo e Portuário” foi elaborado por um grupo de trabalho interdisciplinar, coordenado por profissionais das empresas Hidrovias do Brasil, Porto do Açu e Wilson Sons. A iniciativa de identificar os principais desafios do setor e apresentar propostas de solução para o debate público foi lançada em 13 de julho de 2023, no evento Portos ao Cubo, em São Paulo, que contou com 503 participantes de ampla representatividade dos atores de todo o setor.

Foi formado um Grupo de Trabalho (GT) que definiu o processo de coleta de informações, sendo consultados 34 stakeholders do setor marítimo, portuário e hidroviário por meio de entrevistas e de questionário, entre eles agências reguladoras, associações, autoridades portuárias, terminais de uso privativo (TUPs), startups, governo federal e organizações internacionais. Foram ouvidos ainda diversos especialistas independentes. Relatórios técnicos e reportagens de mídias especializadas serviram como fontes complementares. O GT analisou as informações coletadas, organizadas em quatro grandes desafios, e apresentou soluções.






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