O governo recebeu relatos de efeitos pontuais do coronavírus sobre os fluxos de comércio do Brasil, mas a avaliação é que o surto não teve impacto sobre os dados agregados da balança comercial de fevereiro, afirmou nesta segunda-feira (02) o subsecretário de inteligência e estatísticas de comércio exterior do Ministério da Economia, Herlon Brandão.
Em entrevista, o técnico afirmou que exportadores de carne relataram um baixo movimento no começo do mês por não conseguirem desembarcar suas mercadorias por falta de contêiner e mão de obra nos portos chineses.
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Segundo Brandão, a queda de preço da carne bovina verificada em fevereiro sobre janeiro –que segundo ele foi de 9,2%– pode "ser algum indício de impacto de coronavírus".
"No agregado da balança comercial não conseguimos enxergar impacto significativo (do coronavírus) agora, a não ser relato das empresas, que é mais rápido", afirmou.
Trabalhador na linha de produção do frigorífico Marfrig em Promissão (SP) - Paulo Whitaker/Reuters
O Brasil registrou um superávit comercial de US$ 3,096 bilhões em fevereiro, melhor do que o esperado, com a venda de óleos brutos de petróleo, combustíveis de petróleo e minérios de cobre impulsionando as exportações no período.
O dado, divulgado nesta segunda-feira pelo Ministério da Economia, ficou próximo do saldo positivo de US$ 3,116 bilhões registrado no mesmo mês do ano passado e compensou parcialmente o fraco desempenho de janeiro, quando o país teve o primeiro déficit comercial para o mês em cinco anos.
O superávit da balança comercial também veio melhor que projeção de US$ 1,5 bilhão feita por economistas, segundo pesquisa Reuters com analistas.
Em fevereiro, as exportações subiram 15,5% na comparação com igual período do ano passado, pela média diária, a US$ 16,355 bilhões. Já as importações gerais tiveram um aumento de 16,7% na mesma base de comparação, a US$ 13,259 bilhões.
Os dados da balança comercial vieram positivos em fevereiro apesar dos temores de desaceleração do crescimento global por conta da disseminação do coronavírus, com efeitos marcantes sobre a China, que é a maior parceira comercial brasileira.
Em fevereiro, contudo, as exportações brasileiras para a China, Hong Kong e Macau saltaram 20,9% e, no bimestre, 5,5%.
De acordo com o Ministério da Economia, as vendas totais de óleos brutos de petróleo ficaram US$ 703 milhões maiores que no mesmo mês de 2019, enquanto para óleos combustíveis de petróleo o acréscimo foi de US$ 299 milhões.
As exportações de minérios de cobre, por sua vez, tiveram um incremento de US$ 626 milhões ante fevereiro do ano passado.
No caso das importações, houve aumento em todas as categorias, com destaque para bens de capital, que cresceram 102,2% sobre um ano antes. As compras de combustíveis e lubrificantes aumentaram 32,2%, as de bens intermediários, 3,2%, e de bens de consumo, 2,2%.
No primeiro bimestre, o superávit da balança comercial foi de US$ 1,361 bilhão, queda de 69,8% sobre igual etapa do ano passado, com retração de 4,2% na ponta das exportações, pela média diária, enquanto as importações subiram 6,5%.
O Ministério da Economia ainda não divulgou suas projeções para 2020, mas já indicou que a perspectiva para o saldo das trocas comerciais é de piora em relação ao superávit de US$ 48,036 bilhões de dólares de 2019.
O Banco Central prevê um superávit de US$ 32 bilhões em 2020, estimativa que foi feita em dezembro e que ainda não considera fatores que podem afetar negativamente as exportações brasileiras, pressionando ainda mais o resultado da balança comercial.
No boletim Focus, a projeção mais recente de economistas é de um saldo positivo de US$ 36,70 bilhões para as trocas comerciais neste ano.
Fonte: Folha SP