Os investimentos de R$ 20 milhões na melhoria das ferrovias gaúchas concedidas à América Latina Logística (ALL) e de R$ 5 milhões na modernização dos armazéns da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) formam o eixo central do projeto Corredor do Mercosul, apresentado ontem pela Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) em seminário em Porto Alegre.
A entidade reuniu representantes do governo estadual, parlamentares estaduais e federais, além de líderes municipais, para apresentar as vantagens da proposta de retomada do transporte ferroviário. Segundo o presidente da Famurs, Mariovani Weis, a intensificação do transporte de produtos agrícolas entre os países do Mercosul e o porto de Rio Grande vai elevar consideravelmente a arrecadação de impostos municipais e estaduais (pelo tratado do bloco, há isenção de impostos federais) e aumentar a demanda por serviços nos mais de 60 municípios cortados pela estrada de ferro.
“Isso vai viabilizar empreendimentos em todas as cidades, vai motivar um melhor uso da capacidade do porto de Rio Grande, da estrutura de armazenagem de São Luiz Gonzaga, vai aumentar o fluxo na ponte internacional de São Borja e vai revigorar a Cesa”, garantiu ele, que apontou como pequenos os investimentos necessários.
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, observou que os recursos já aplicados e os anunciados pelo governo federal denotam um compromisso sério com o transporte ferroviário, que pode beneficiar diretamente o Rio Grande do Sul. “Estamos trabalhando na perspectiva de integrar o transporte ferroviário do Mercosul com as ferrovias do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. As perspectivas são as melhores possíveis, pois há retomada do investimento. Queremos aproveitar essa oportunidade para viabilizar o Rio Grande do Sul enquanto polo que pode atrair novos investimentos nessa área”, afirmou.
Já o deputado estadual Adão Villaverde indicou que a proposta articula três questões estratégicas para o Estado: o aproveitamento da localização geográfica, através da infraestrutura, para colocar o Rio Grande do Sul como centro logístico do Mercosul; a necessidade de aproveitar o momento de retomada dos investimentos federais no modal ferroviário; e o desenvolvimento dos municípios, que segundo ele depende diretamente da infraestrutura. “Certamente, a transformação da ferrovia que temos instalada num verdadeiro Corredor do Mercosul vai gerar polos de emprego e de demanda por serviços em todo o Estado”, argumentou.
Projeto Corredor do Mercosul pode reduzir os custos de transportes em até 25%
O coordenador do projeto Corredor do Mercosul, consultor João Manoel Bicca, estima que o transporte pelo Rio Grande do Sul em via férrea pode representar uma redução em 20% a 25% dos custos para as cargas da Argentina, Bolívia e Paraguai. Atualmente, a soja paraguaia é levada por caminhão até Paranaguá, no Paraná. Entretanto, a distância entre Encarnación (um dos polos produtores) e São Luiz Gonzaga, a ser enfrentada por rodovia, é de apenas 250 quilômetros. Na cidade gaúcha os grãos podem ser levados ao trem e seguir para Rio Grande. “O que é melhor, fazer 250 quilômetros de caminhão e pegar o trem ou fazer mil quilômetros de caminhão até o porto? Em São Luiz temos, ainda, o apoio do maior complexo de armazéns da Cesa, com capacidade para 85 mil toneladas”, questionou Bicca.
Outra articulação possível, mapeada pela Famurs, é entre a Bolívia e o município argentino de San Tomé. A ferrovia entre o país andino e a cidade argentina já existe e é operada pela ALL. De San Tomé a carga precisaria percorrer uma curta distância (cerca de 100 quilômetros) de caminhão para passar a ponte internacional em São Borja e chegar à ferrovia em São Luiz Gonzaga, que tem mais 600 quilômetros até o porto de Rio Grande.
A proposta, garantiu a gerente de relações corporativas e de patrimônio da ALL, Renata Trevisan, é de interesse da empresa. Segundo ela, a companhia está investindo mais de R$ 100 milhões na recuperação de trechos no Rio Grande do Sul. O plano, que começou em 2011, deve ser concluído até 2014, mas apesar de trazer de volta à operação os trechos que estavam com “baixa intensidade” não é suficiente para garantir o crescimento da produção. “Esse crescimento só virá se outros crescimentos paralelos forem feitos e a ALL se dispõe a participar nesses investimentos, que seriam, por exemplo, para aumentar a capacidade de descarga em Rio Grande”, afirmou.
Renata lembrou, ainda, que a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) trabalha na criação de um novo marco regulatório para estabelecer metas por trecho, fazer uma revisão tarifária e possibilitar a entrada de outros operadores. Para isso, a agência mapeia a capacidade das linhas e o uso, para averiguar a operação por outras empresas logísticas. “A ALL não poderia estar à margem desse processo, dessa discussão sobre o Corredor do Mercosul. Temos plano agressivo de crescimento no Rio Grande do Sul. Queremos passar de 3 milhões de toneladas para 6,5 milhões de toneladas transportadas ao ano, nos próximos anos”, concluiu.
Já o secretário adjunto do Gabinete dos Prefeitos e Relações Federativas do Estado, Gilson de Brum, comemorou o engajamento das prefeituras nos debates que podem mudar a economia do Rio Grande do Sul. Segundo ele, o projeto é conhecido pelo governador Tarso Genro desde o início do mandato.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)/Clarisse de Freitas
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