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Gargalos na infraestrutura impõem desafio ao futuro presidente

Porto de Santos depende de mais investimentos para responder a demanda

Há montes de açúcar por todos os lados no terminal de exportação da empresa Cosan no Porto de Santos. O pó branco meio manchado cai do alto sem parar, escorrendo das esteiras que transportam o produto dos armazéns para os cargueiros, e se acumula em todos os cantos.

O olho vê um porto sujo e com ar de antiquado, mas o cheiro é de doceria. O ritmo de trabalho é frenético: embarques 24 horas por dia para compensar atrasos causados pelo recorde de exportações de açúcar e pelas chuvas fortes.

A Cosan planeja construir um telhado sobre seu terminal mas, por enquanto, qualquer chuva interrompe os embarques. Fácil de entender o problema numa operação de embarque de açúcar a granel.

As longas filas de navios esperando no canal de Santos por uma vaga para atracar no maior porto do Brasil refletem a pujança da economia do país, mas também revelam o quanto a sua infraestrutura deixa a dever ao crescimento econômico.

"O Brasil exportou US$ 100 bilhões em 2005 e US$ 200 bilhões em 2008. Precisamos de investimentos muito grandes em infraestrutura", disse o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Weber Bahal.

"Questões logísticas já estão comprometendo o futuro das exportações e precisamos investir rapidamente em estradas, ferrovias e portos. Mas já temos mapeadas as prioridades e há investimentos em curso que permitirão ao Brasil responder a estas exigências em quatro ou cinco anos."

Melhorias

O Porto de Santos já fez algumas melhorias nos últimos anos - alguns terminais foram privatizados e operações foram simplificadas - mas ainda não foi suficiente para lidar com o aumento da demanda.

Caminhoneiros não sabem se ficarão horas ou dias esperando em Santos

"Segundo nossas projeções, vamos triplicar nossa movimentação de cargas nos próximos 15 anos, de 95 milhões de toneladas no ano passado para 230 milhões em 2024. Governo e as empresas privadas terão de investir para lidar com isso", disse o diretor de planejamento da Companhia Docas do Estado de São Paulo, Renato Ferreira Barco.

"Estamos trabalhando na dragagem do porto e criando mais atracadouros para navios maiores, mas o acesso ao porto continua a ser o nosso principal gargalo. Temos de ampliar utilização de ferrovias e de construir novas estradas na região de Santos."

Quando o caminhoneiro Eloi dos Santos chega com sua carga de café, ele nunca se sabe por quanto tempo ele vai ter que esperar. "Não há contêineres disponíveis para transportar a carga, por isso temos de esperar aqui. Pode levar horas ou dias, nunca sabemos", diz ele.

"Melhorou agora que descarregamos nos armazéns porque antes, quando tínhamos que descarregar direto nos navios, podíamos ficar até uma semana esperando. Mas ainda é muito ruim", afirma.

Entretanto, os problemas do caminhoneiro com 35 anos de profissão começam bem antes de ele chegar ao porto, nas estradas mal conservadas do interior do Brasil.

"Venho de Minas (Gerais) carregando café e tem uns trechos de estrada, perto da divisa com São Paulo, que são muito ruins, cheios de buracos e de bandidos", conta o motorista.

Na estrada

Cerca de 85% das mercadorias que chegam ao porto de Santos viajam de caminhão.

Já nos anos 1950, o Brasil fez uma opção pelo transporte rodoviário - era o momento da chegada dos fabricantes de automóveis ao país - e abandonou o seu sistema ferroviário, que era maior 60 anos atrás do que é hoje em dia.

Atualmente há investimento em projetos para criar uma matriz de transportes mais eficiente no Brasil, com ferrovias e hidrovias que possam aliviar o movimento nas estradas, mas são iniciativas que exigem tempo e dinheiro.

"Tudo em infraestrutura é importante, mas em transporte e logística temos de investir muito dinheiro rapidamente porque no passado o Brasil não investiu o suficiente, e agora temos que reconstruir a nossa capacidade", diz o presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base, Paulo Godoy.

Os Programas de Aceleração do Crescimento (PACs 1 e 2) do Governo Federal já preveem investimentos públicos de mais R$ 2 trilhões em infraestrutura, mas também será necessário atrair capital privado para atender às necessidades do Brasil.

"Precisamos criar novos fundos para atrair investidores internacionais comprometidos com investimentos de longo prazo e não em ganhar rápido no mercado financeiro", diz Paulo Godoy.

Aeroportos

O empresário observa que o Brasil ainda está na infância no que diz respeito ao investimento privado em infraestrutura, porque apenas nos anos 90 foi estabelecida uma lei de concessões de serviços públicos no país.

"Sem dúvida a participação do governo nas obras de infraestrutura é essencial, mas também precisamos atrair cada vez mais capital privado para o setor. Esperamos que em breve também os aeroportos sejam abertos a investimentos privados, como aconteceu com os portos."

O problema dos aeroportos é particularmente preocupante por conta da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíada de 2016.

Os dois terminais do maior aeroporto do Brasil, o Internacional de São Paulo, em Guarulhos, foram planejados para lidar com 17 milhões de passageiros por ano, mas em 2009 o tráfego real foi de mais de 21 milhões de pessoas. A construção de um terceiro terminal é uma prioridade do governo desde o final de 1990.

"O governo anunciou novos planos de ampliação de aeroportos mas, por ora, eles não passam de planos. E colocar esses projetos em prática não é nada fácil", diz o engenheiro aeronáutico Jorge Leal, da Universidade de São Paulo.

"Precisamos encontrar maneiras de permitir que as empresas privadas invistam em aeroportos no Brasil, mas confio que nós vamos ter isso em breve. Espero que o próximo governo seja mais flexível sobre isso", diz o professor Leal.

Fonte: BBC Brasil






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