Para o setor privado, a desestatização do Porto de Santos poderá acabar com histórico de indicações partidárias na administração
Além dos ganhos de eficiência na gestão, outro possível benefício da desestatização do Porto de Santos poderá ser o fim de décadas de interferência política direta em sua administração, que foi marcada por indicações de partidos - como o MDB, o PL e o PSB - e investigações por suspeitas de corrupção, avaliam fontes do setor privado ouvida pela Valor.
O MDB, do ex-presidente Michel Temer, é apontado como o grupo que teve maior influência sobre o porto desde o fim da década de 1990, quando o partido passou a ser responsável por uma série de indicações para cargos no comando da então Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp, hoje SPA).
PUBLICIDADE
A avaliação é que o partido nunca deixou de ter poder sobre a gestão, mas, a partir do primeiro governo petista, a autoridade portuária passou a ser um feudo político do então PR (Partido da República), que depois se tornou PL (Partido Liberal), comandado por Valdemar Costa Neto. A partir da criação da Secretaria Especial de Portos, em 2007, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) também passou a ter um peso grande nas indicações a cargos no porto.
Já nos últimos anos da era petista e durante o governo de Michel Temer, o MDB voltou a ter mais relevância nas indicações. Nesse período, o PRB (atual Republicanos), de Celso Russomano, também ganhou importância política na região santista.
As denúncias de corrupção também marcaram a história recente do porto. No fim de 2018, uma operação da Polícia Federal chegou a prender o então presidente da Codesp José Alex Botelho de Oliva e diretores da estatal, por suspeita de integrarem um esquema de fraudes em licitações para contratar sistemas de tecnologia - os acusados negam as irregularidades.
Há ainda os casos de investigação ao ex-presidente Temer, denunciado por supostamente aceitar propina para editar o Decreto dos Portos, que favoreceu empresas que atuam em Santos. Ele também nega as acusações.
A reportagem procurou, por meio de contatos oficiais e assessorias de imprensa, o ex-presidente Michel Temer, o MDB, o Republicanos, Russomano, o PSB e o PL, mas nenhum dos grupos enviou posicionamento sobre o assunto até a conclusão deste texto.
Fonte: Valor