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História dos portos no Ceará

Antes do Mucuripe, era por meio dos portos do Aracati e Camocim que a riqueza do Ceará era transportada
Fortaleza Abrigo de ondas e correntes marinhas, o porto tem sido, ao longo dos séculos, a porta de entrada e saída de mercadorias, promovendo o desenvolvimento não só das cidades portuárias, como também das que serviam de entrepostos para o transporte da produção. No Ceará, do século XVIII até meados do século XX, Aracati e Camocim abrigavam os principais escoadouros da produção cearense. O declínio desses portos ocorreu com a centralização da atividade no Porto do Mucuripe, estabelecendo a primazia exportadora de Fortaleza.
Antes disso, porém, era nos portos do Aracati e Camocim que se embarcavam os produtos da terra (carne de charque, algodão, cera de carnaúba e café) e por onde chegavam os demais víveres e os artigos de luxo dos barões e grandes comerciantes da época. A elite interiorana dotava cidades como Aracati, Camocim, Acaraú, Icó, Granja e Sobral de teatros, clubes e casarios opulentos, onde as famílias adotavam, em pleno sertão, o vestuário, a porcelana, a mobília e os modos da Europa.
Charqueadas
No século XVIII, quando o Ceará ainda era ligado administrativamente à Pernambuco, a principal atividade naquela região de domínio colonial era a pecuária, destinada à produção de couro e carne, que era salgada e seca nas charqueadas. Os rios Jaguaribe e Acaraú, que antes orientaram as incursões dos primeiros colonizadores no sertão, agora abrigavam na foz de seus cursos (onde há o encontro do rio com o mar) os portos por onde a riqueza era levada para os centros consumidores.
De acordo com o livro "Caravelas, Jangadas e Navios", do jornalista Rodolfo Espínola, o transporte do charque era inicialmente feito em sumacas, um tipo de navio à vela que levava a "carne do Ceará" para os portos da Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio de Janeiro. A Europa era o principal importador do couro cearense, chegando a receber, antes de 1790, uma média de 30 mil couros somente do Porto de Aracati.
"Nos séculos XVIII e XIX, os portos de Aracati e Camocim eram muito precários. Os navios ficavam ao largo, em mar aberto, e o transporte era feito por pequenas embarcações chamadas de alvarengas. Invariavelmente, os passageiros acabavam se molhando e alguns fardos de mercadorias se estragavam ou caíam no mar", explica o autor do livro.
A charqueada, no entanto, era comprometida pelas oscilações climáticas da região. Citando o historiador Gustavo Barroso, Rodolfo Espínola lembra que enquanto em 1789 a enchente tomou as ruas principais do Aracati, destruindo os galpões de produção, a seca de 1790 a 1794 dizimou os rebanhos de fome e sede, levando as charqueadas à decadência e dando lugar para o algodão.
"Ouro branco"
Segundo anota Rodolfo Espínola, as primeiras lavouras algodoeiras do Ceará datam de 1777, quando os portugueses Antônio José Moreira Gomes, Felipe Lourenço e Gregório Álvares Pontes começaram o plantio na região onde hoje está localizada Uruburetama. Com a Revolução Industrial na Europa e a Independência dos Estados Unidos, no fim do século XVIII, a produção e comercialização do algodão cearense começou a ganhar impulso.
No Interior, favorecida pela localização, as cidades de Sobral e Acaraú passaram a ser uma das rotas principais para o escoamento do chamado "ouro branco", que era despachado principalmente pelo Porto de Camocim. "O auge da produção e comércio do algodão cearense foi entre os anos de 1861 e 1865, durante a Guerra de Secessão, quando a cotonicultura nos Estados Unidos foi praticamente abandonada em favor do esforço de batalha", ressalta Rodolfo Espínola.
Em 1882, locomotivas importadas da Filadélfia (EUA) começaram a percorrer a estrada de ferro que ligava Sobral a Camocim, passando por Granja, dinamizando ainda mais a atividade algodoeira na Região Norte. Até o fim do século XIX, a linha de trem seguiria ligando Camocim a cidades como Ipu e Crateús, até chegar ao Piauí, já no século XX. A atividade entraria em declínio pela falta de investimentos para prevenir a incidência de pragas e melhorar a produtividade do algodão cearense, que voltou a sofrer a concorrência do produto americano.
Centralização
O golpe final para o abandono definitivo dos portos do Aracati e Camocim ocorreu no fim do século XIX, quando foi iniciada a construção da estrada de ferro que ligaria Fortaleza a Baturité. "Havia o interesse de empresários em se chegar às regiões Central e Sul, para poder receber produtos como algodão, cera de carnaúba e borracha e despachá-los por Fortaleza. Além disso, havia a cultura do café, que despontava no Maciço de Baturité", diz o autor.
Fortaleza, capital da província, já tinha certa hegemonia político-econômica, que foi consolidada com a centralização da exportação portuária na Capital, primeiro pelas pontes e, posteriormente, pelo Porto do Mucuripe, no fim dos anos 1930. A falta de investimento nos portos, que outrora embarcavam a riqueza do Ceará, fez com que estes se esvaziassem e perdessem sua força ao longo da primeira metade do século XX.

Fonte: Diário do Nordeste (CE)/Karoline Viana

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