Setor fumageiro demonstra interesse na ferrovia
Deputado Sérgio Moraes pretende trazer linha ferroviária para a região
O recente anúncio das obras e projetos previstos na segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do governo federal, trouxe uma boa notícia àqueles que sonham com uma ferrovia atravessando o País. O cronograma prevê a ampliação da linha Norte-Sul e a realização de um estudo para viabilizar a expansão da estrada de ferro até o Porto de Rio Grande. Mas há um problema: o projeto não contempla os vales do Rio Pardo e Taquari, que ficaram de fora do traçado. Diante disso, começa a surgir uma mobilização política e empresarial, cujo objetivo é fazer com que os tilhos também cortem a região.
A ideia de ligar os extremos do Brasil por meio do trem não é novidade. A construção da ferrovia Norte-Sul começou, na verdade, há 24 anos, com o então presidente José Sarney. Entretanto, minada por críticas ligadas aos custos – em um período onde mal se conseguia honrar a dívida externa – e por denúncias de corrupção em licitações, a construção da estrada de ferro se arrastou ao ritmo de 24 quilômetros por ano. Agora, com recursos do PAC 1 e a concessão administrativa à Vale do Rio Doce, o trecho de 720 quilômetros entre Açailândia (MA) e Palmas (TO) deverá estar pronto no meio do ano.
O PAC 1 também leva o crédito pela ligação entre Palmas e Anápolis (GO). A partir daí, deve ocorrer a ampliação da malha em 669 quilômetros – ao custo de R$ 2,7 bilhões – até Estrela do Oeste, no Noroeste do Estado de São Paulo. Depois, o PAC 2 deverá se encarregar de investir mais R$ 290 milhões para cobrir os 220 quilômetros até Panorama, ainda em São Paulo. É dali que os trilhos deverão seguir até Rio Grande, passando por Chapecó (SC), Caxias do Sul, Triunfo e Montenegro, conforme consta no traçado hoje previsto. Só no estudo deste trajeto deverão ser aplicados R$ 9 milhões.
Tentando encontrar formas de mudar a parte final desta rota, fazendo com que os trilhos passem pelos vales, lideranças políticas e empresariais estão dando início a uma mobilização. O primeiro passo será uma grande reunião, marcada para o próximo dia 19, em Venâncio Aires. A ideia partiu do deputado federal Sérgio Moraes (PTB), que acredita na possibilidade de mudança do traçado. “Como o projeto está em estudo, a hora é ideal para alterações. Mas a região precisa se unir. As lideranças devem mostrar seu peso, independente de cores partidárias”, sustenta.
Moraes defende que, de Caxias, a linha desca até o Vale do Taquari e depois ingresse, por Venâncio Aires e Santa Cruz, no Vale do Rio Pardo. Ele não descarta que a proposta cause certa indignação em Triunfo, onde existe o Pólo-Petroquímico, mas sustenta que a região dos vales tem mais argumentos. “Triunfo já está bem servida por uma ferrovia, não precisa de outra.”
Para o deputado, a passagem do trem também poderia vir acompanhada da implantação de um porto seco em Santa Cruz – ideia há anos discutida no município. Com tal unidade, despachos burocráticos de mercadorias poderiam ser feitos da cidade, que seria beneficiada com a arrecadação dos impostos. O porto também teria ligações rodoviárias.
LOGÍSTICA
Para Heron Moreira Begnis, professor de Economia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a sugestão de que a linha férrea passe pelos vales merece, no mínimo, ser estudada. Doutor em Agronegócio, Begnis explica que o trem costuma ser a melhor alternativa para o deslocamento da produção agrícola. “É um meio bastante apropriado para o transporte de grandes volumes de carga, como grãos, por longas distâncias. O trem consome bem menos e a manutenção das ferrovias é mais barata”, explica.
O professor ressalta também que a opção pelo transporte ferroviário favorece a redução dos congestionamentos e acidentes nas rodovias. Entretanto, acredita que só uma complexa análise poderia definir se a demanda compensaria uma ferrovia ou um ramal ferroviário na região dos vales. Deveriam ser levados em conta o volume da produção e os interesses logísticos da indústria. “Vale a pena estudar profundamente a questão”, defende Begnis. Ele adianta um detalhe positivo: o relevo plano da região Centro do Estado é bastante propício para uma linha férrea.
Fonte: Ricardo Düren
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