País enfrenta falta de área para armazenagem, de instalações e de mão de obra para liberação das mercadorias
Depois do estrangulamento do setor portuário, agora é a vez de os aeroportos sentirem os efeitos da falta de infraestrutura para o transporte de cargas. Os problemas são iguais aos dos portos: faltam áreas de armazenagem, instalações (câmaras refrigeradas) para produtos especiais e mão de obra suficiente para liberar as mercadorias dentro de padrões internacionais.
O resultado tem sido a ampliação do tempo de desembaraço dos produtos importados. Há casos em que a mercadoria demora mais para ser liberada em território nacional do que para sair do país de origem e chegar ao Brasil. “Esse problema prejudica não só o transporte aéreo, mas também a indústria, que perde velocidade na produção”, afirma o consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Allemander Pereira. Representantes do setor industrial temem que o problema se agrave ainda mais neste semestre, quando é esperado um aumento nas importações para atender ao Dia da Criança e ao Natal. A luz amarela já acendeu em aeroportos, como os de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, Confins, em Belo Horizonte, Salvador e Manaus.
Os primeiros sinais de estrangulamento surgiram em 2008, antes da crise mundial. Na época, alguns terminais já estavam operando acima da capacidade, conforme estudo feito da McKinsey&Company, a pedido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes). O trabalho mostrou que, na área de importação, Viracopos trabalhava com 140% da capacidade. Em exportação, Confins atingiu 130% e Salvador, 113%. Guarulhos estava em nível bastante elevado, de 84% (importação) e 78% (exportação). Com o arrefecimento da economia, os aeroportos passaram bem pelo ano de 2009. Mas o alívio durou pouco. Desde o início do ano, o volume de importações, que cresceu 41,5% até maio, tornou visível a fragilidade do transporte aéreo.
Em Manaus, onde está localizado um dos maiores polos industriais do País, o problema chegou ao limite, diz o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares de Manaus, Wilson Périco. Sem área suficiente para atender ao volume crescente, as mercadorias ficaram armazenadas no pátio, cobertas apenas por lonas. Para piorar, o número de pessoas para registrar e liberar os produtos não foi suficiente. “As cargas demoraram até 18 dias para serem liberadas”, afirma Périco. Segundo ele, a estimativa é que as empresas tiveram prejuízo de US$ 650 milhões entre fevereiro e maio.
O executivo afirma que o problema foi agravado pela Copa do Mundo, que ampliou a produção de TVs. “Mas teremos problemas a partir de setembro, se a Infraero (que administra os aeroportos) não fizer investimento em um terminal de cargas.”
Faltam áreas para construir novos terminais
Um dos grandes problemas dos principais aeroportos do País é a restrição de áreas para construir novos terminais de carga. É o que ocorre em Guarulhos e em Brasília, afirma o vice-presidente comercial e de planejamento da TAM, Paulo Castello Branco. Ele explica que a empresa tenta construir um grande terminal em Guarulhos, mas há falta de espaço.
Em Guarulhos, aeroporto que concentra 54% de toda carga aérea movimentada no País, faltam também câmaras refrigeradas. A pespectiva é de que a situação piore no segundo semestre. Em maio, Viracopos, em Campinas (SP), segundo maior aeroporto de cargas do País, já bateu seu recorde de
movimentação.
Salgado Filho terá ampliação
No Rio Grande do Sul, está em andamento a primeira parte da modernização do aeroporto Salgado Filho, que inclui o alargamento da pista de pouso e decolagem. A segunda etapa prevê a ampliação da pista de 2,2 mil para 3,2 mil metros. Pela programação da Infraero, a licitação deve ser concluída em outubro. O aeroporto também vai ganhar um novo terminal de carga (Teca), que terá 20 mil m2 e capacidade para processamento de 100 mil toneladas por ano.
Fonte: Jornal do Commercio (RS)
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