FLORIANÓPOLIS – As recentes manifestações de rua que tomaram o País não assustaram só o mundo político. Deixaram em alerta quem queria investir na infraestrutura do Brasil, bancando a construção de novas estradas e ferrovias. A suspensão de reajustes de pedágios, em São Paulo, ou o adiamento da cobrança de contratos já em vigor, como em Pernambuco, bem no auge da onda de protestos, fez os fundos de pensão nacionais concluírem não valer a pena investir em infraestrutura. Os fundos têm hoje R$ 12 bilhões para investir, dinheiro de milhões de brasileiros que sonham com uma aposentadoria tranquila. Mas dizem que, não importa a rentabilidade, é muito arriscado investir em ações como o programa federal de concessões da presidente Dilma Rousseff, que espera atrair R$ 133 bilhões para novas rodovias e ferrovias.
No ápice das manifestações, em junho, o governador tucano Geraldo Alckmin suspendeu o reajuste dos pedágios em São Paulo. Em Pernambuco, por coincidência ou não, também foi suspenso o início da cobrança nos acessos a Suape, o segundo atraso em um contrato de R$ 450 milhões em investimentos que já deveria ter pedágio desde 2011, quando foi assinado o contrato com a Concessionária Rota do Atlântico (CRA), que tem entre os acionistas a Odebrecht, o Fundo de Infraestrutura do FGTS, com recursos de trabalhadores de todo o Brasil, e a Invepar, sociedade entre a construtora OAS e os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef.
Os fundos são sempre cortejados para investir em infraestrutura devido à sua capacidade financeira. Hoje o patrimônio dessas entidades soma R$ 624 bilhões, dinheiro de trabalhadores do setores público e privado, a exemplo da Petrobras (Petros), Caixa Econômica Federal (Funcef) e Banco do Brasil (Previ).
A reação dos governos aos protestos acentuou a visão crítica das entidades sobre a área.
“Fundos de pensão têm que investir em áreas de baixo risco”, afirma José Mendonça, diretor presidente da Associação Brasileira das Entidades de Previdência Complementar (Abrapp). “Para mim, infraestrutura é de alto risco. (...) E, principalmente, não vejo segurança jurídica nos contratos de infraestrutura”, completa Mendonça.
“Somos administradores de responsabilidades por 20, 30, 40 anos”, explica o diretor executivo da Abrapp, Tarcisio Pimentel. A queixa sobra para programas de todas as cores partidárias. Vai das antigas concessões da época de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), às duas versões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos governos do PT, de Lula e Dilma, às parcerias público-privadas (PPPs), propagandeadas pelo mineiro Aécio Neves (PSDB) e pelo pernambucano Eduardo Campos (PSB). “PAC 1, PAC 2, PPP. (Provoca insegurança) Tudo o que for de infraestrutura”, afirma o diretor executivo da Abrapp, Tarcisio Pimentel.
“O governo precisa ter gestão na área financeira, se preocupar com o que vai fazer”, diz Mendonça.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)/Giovanni Sandes
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