Desde o início de agosto, o sistema de transporte de sal na costa do Rio Grande do Norte deixou de ser considerado atividade de cabotagem e se tornou atividade de navegação de apoio portuário, de acordo com resolução da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Representantes da agência, da Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), Marinha e do setor salineiro potiguar reuniram-se ontem na Federação das Indústrias do RN (Fiern) para avaliar a reclassificação. Para Tiago Pereira Lima, um dos diretores da Antaq, a mudança não causará prejuízo à produção salineira do estado. No sistema de cabotagem, as regras para as embarcações e tripulação são bem mais rígidas. Em consequência, os custos com transporte de sal são altos, repercutindo diretamente no preço do sal.
Com um sistema mais simplicado e menos caro, o sal produzido no Rio Grande do Norte voltará a ser competitivo dentro e fora do país, como explica Tiago Lima. Para atender as especificidades do sistema de cabotagem, as empresas gastavam muito dinheiro. Como o sal é considerado um produto de baixo valor no mercado, os donos das empresas aumentavam o preço do sal, para manter a margem de lucro, mas acabavam perdendo competitividade no exterior.
Segundo Tiago Lima, "o próprio governo estadual reconhece que o Terminal Salineiro de Areia Branca opera como uma extensão das salinas. O sal levado para o Porto-Ilha ainda não está vendido. Muitas vezes, leva até um mês para ser comercializado e embarcado nos navios de cabotagem ou de longo curso, para só então ser levado para os portos nacionais e internacionais. Portanto, a simples transferência das salinas para o terminal é uma característica da navegação de apoio portuário", esclarece.
Liderança
Com a mudança de classificação, os bancos poderão criar linhas de financiamento especiais, voltadas exclusivamente para produtores de sal. Com isso, as empresas vão conseguir mais recursos para contratar pessoal e investir em estrutura, como prevê José Pegado do Nascimento, controlador geral do estado.
Para Tiago Lima, da Antaq, a reclassificação do sistema de transporte de sal na costa do estado retoma a atividade salineira do Rio Grande do Norte, principal produtor de sal do Brasil. Dentro do país, o estado tem como principal adversário o sal produzido no Chile, que chega ao Brasil com preço bem abaixo da média.
Em maio, o Sindicato da Indústria da Extração de Sal (Siesal) e a Fiern denunciaram a prática ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). Isso porque o custo com frete pode representar mais de 50% do preço final do produto. Entretanto, segundo a denúncia, as empresas chilenas insistem em praticar o valor do frete semelhante aos das empresas nacionais, mesmo tendo que percorrer uma distância três vezes maior.
Fique por dentro
O que é o Terminal Salineiro de Areia Branca?
O Terminal Salineiro de Areia Branca, também conhecido como Porto-Ilha, é responsável pelo embarque do sal produzido nas salinas de Macau, Galinhos, Grossos, Mossoró e Areia Branca destinado ao abastecimento do mercado nacional, especificamente à industria química. A transferência do sal das salinas para o Porto-Ilha é realizada através de barcaças operacionalizadas pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern) e empresas privadas. A média diária de transferência é de 7 mil toneladas por barcaça, obedecendo as condições de marés. O sal fica estocado no pátio que tem capacidade para armazenar até 100 mil toneladas, em sistema de pilha única. O sal pode ser armazenado na ilha ou lançado diretamente na esteira transportadora para carregamento no navio. O sal colocado na esteira faz o percurso de 432 metros até o carregador, sendo pesado ao longo da viagem e lançado nos porões do navio a uma velocidade de até 1.600 toneladas por hora.
Onde está localizado?
A estrutura está fincada em mar aberto, distante cerca de14km da costa, a 26km da cidade de Areia Branca (RN).
Saiba mais
O Terminal Salineiro de Areia Branca foi inaugurado em 1º de março de 1974. Porém sua primeira operação ocorreu em 4 de setembro de 1974. Construído de aço em alto mar, com aproximadamente 15 mil metros quadrados, passou a ser o principal ponto de escoamento do sal produzido no Rio Grande do Norte, que representa praticamente o total do sal produzido no País. O projeto de engenharia é da empresa americana Soros Associates Consulting Engeneers e a construção custou US$ 35 milhões. Em 2007, o Porto-Ilha passou por uma obra de repotencialização. Antes atendia navios com capacidade de até 35 mil toneladas. Hoje, atende navios com capacidade de transportar até 75 mil toneladas. A repotencialização custou R$ 26 milhões, recursos provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Fonte: Diário de Natal/Andrielle Mendes
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