A crise na Petrobras impactou fortemente a economia pernambucana. Em 2014, as obras na Refinaria Abreu e Lima foram interrompidas faltando ainda 20% para sua conclusão: hoje processa 74 mil barris de óleo por dia, mas foi projetada para processar 230 mil. A medida gerou um efeito imediato sobre a cadeia de fornecedores, na construção civil, no emprego e no varejo. O governo estadual estima que foram retirados R$ 8,2 bilhões da economia do Estado no ano, agravando ainda mais o quadro adverso que todo o país enfrenta em 2015.
"Fomos obrigados a realizar um forte ajuste no orçamento, reduzir despesas e investimentos. Ao mesmo tempo estamos multiplicando esforços para atrair empreendimentos privados para gerar novas oportunidades de emprego e desenvolvimento", diz o governador Paulo Câmara (PSB).
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Nos últimos anos, Pernambuco parecia imune aos sinais de baixo dinamismo da economia brasileira, crescendo constantemente acima da média nacional. Em 2013, o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado avançou 3,5% e 2% em 2014. Mas no primeiro semestre de 2015, a queda no PIB foi de 1,1% e o desempenho vem se deteriorando rapidamente, o que levou o banco Santander a projetar uma retração de 4% no ano, a pior do Brasil. Entre janeiro e julho, foram reduzidos em 78,8 mil postos de trabalho formais, segundo dados do Ministério do Trabalho, sendo 47,8 mil apenas na indústria.
Além de Abreu e Lima, o Estaleiro Atlântico Sul, que rompeu contratos com a Petrobras e cortou metade de seu efetivo, e a construção civil, foram os principais responsáveis pelas dispensas. "Foi muito abrupto. O trabalho que fazíamos para realocar o pessoal das obras de Abreu e Lima, quando concluída, se tornou inviável", diz Ricardo Essinger, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe).
Essinger diz que a não conclusão de obras federais importantes amplia o clima de pessimismo. Uma dessas obras é a ferrovia Transnordestina, que ligará o cerrado do Piauí aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. As obras iniciadas em 2006 estão paradas no trecho pernambucano. No Estado, a ferrovia é vista como vital para dar competitividade às indústrias de gesso, à avicultura e suinocultura, além de ser uma possibilidade de escoamento de combustíveis da refinaria.
Outra obra esperada é a construção do Arco Metropolitano, que uniria por rodovia o norte e o sul do Estado, sem a necessidade de atravessar as cidades do Grande Recife. Importante, por exemplo, para levar a produção das indústrias que se instalam em Goiana, como a Jeep, para o porto de Suape. A obra foi incluída no programa de concessões federais. Outra preocupação é a fragilidade energética, muito dependente da hidrelétrica de Sobradinho, que encontra-se com seus reservatórios em seu nível histórico mais baixo.
Por todas essas circunstâncias, Essinger afirma que o governo do Estado não deveria ter aumentado neste ano a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). "Vai aumentar custos e retirar competitividade do setor produtivo, em um momento difícil", diz. Sob a ótica do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo, a medida é tida como necessária. O governador Paulo Câmara está empenhado em um ajuste das contas estaduais.
O orçamento de investimentos, que nos últimos dois anos rondava R$ 3 bilhões, foi reduzido para R$ 1 bilhão em 2015. Diante da queda de arrecadação, em agosto o governo anunciou um corte de R$ 1 bilhão em suas despesas. Por outro lado, passou a se empenhar em buscar receitas. O aumento do ICMS e do Imposto sobre propriedade de Veículos Automotores (IPVA) devem gerar uma receita extra de R$ 500 milhões em 2016, mesma quantia esperada com a venda da folha de pagamento do funcionalismo. Além disso, um inventário dos diversos ativos do Estado, de veículos a imóveis, está sendo concluído, para a posterior venda dos mesmos. "Estamos empenhados em passar 2016 sem déficit e com capacidade de investir em ações prioritárias", diz Câmara.
Saúde, educação e melhoria na estrutura presidiária estão entre as prioridades listadas por Câmara. A principal ação, para qual são destinados 30% dos investimentos do Estado, são as obras em infraestrutura hídrica. "Estamos no sexto ano de seca", diz o governador.
Ao mesmo tempo, o governo estadual trabalha para atrair grandes empresas para o Estado, ampliando receitas e oportunidades de emprego e renda. A estratégia de Pernambuco é criar polos setoriais e adensar a cadeia produtiva. Dois exemplos recentes são a instalação da Jeep em Goiana, que levou fornecedores de autopeças a investir na região, e o polo cervejeiro que já conta com fábricas da Ambev, Petrópolis e Brasil Kirin, em Itapissuma e Igarassu. A grande expectativa no Estado, porém, é a possível retomada das obras em Abreu e Lima, prevista no plano de investimento da Petrobras até 2019. Os investimentos necessários são de US$ 1,4 bilhão. "Cada real investido na refinaria, incrementa em R$ 4 a economia do Estado", diz o governador.
Fonte: Valor Econômico/Domingos Zaparolli | Para o Valor, de São Paulo