MARCONDES MACIEL
Da Reportagem
Os números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram a avalanche de grãos em Mato Grosso. Só este ano são 18,96 milhões de toneladas – 1 milhão a mais que na safra anterior – apenas com a soja. Considerando as demais culturas, a produção chegará a 28,44 milhões de toneladas. Para 2020, a previsão é de que a safra alcance 50 milhões de toneladas.
O volume da safra, contudo, esbarra no planejamento do Estado, que carece de infraestrutura em áreas estratégicas do agronegócio, como transporte e armazenamento.
“Sem uma logística adequada de transporte não podemos falar em superprodução”, adverte o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Rui Ottoni Prado.
Segundo ele, os estudos prevendo o crescimento da safra levam em conta o aumento de produtividade e área. “Mas antes de pensarmos em expansão de área temos de resolver o problema da logística, que é muito sério e vem consumindo a renda do produtor nos últimos anos”.
Entre as ações necessárias para equacionar este problema ele menciona a construção e melhoria de rodovias no Estado - “temos de concluir imediatamente o asfaltamento da BR-163 (Cuiabá-Santarém)” – e investimentos em hidrovia e ferrovia, principalmente neste último modal, que pode reduzir em até 50% os custos do frete até os portos exportadores. “Temos de levar os trilhos à região de Lucas do Rio Verde, Campo Novo e Sapezal e reativarmos o projeto da hidrovia Teles Pires-Tapajós”.
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, é preciso resolver primeiro o problema da logística “para darmos suporte a esta superprodução. Se não houver o equacionamento deste problema, dificilmente os números [de crescimento] serão confirmados”.
Os custos do frete, segundo ele, fazem o produto ficar mais caro, perdendo competitividade no mercado e gerando perda de renda ao produtor. “Precisamos implantar uma logística forte e alicerçada no projeto intermodal de transporte rodovia-ferrovia-hidrovia. Se fizermos isso vamos expandir além do previsto”.
SEM CONDIÇÕES - Silveira diz que Mato Grosso já está com a “estrutura estrangulada”, com frete caro e dificuldades de armazenamento. “Todo ano a história se repete na época da safra. Temos produção, mas não dispomos de uma infraestrutura de transporte e armazenamento que atenda com eficiência aos produtores”.
O maior prejuízo, na avaliação da Aprosoja/MT, é provocado pelos preços do frete. “Perdemos anualmente cerca de R$ 1 bilhão só para transportar a safra de soja. Imaginem se considerarmos outras culturas que também passam pelo mesmo drama da logística”.
Estudos recentes apontam que nesta safra os preços chegaram a oscilar até 15%, em Mato Grosso, caso de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá e a mais de 2 mil quilômetros dos principais portos exportadores). Segundo Rui Prado, os produtores dessa região chegam a desembolsar R$ 220 por tonelada de soja até ao porto de Santos (SP) ou Paranaguá (PR).
De acordo com os produtores, os preços do frete variam de acordo com o câmbio. Dólar baixo prejudica, principalmente, àqueles que estão localizados em regiões mais distantes dos portos de escoamento, como Sorriso, Campo Novo, Sapezal e Campos de Júlio.
Os especialistas lembram que com frete em real e a formação de preço em dólar, quanto mais fortalecido o real frente ao dólar, pior para a logística de Mato Grosso e para o frete. Segundo os produtores, o real valorizado é muito ruim para a logística.
O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), que faz levantamentos periódicos do setor no Estado, diz que é normal, nesta época do ano – colheita – os preços do frete aumentarem. Entretanto, este ano a entidade já detecta uma maior cotação em relação aos anos anteriores, superando em 14% a média de preços no mês de janeiro de 2010. (fonte: Diário de Cuiabá)
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