A Operação Dallas da Polícia Federal (PF), que revelou a ação de um quadrilha em desvios de carga e sonegação fiscal no Porto de Paranaguá, não deve impactar diretamente nos custos de operação do terminal paranaense. Isso porque a sucessão de problemas dos últimos anos já teria sido “precificada” pelo mercado internacional.
Segundo especialistas, a falta de dragagem do Canal da Galheta, as restrições à navegação em função do assoreamento, as denúncias de importadores de diferenças no volume de carga nos navios – comprovadas agora pela Operação Dallas – mancharam a imagem do porto e afastaram armadores internacionais, que passaram a dar preferência para outros terminais do país. E os que continuaram a operar em Paranaguá passaram a exigir maiores descontos no preço dos produtos, num custo que foi repassado ao produtores.
Investigação é chance para resgatar confiança
“Essa imagem já foi afetada no passado, não é de hoje”, afirma o presidente do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado do Paraná (Sindapar), Victor Pinto, que há 25 anos atua no porto. Segundo ele, há cerca de sete anos os importadores vêm reclamando da diferença entre o volume da carga aferida em terra e a desembarcada nos destinos. “Esse assunto já era discutido internacionalmente e vinha acontecendo sucessivamente”, diz. Com isso, aponta, Paranaguá foi perdendo espaço em relação a outros terminais do país.
Perdas
Elizabeth Milla Gouveia, gerente regional do Grupo Porto, empresa de agenciamentos marítimos e operadora portuária, confirma que os frequentes problemas envolvendo o Porto de Paranaguá resultaram na perda de negócios, não apenas no setor graneleiro. Ela cita o exemplo de um cliente de cargas secas e líquidas que há dois anos passou a operar em Santos, por causa da demora na atracagem, do custo de operação e das dificuldades de acesso a Paranaguá. “Recentemente consegui convencê-lo a vir para cá novamente. Temos uma operação agendada para esta semana e um outro contrato para março”, afirma.
Segundo Elizabeth, o início da dragagem dos berços de atracação, marcada para começar depois de amanhã, deu uma injeção de otimismo nos operadores. “Haverá um custo de US$ 18 mil ao dia, já que alguns navios terão de esperar até 15 dias, em vez de 7, até o término da dragagem. Mas ao menos isso passa uma sensação de otimismo. Se o novo governo não resolver a situação, tendo em vista os próprios escândalos, a operação no porto ficará inviável.”
Sem credibilidade
Para o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Castanho Teixeira Mendes, a credibilidade do porto já estava afetada antes mesmo de a operação da PF vir à tona. “O Brasil vinha perdendo credibilidade como exportador confiável de soja, óleos e farelo de maneira geral. Já havia reflexos nos preços, com os exportadores pedindo descontos em função de uma série de problemas, como a falta de dragagem e as diferenças de peso”, afirma. “Em qualquer porto exportador do mundo a regra é: o peso que sai dali tem de chegar integralmente ao seu destino. Não pode haver diferenças grandes, acima de 1%, como chegou a ocorrer em Paranaguá. Houve casos gritantes e recorrentes, com diferenças frequentemente passando de 2%”, explica.
Segundo Mendes, é praticamente impossível calcular os prejuízos. Para ele, as consequências dos problemas do terminal estiveram próximas de tomar proporções ainda maiores. “Se você pega um importador de peso, como a China, que já havia apresentado queixas veladas sobre a diferença de peso nas cargas, e ele resolve fazer um embargo, isso pode ser catastrófico para a economia do país. É uma coisa extremamente séria”, aponta.
Os produtos exportados pelos representados da Anec totalizam US$ 29 bilhões anualmente, e figuram como o item de maior peso na balança comercial brasileira. “Perder a credibilidade como exportador traz um prejuízo incalculável, que demora anos para ser reparado”, afirma.
Procurada para se pronunciar sobre o assunto, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) preferiu não se pronunciar. “A situação é muito prematura e [a Appa] não tem como mensurar como a situação pode prejudicar a imagem do porto, portanto não vai se pronunciar”, informou a autarquia, por meio da assessoria.
Fonte: Gazeta do Povo/Alexandre Costa Nascimento e Carlos Guimarães Filho
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