O engenheiro civil Airton Vidal Maron trabalha na Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina há 31 anos e já ocupou diferentes cargos na autarquia. Em janeiro, com a troca de governo, passou a superintendente e, com a experiência acumulada, assumiu falando da obrigação de não errar. De lá para cá, ele tem visitado Brasília com frequência, atrás de recursos para investimentos federais, ao mesmo tempo em que localmente sofre críticas pela rotineira formação de filas de caminhões carregados com soja e precisa buscar solução para conter ações trabalhistas, que classifica como uma das principais mazelas históricas com passivo estimado em R$ 350 milhões.
"Tenho trabalhado bastante", afirma ele, que diz não conseguir mais tempo para atividades físicas. Mesmo com tanta agitação inicial, os resultados não serão imediatos. Na semana passada, ele apresentou um pré-plano de investimentos orçado em R$ 2 bilhões para os próximos quatro anos. Nele está prevista, entre outras coisas, a ampliação dos atuais 20 para 32 berços de atracação. Um dos objetivos principais é a reestruturação do corredor de exportação de grãos, com a substituição dos três berços atuais para um sistema de píers para a atracação de quatro navios, além da compra de equipamentos mais modernos que os usados atualmente no embarque. Esse projeto está orçado em R$ 670 milhões. Os berços usados hoje serão destinados a outras cargas, como fertilizantes e contêineres. Ao todo estão previstas nove obras, para elevar a capacidade de movimentação de cargas de 40 para 70 milhões de toneladas por ano.
O que ele não conseguir em Brasília, vai tentar com a iniciativa privada, por meio de parcerias. "É abrir a boca e a turma vem. Está cheio de gente querendo investir no porto." Questionado sobre quem são esses interessados, ele limita-se a responder que são "os maiores do mundo" e "de todas as áreas". O porto tem caixa de R$ 440 milhões, que Maron não pretende usar para ampliações, mas para fazer dragagens de manutenção e para honrar obrigações, como as ações trabalhistas. "Foi criada uma indústria de multas na cidade e nosso objetivo é conter e resolver o problema." Em 2010, as despesas com as ações somaram R$ 65 milhões. Entre os motivos estão desvios de função de trabalhadores.
Logo que assumiu, Maron recebeu uma ordem do governador. "Ele quer que toda carga paranaense seja escoada por Paranaguá", conta, acrescentando que cerca de 30% da carga do Estado atualmente sai por outros portos. Os motivos são vários e incluem o fato de que foram seis anos sem dragagem no canal de acesso e a resistência do governo anterior ao embarque de grãos transgênicos. Hoje, 95% da soja que chega ao terminal foi geneticamente modificada. O engenheiro garante que não teria entrado na briga dos transgênicos e nem teria tentado comprar uma draga, como aconteceu na gestão de Eduardo Requião, irmão do ex-governador Roberto Requião (PMDB).
Sobre a fila de caminhões, não há promessa de que ela acabará, mas de que o porto ficará mais eficiente. Maron cita que a estrutura atual permite o embarque de grãos em três navios simultaneamente. Se chove e o embarque não é feito durante 24 horas, forma-se uma fila de 100 quilômetros, diz. Recentemente passou a ser estudada a possibilidade de cobertura da área de embarque, mas ele argumenta tratar-se de solução nova e cara (US$ 60 milhões por berço) e que ainda depende de análises.
Para a safra que vem, a intenção é aumentar em 30% a capacidade de embarque do corredor de exportação, com aportes de R$ 15 milhões - em vez das atuais 1,5 mil toneladas de grãos por hora, as esteiras passarão a levar 2 mil toneladas por hora. Antes de começar as obras, no entanto, vai ser preciso resolver outra pendência. Em 2010, o porto chegou a ser interditado pelo Ibama por não cumprir exigências ambientais e de segurança. Maron diz que o assunto estará resolvido em 30 dias. Sobre denúncias recentes de desvios de cargas, ele responde que é assunto para a Polícia Federal.
Em relação a movimentação de automóveis, a Renault decidiu fazer experiência em outro porto, Vitória (ES), mas ele garante que há outras montadoras interessadas. Até abril, o terminal movimentou 40.017 veículos, 40% mais que em igual período de 2010 - queda de 23% na exportação e aumento de 172% na importação. A movimentação de veículos ajudou a elevar a receita cambial de Paranaguá nos últimos anos, assim como a valorização das commodities agrícolas. Mas o porto perdeu espaço em grãos para outros terminais de São Paulo e Santa Catarina nos últimos anos. "O objetivo é recuperar o tempo perdido", resume Maron
Fonte: Valor Econômico/Marli Lima | De Curitiba
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