O excesso da produção de soja no país está gerando um problema no mínimo curioso. Devido ao período prolongado em que os grãos ficam armazenados, a cultura passou a ser vítima de pragas que eram mais comuns em grãos de milho, trigo, arroz, feijão, entre outros. Se antes a soja ficava no máximo três meses armazenada, hoje ela chega a ficar quase um ano. Esse detalhe fez com que insetos migrassem de outras culturas para soja. Com o ataque destas pragas, produtores, proprietários de armazéns e pesquisadores começam a temer que a qualidade do produto caia por terra, influenciando as exportações.
De acordo com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) - Soja, Irineu Lorini, um levantamento mostrou a presença de oito espécies de insetos que estão atacando a soja em unidades de armazenagem no Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. "Esse estudo compreendeu o período de 2008 e 2009 e foi apresentado recentemente em Brasília, durante a XXXI Reunião de Pesquisa de Soja da Região Central do Brasil. O que evidencia o aparecimento de insetos é, principalmente, o fato de quase dobrarmos a produção de soja, passando de 80 milhões de toneladas para 140 milhões de toneladas em 10 anos. Além disso, não houve o aumento de tantos armazéns e com o excesso de tempo armazenado, fez com que estas pragas tivessem alimento o ano inteiro, se multiplicando mais rapidamente", revela.
O pesquisador conta que a preocupação maior é com o besouro da espécie Lasioderma serricorne, conhecido também como "besouro do tabaco". Ele revela que o pequeno inseto, com tamanho entre 2 a 3 milímetros, acabou se adaptando bem à soja. "Essa praga só atacava o fumo armazenado. Infelizmente ele se adaptou bem e começou a atacar a soja com certa voracidade. O potencial destrutivo é grande, ainda que sua presença na soja seja pequena. Precisamos estudar mais este besouro, uma vez que há pouco conhecimento sobre ele", lamenta.
Lorini fala também que ainda não é possível mensurar as perdas causadas pelo ataque deste besouro. "Testes em laboratórios demonstraram uma preocupação com o ataque do Lasioderma. Por enquanto, precisaremos fazer mais testes e pesquisas para poder determinar o quanto será nocivo a presença deste inseto nas unidades de armazenamento de grãos", afirma.
Outro problema relacionado ao aparecimento destes insetos na soja está com a qualidade do produto. Se não encontrarem uma saída para esta situação, o pesquisador teme que o Brasil perca espaço no cenário mundial. "Se começarmos a enviar lotes de soja de qualidade inferior para a China, nosso maior comprador, é possível que eles comecem a barrar o produto. Isso seria muito ruim para quem trabalha com a soja, pois este problema vai acarretar em perda de dinheiro e de tempo", alerta.
Segundo Lorini, por enquanto só existe um produto registrado para o controle de pragas, à base de gás fosfina. "Este material vai promover o expurgo dos insetos, contudo, vai acarretar em mais gastos também. O objetivo é fazer um trabalho de prevenção que possa reduzir o número de insetos ou, melhor ainda, garantir com que eles não apareçam. A recomendação dada pela Embrapa Soja é a de higienizar as estruturas de armazenagem, máquinas e equipamentos. Mas estamos em busca de mais caminhos para solucionar este problema", garante.
Outros grãos
Embora a presença de insetos na armazenagem da soja seja algo novo, o mesmo não se aplica para outras culturas. De acordo com o engenheiro agrônomo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/PR), Leônidas Toledo Kaminski, algumas culturas são mais vulneráveis. "Todos os grãos armazenados são suscetíveis ao ataque de pragas, entretanto no Paraná, o trigo, o milho e o feijão são os produtos nos quais se verifica maiores danos", informa. Ele conta também que outras pragas, além do besouro, costumam dar dor-de-cabeça para os armazéns. "As pragas que atacam os grãos armazenados são específicas de cada produto, sendo as principais pertencentes às ordens coleóptera (besouros) e lepidóptera (borboletas), combatidas principalmente com o expurgo. Ratos também são causadores de perdas em produtos armazenados, contra os quais são utilizados raticidas".
Assim como no caso da soja, o engenheiro agrônomo conta que é complicado saber o tamanho do prejuízo após o ataque destas pragas. "Os danos causados pelas pragas em grãos armazenados são de difícil mensuração e variam conforme a agressividade da praga, o tipo de produto e sua variedade (maior ou menor resistência), condições técnicas do armazém, tratamentos e manejo do produto, higienização das instalações, etc. As pragas, se não controladas, provocam também perdas qualitativas, reduzindo o valor comercial dos grãos", garante.
Fonte: O Estado do Paraná/Flávio Laginski
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