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Quip se preocupa com perfil adequado de trabalhadores

Quip se preocupa com perfil adequado de trabalhadores

Cláudia Borges

THIAGO PICCOLI/DIVULGAÇÃO/JC
Thomé cuida dos fatores climáticos para ganhar em produtividade
Thomé cuida dos fatores climáticos para ganhar em produtividade

Com a mesma intensidade e velocidade que as obras no pólo naval de Rio Grande vêm crescendo, aumentam os desafios. Um dos principais é a formação de mão de obra qualificada para trabalhar na montagem das plataformas e navios que serão construídos no porto do Rio Grande. A convivência com as mudanças climáticas, típicas do Estado, e os prazos para a conclusão das encomendas feitas pela Petrobras, cada vez mais exíguos, também são barreiras que precisam ser enfrentadas. Mesmo com todas as dificuldades, as obras vão de vento em popa.

A experiência adquirida com a construção da primeira plataforma de petróleo em Rio Grande, a P-53, deu know-how à Quip.  Hoje, a empresa trabalha nos projetos da P-55 e da P-63 e espera o resultado das concorrências para a P-58 e a P-62, encomendadas pela Petrobras. Se vencer, a Quip pretende investir cerca de R$ 125 milhões na ampliação das instalações. Essas obras devem gerar seis mil postos de trabalho diretos e 18 mil indiretos.

Este crescimento, segundo o presidente do grupo Quip, Miguelangelo Thomé, só será possível com o investimento em qualificação da mão de obra. Para a P-53 foram treinados cerca de 200 profissionais. Agora,  o processo precisa ser reformulado. “O sistema de seleção dos profissionais escolheu pessoas com nível técnico muito elevado, mas elas não conseguem manter a concentração absoluta. Estas pessoas concorreram pelas vagas achando que seria o primeiro passo para ingressar na indústria e depois crescer. Agora a empresa quer focar a seleção na busca por pessoas com o perfil psicossocial mais adequado e com habilidade manual para vagas de soldadores, pintores e eletricistas.

Para a construção da P-55, a maior dificuldade será o levantamento de 16 mil toneladas. “Será o maior levantamento do mundo deste tipo”, afirma Thomé. Esta operação deve acontecer até dezembro de 2011, um ano antes do período usual para a construção de plataformas deste porte. “Também temos que garantir que 75% dos produtos usados na fabricação da plataforma sejam de produção nacional”, afirma.

A P-55, em construção no Estaleiro Rio Grande (dique seco), terá capacidade para produzir 180 mil barris de petróleo e quatro milhões de m3 de gás natural diários. A plataforma será instalada no Campo de Roncador, na Bacia de Campos (RJ) e deve começar a produzir no primeiro semestre de 2012. O outro projeto em desenvolvimento pela Quip é o da P-63, que será construída na área do Porto Novo. Thomé explica que esta plataforma, do tipo FPSO, que é um navio convertido, é mais parecida com a P-53.  A estrutura, que irá operar no Campo de Papa Terra, na Bacia de Campos, terá capacidade de produção de 150 mil barris por dia e poderá estocar até 1,4 milhão de barris e gerar 90 megawatts de energia por hora. A obra é orçada em US$ 1,3 bilhão e será executada em parceria com a empresa norueguesa BW Offshore.

O projeto da P-63 possui dois diferenciais - o prazo de construção de 35 meses, 13 meses menos que o normal para o tipo de equipamento, e o acordo da Petrobras, que prevê a operação pela Quip por 30 meses antes da entrega. A conclusão da P-63 está prevista para o final de 2012. Thomé afirma que, graças à experiência obtida com a construção da P-53, o guindaste de terra será substituído por um de mar para não atrapalhar as operações portuárias. E para evitar o problema com os ventos e com a maré, que atrasou em um mês a chegada da P-53 ao cais, o casco da P-63 terá motor e leme. “Também aprendemos que temos de nos proteger dos fatores climáticos. Por isso nossas instalações estão sendo construídas com coberturas, proteções e até portas”, afirma Thomé.
Wilson, Sons vai abrir escola antes da operação de estaleiro em Rio Grande

MARCELO G. RIBEIRO/JC
Souza forma operários para o futuro estaleiro
Souza forma operários para o futuro estaleiro
O comprometimento dos profissionais que vão trabalhar na construção das plataformas e embarcações no porto do Rio Grande é tão preocupante quanto a disponibilidade e formação de pessoal capacitado, segundo o diretor da Wilson, Sons Estaleiros, Adalberto Luiz Renaux de Souza. É por isso, que a primeiro investimento previsto pela empresa antes de iniciar a construção do seu novo estaleiro, em Rio Grande, será uma escola para formação e qualificação de mão de obra. O objetivo é aproveitar o pessoal local, sem precisar trazer profissionais de Santos (SP), onde a Wilson, Sons já possui um estaleiro. Souza destaca que em função da existência de universidades e faculdades em Rio Grande e proximidades, não há carência de profissionais de nível superior, mas sim de operários especializados. “Queremos formar soldadores, montadores, pintores, encanadores”, afirma Souza.

O novo estaleiro da Wilson, Sons, que será erguido em Rio Grande, numa área de 120 mil m2, ao lado do Tecon, demandará investimentos de  US$ 140 milhões. Na estrutura serão construídas embarcações de apoio à exploração de petróleo e gás tipo PSV - Platform Supply Vessel e AHTS - Anchor Handling Tug Supply, rebocadores portuários e oceânicos. O projeto ainda compreende um dique flutuante para lançamento dessas embarcações. Os PSVs são embarcações menores, utilizadas para dar suporte às plataformas. Eles são responsáveis por levar alimentação à tripulação, equipamentos, óleo diesel, cimento usado na perfuração dos poços, tubulações e água potável, para consumo humano e para usar nas operações de perfuração.

O estaleiro será construído ao lado do Terminal de Contêineres (Tecon) e, para dar início às obras, a empresa aguarda a liberação de construção. Ele será semelhante ao estaleiro que a empresa possui em Santos, porém será seis vezes maior. “Seguiremos em Rio Grande a mesma filosofia de Santos. Será um estaleiro montador. Adotamos essa linha pela área pequena em São Paulo, mas agora vamos seguir com o mesmo processo que funciona bem”, afirma Souza.

Em Rio Grande, o estaleiro funcionará como uma linha de montagem, onde os sub-blocos são agregados e depois recebem acabamento como janelas, acessórios e pintura. Em seguida estas partes serão montadas em um dique flutuante. A primeira etapa da obra do estaleiro terá uma duração entre 18 e 24 meses. Nessa primeira fase do projeto, o estaleiro terá capacidade de gerar cerca de 600 postos de trabalho. Em plena capacidade a estimativa é a criação de até 2 mil empregos.

A estimativa de capacidade de produção anual é de até oito embarcações de apoio a plataformas de petróleo, o que equivale ao consumo de 16 mil toneladas de aço no período. Em junho de 2011 deve ser iniciada a construção da primeira embarcação no estaleiro. O navio do tipo PSV terá capacidade para o transporte de quatro a cinco mil toneladas de carga e deverá ser usado pelo próprio grupo a partir de 2012.
Engevix quer construir navios sonda

A Engevix Engenharia também pretende ampliar as operações de construção de embarcações, seguindo a mesma linha da Quip e da Wilson, Sons. A Engevix, que juntamente com a Fundação dos Funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef), adquiriu em junho deste ano as ações da WTorre ERG Empreendimentos Navais e Portuários (WTorre ERG) - detentora do Estaleiro Rio Grande, da WTorre Óleo e Gás Construções Navais (WTorre O&G), e das áreas vizinhas ao Estaleiro - deve assumir o controle total do negócio a partir do dia 20 de setembro. “Assim passamos de locadores da área do Estaleiro Rio Grande para proprietários”, afirma o diretor executivo da Engevix, Gerson de Mello Almada.

A empresa, que é vencedora da licitação para a construção de oito cascos tipo FPSO (plataforma flutuante) orçados em US$ 3,5 bilhões, com entrega escalonada entre o final de 2012 e 2016, também focará esforços na construção de navios sonda para a perfuração de poços de petróleo.

A área construída do estaleiro no Super Porto rio-grandino é de 440 mil m2, onde está localizado o Dique Seco, o maior da América Latina, com 350 metros de comprimento, 133 metros de largura e uma profundidade de 14 metros abaixo do nível do mar. Para movimentar as plataformas há uma comporta que é aberta e permite a entrada de água. Em princípio, o local terá condições de receber duas embarcações simultaneamente, tanto para construção quanto para manutenção. De acordo com Almada, a empresa prepara um plano de produção de 10 mil  toneladas de aço por mês, o que permitirá ao site a construção de até três embarcações ao mesmo tempo.

Quanto à garantia de mão de obra, Almada destaca que a empresa está buscando soluções em conjunto com as prefeituras de Rio Grande e Pelotas para suprir a demanda de trabalhadores. “Vamos precisar de cerca de cinco mil profissionais e queremos recrutar este pessoal na região”, afirma Almada. “Vamos fazer um investimento alto na área habitacional. Precisamos dar condições para os profissionais se fixarem no local. A grande vantagem é que os gaúchos têm uma excelente formação educacional”, afirma o executivo.  O sistema viário também é uma preocupação. “As vias das cidades locais não estão preparadas para as grandes movimentações e carregamentos de suprimentos que serão feitos aqui ao longo dos próximos anos”, desabafa Almada.
Com maior calado e sinalização, melhora a operacionalidade de rio grande

Para acompanhar o desenvolvimento da indústria naval, o porto do Rio Grande, localizado na Metade Sul do Rio Grande do Sul, está permanentemente melhorando suas condições. “Está sendo um grande desafio nos adaptarmos à velocidade necessária, mas estamos conseguindo”, afirma o superintendente do porto, Jayme Ramis.

Ele lembra que o porto rio-grandino está entre os que mais receberam recursos do governo federal para as obras de dragagem e modernização das instalações. O governo do Estado também já investiu mais de R$ 150 milhões no porto. Para Ramis, o porto vive um momento histórico e nunca esteve tão bem cotado tanto em nível nacional como internacional. As obras de ampliação dos molhes da barra e a dragagem do canal permitiram a ampliação do calado de 40 pés para 42 pés.

Com isso, o porto pode receber navios carregados com até 66 mil toneladas de carga. Antes só era possível receber embarcações com 50 mil toneladas. Agora a administração do porto trabalha para a implantação da sinalização e balizamento. Segundo  Ramis, até março do ano que vem o novo sistema, que atualmente está em fase de licitação para a compra, deve estar operando. “A sinalização vai garantir que os navios acessem o porto com toda segurança”, afirma Ramis.

Com a sinalização implantada, o calado poderá ser ampliado para 47 pés, pois, depois de dragado, o canal interno possui 16 metros de profundidade e o canal externo, localizado depois dos molhes da barra, contém 18 metros de profundidade.Com este calado, os navios podem acessar o porto com até 80 mil toneladas de carga.

O modelo do novo sistema de monitoramento de tráfego marítimo que será utilizado no porto rio-grandino, conhecido como VTMS (Vessel Traffic Management System - Sistema de monitoramento e gerenciamento do tráfego de embarcações,  já é utilizado pelos principais portos do mundo. No Brasil, o porto será o primeiro a usar o VTMS servindo de referência para os demais portos brasileiros. Ao todo serão investidos pelo governo do Estado R$ 25 milhões. De acordo com a assessoria de imprensa do porto, o sistema prevê a implantação de 18 boias de sinalização náutica inteligentes, que reforçarão a sinalização atualmente existente.

A diferença é que os novos equipamentos possuem sensores inteligentes, sendo possível obter informações sobre as condições de vento, correntes, ondas e a sua localização. A intenção da administração do porto, afirma Ramis,  é criar um planejamento que contenha um zoneamento de áreas específicas para cada atividade na área portuária. “As empresas que estão se instalando aqui têm contratos de arrendamento para 10 anos, mas já trabalham num horizonte de 20 anos. Nossa ideia é desenvolvermos um plano para 30 anos”, destaca Ramis.

Fonte: Jornal do Commercio (RS)


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