RIO - Em mais um capítulo na polêmica em torno da construção de um píer em Y pela Companhia Docas do Rio de Janeiro perto do Armazém 2, a 500 metros do Píer Mauá, o secretário estadual de Ambiente, Carlos Minc, defendeu na segunda-feira a escolha de um outro ponto no Porto para a construção do novo atracadouro. Para ele, a estrutura e a consequente concentração de transatlânticos afetarão a revitalização da área, prejudicando a paisagem e a integração com duas instituições previstas para funcionar ali perto: o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio (MAR). A obra do píer, na região que vive a expectativa da derrubada do Elevado da Perimetral, já recebeu licença do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), mas o secretário lembrou que o órgão tem a competência de avaliar apenas a questão dos impactos ambientais, não urbanísticos e patrimoniais.
- Do ponto de vista estritamente ambiental, não há o que discutir, porque essa obra consiste em criar um braço num porto que já existe há muito tempo. Não é como o processo de licenciamento de um porto novo, que é algo complicadíssimo - explicou. - Mas toda licença atenta para o fato de que devem ser ouvidos também os órgãos de urbanismo e patrimônio. A prioridade do Porto hoje é a revitalização e a criação de um ambiente cultural integrado com a cidade. Esse píer em Y não se justifica nesse contexto e não ajuda na valorização paisagística e estética. Ele será quase uma Perimetral marítima.
Patrimônio histórico precisa dar licença
O secretário destacou ainda que foram destinados cerca de R$ 8 milhões do Fundo Estadual de Conservação Ambiental (Fecam), pela rubrica educação ambiental, para a construção do Museu do Amanhã:
- Como um dos financiadores do museu, tenho esperança na valorização cultural daquela área. Nossa expectativa é que a Companhia Docas arranje outra solução para esse píer. Conheço bem o processo de revitalização dos portos de cidades como Lisboa, Barcelona e Buenos Aires, e sei que pode ser diferente.
Marilene Ramos, presidente do Inea, também explicou que não há impedimento à construção do píer em termos ambientais e, por isso, a licença foi concedida. O Inea dispensou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) com base em resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente que não exigem esse levantamento para estruturas como o píer.
- A licença ambiental, no entanto, não exime a necessidade de ter as demais licenças, como a do patrimônio histórico - lembrou Marilene.
Apesar disso, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan-Rio) não foi consultado sobre a construção. No último dia 14, a superintendente do órgão, Cristina Lodi, determinou que se fizesse uma análise técnica detalhada do projeto do píer, prevista para ficar pronta em até 30 dias. O objetivo é avaliar o impacto da concentração de navios turísticos de grande porte, cuja altura pode chegar a 70 metros, na Zona Portuária, que abriga bens tombados como o Mosteiro de São Bento. Quando tomou conhecimento do projeto, o instituto chegou a informar que poderá embargar a obra se ficar comprovado que o píer e o paredão de navios podem interferir na visão do mosteiro.
Orçado em R$ 250 milhões, o novo atracadouro foi projetado para tentar resolver as dificuldades da Companhia Docas em oferecer um espaço confortável de desembarque para os turistas. Mas ele não tem sido visto como uma boa solução por arquitetos, urbanistas e pela própria prefeitura. Um dos problemas está ligado ao gabarito da área que, segundo o Iphan, é de 15 metros. Esse fator levou inclusive o arquiteto catalão Santiago Calatrava, autor do projeto do Museu do Amanhã, a fazer adaptações no desenho da futura construção.
A ideia inicial da Companhia Docas era instalar o píer perto do Armazém 6. Mas a empresa descartou a hipótese há cerca de dois anos, por constatar que o local não teria área de manobra suficiente para os navios. A companhia argumenta que o canal de navegação teria que ser deslocado, caso o píer ficasse no lugar original, muito mais do que será com a construção perto do Píer Mauá.
Fonte: Yahoo
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