Representantes de terminais portuários privados dialogaram sobre os desafios para inovação no setor de transportes. O diretor de tecnologia e inovação da Suzano, Fernando Bertolucci, avalia que o maior desafio para os empreendedores frente às transformações pelas quais o mundo passa não é tecnológico, e sim cultural. Ele citou estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que apontou a dificuldade para 43% das empresas entrevistadas conseguirem aplicar tecnologia em seus negócios, percentual que sobe para 57% quando a abordagem foi com empresas de pequeno porte.
O executivo defendeu que novas ideias devem surgir de todos os departamentos das empresas, e não somente da área de inovação. "Nossas organizações não enxergam por estarmos apegados a fazer o que sempre fizemos", apontou o diretor da Suzano durante painel sobre inovação no 6º Encontro ATP (Associação de Terminais Portuários Privados), que ocorreu na última quinta-feira (24), no Clube Naval, em Brasília. Na ocasião, Bertolucci falou na necessidade de pró-atividade e radar aguçado para identificar mudanças e estudar o que acontece nos portos, a fim de verificar quais as tecnologias e processos novos estão no horizonte. “Esse estado de alerta vai nos tornar mais eficientes e dar pró-atividade para as mudanças”, analisou.
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O diretor executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista, percebe que o setor de transportes tem histórico conservador e aos poucos vai se abrindo mais à inovação. Batista observa uma série de obstáculos no trato com governo devido à burocracia e à grande quantidade de órgãos anuentes, o que acaba por dificulta o diálogo. Para o diretor da CNT, o mundo vive um momento de transição energética, caminhando para redução gradativa do uso de energia fóssil e concretização de fontes mais limpas e baratas. Ele acredita que o futuro pode ser mais eficiente e ambientalmente melhor, porém é difícil prever onde esses processos vão chegar. “A única certeza que temos é que vai mudar e devemos estar atentos”, comentou.
Na abertura do evento, o diretor-presidente da ATP, Murillo Barbosa, recomendou que o setor não olhe somente para os próximos anos, mas para as próximas décadas. “Precisamos ter visão sistêmica dessas mudanças”, enfatizou Barbosa. Ele considera que a transformação do modelo de negócios do público para o privado e o conceito de TUP (terminal de uso privado) permitu mudanças no setor portuário brasileiro nas últimas décadas. Segundo Barbosa, os governos perceberam que precisavam de uma nova fórmula porque o porto público sozinho não era suficiente para suportar o crescimento do transporte de cargas brasileiro. Além do modelo operacional, ele enxerga que os desafios para alcançar eficiência e maiores índices de produtividade e geração de empregos passam pelo aperfeiçoamento da legislação.
Durante o painel inovação, a diretora executiva da ATP, Luciana Guerise, disse que a adaptação a essas transformações tecnológicas e conceituais tem velocidades diferentes para o empreendedor e para o governo. O professor e futurista, Tiago Mattos, explicou que a inovação pode ser a criação que demanda do regulador repensar processos já consolidados. “Quando o regulador ainda não conhece o que estamos fazendo, pode ser uma métrica de sucesso”, salientou o palestrante.
Mattos observa que a maioria das pessoas está vivendo de passado no tempo presente, presa a antigas amarras e pensamentos. “Quem não pensa sobre o futuro resolve o presente com as ferramentas do passado. Como fazer inovação apegado ao passado ou presente?”, questionou. Ele ponderou que é preciso buscar equilíbrio para não ser extremamente conservador em relação ao futuro, tampouco totalmente disruptivo. O especialista lembrou que é necessário um tempo de estudos e experimentações para que determinada solução se torne uma realidade, o que muitas vezes pode nem vir a acontecer.