O aquecimento da economia brasileira e dos investimentos em infra-estrutura está impulsionando o setor de transporte de cargas superpesadas, segmento também conhecido como Carga Projeto (itens cujo volume não é comportado em veículos tradicionais e demandam, muitas vezes, navios, pranchas, batedores e guindastes especiais). Assim como a demanda cresce, transportadores e proprietários das cargas devem redobrar suas precauções de forma a evitar prejuízos, que, neste segmento, tendem a ser maiores, pois os itens transportados costumam ter grande valor agregado e impacto nas cadeias de produção. O transporte de turbinas, motores, vagões, transformadores, pás eólicas são exemplos de Carga Projeto.
O cuidado nestas operações deve abranger a rota, carregamento, descarregamento, amarração, acondicionamento, proteção, movimentação, transporte rodoviário e marítimo. A Carga Projeto pode ser vista como um produto bruto e resistente, porém muitas vezes possui sistemas sensíveis dentro de sua fuselagem. A rota que o produto vai passar também é um assunto importante, pois as pontes podem não ser resistentes ao peso bruto total. Por exemplo, uma turbina de 100 tons somada ao peso do caminhão pode totalizar 250 tons. Neste caso, é fundamental checar se as pontes no trajeto suportam o peso do conjunto total (turbina e caminhão).
A operação de içamento, seja no carregamento ou descarregamento, de qualquer veículo transportador (marítimo ou rodoviário) é uma das operações mais delicadas para Cargas Projeto. O içamento de peças de grande volume e peso é importante, pois pode trazer grandes prejuízos financeiros, de equipamentos, carga e pessoas, em decorrência de um pequeno deslize do operador ou mesmo da montagem das gruas e acessórios. Neste caso, os equipamentos que dão suporte para grua, cabos, proteções, amarras e etc., devem ser desenhados, adequados e revisados em cada operação, ou seja, uma equipe de Engenharia de Riscos deve coordenar a aplicação de todas estas soluções.
Muitas vezes, o processo de içamento de peças grandes é bastante demorado, pois os operadores de guindaste e engenheiros de transporte devem ter cautela. Assim, recomenda-se que o centro de gravidade seja apontado nas peças transportadas, facilitando e deixando a operação mais segura. No caso do transporte marítimo, uma peça muito pesada deve ser estivada no fundo do porão do navio, devido a estabilidade da própria embarcação. Muitas peças podem ser transportadas no deque do navio (on deck), porém outras peças não devem ser transportadas sobre o deque
devido a exposição à água do mar e demais intempéries da viagem marítima.
O travamento das cargas dentro do navio é fundamental, pois o navio sofre bastante na viagem. As forças na viagem marítima são na aceleração, desaceleração, inclinação para todos os lados do barco (proa, popa, bombordo e estibordo). O mal tempo e ventos fortes também influenciam, de forma que as soluções de contenção de carga devem ser
fortes suficientes para agüentar as intempéries.
A seleção da empresa de navegação e do navio que será usado na Carga Projeto também é outro fator chave. Estatísticas de subscrição de transportes marítimos ou mesmo dos clubes de P&I (Clube de Seguros dos Armadores/Navios) indicam que embarcações com mais de 20 anos têm mais probabilidade de quebra, encalhe, varação, avaria grossa, etc.
Em terra, a Carga Projeto também precisa de transportadores especializados para cada tipo de produto. Assim, a seleção cautelosa de empresas especiais deve ser levada em conta antes da realização da sua contratação efetiva. Neste caso, a experiência comprovada em Carga Projeto pode trazer segurança para a logística deste tipo de transporte.
Além disso, o Detran (Departamento de Trânsito) e a ANTT (Associação Nacional do Transporte Terrestre) exigem a emissão da AET (Autorização Especial de Transporte) para cargas com altura ou dimensões excedentes. A transportadora especializada emite esta autorização especial antes do carregamento e deve mapear a altura das pontes que o conjunto deve passar por baixo. Muitas vezes a transportadora deve usar batedores para direcionar o comboio na rota, verificando também fios e cabos energizados que o produto pode eventualmente bater ou arrancar da via. Em casos especiais, a transportadora deve consultar a empresa de energia da rota solicitando o desligamento de alguns cabos durante a passagem do comboio.
Equipamentos antigos podem trazer riscos para as Cargas Projeto, como cabos não certificados, transportadores não especializados, gruas mal posicionadas, etc. Porém, o fator humano é a principal causa dos grandes acidentes com Carga Projeto. Logo, deve-se investir no treinamento e capacitação da mão de obra empregada.
O planejamento é a melhor saída para prevenção de acidentes ou ocorrências com Carga Projeto. Desta forma, empresas de engenharia de riscos ou mesmo consultores de prevenção de perdas podem auxiliar no planejamento das viagens, sejam terrestres ou marítimas. Essa série de cuidados evitam problemas e facilitam a contratação do seguro.
Fonte: Monitor Mercantil/Luis Vitiritti - Consultor de Engenharia
PUBLICIDADE