Joint venture entre Fibria e Stora Enso, a produtora de celulose de eucalipto Veracel caminha para registrar o melhor ano de sua história. Se tudo correr dentro do projetado até dezembro, a fábrica de Eunápolis (BA) terá produzido cerca de 1,13 milhão de toneladas em 2018, 25% acima da capacidade nominal instalada, de 900 mil toneladas por ano, vendidas integralmente para as duas sócias.
Nem a greve de caminhoneiros, que afetou praticamente toda a indústria de celulose e papel, tirou a empresa da rota. Diante de um plano de contigência eficiente e da logística que combina um pequeno trecho de transporte rodoviário, feito pela JSL, e centenas de quilômetros via barcaça até o Portocel, no Espírito Santo, a Veracel operou normalmente durante a paralisação. Além disso, não há parada programada na fábrica em 2018.
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O desafio da direção, agora, é manter esse nível de operação e convencer as controladoras de que a fábrica no sul da Bahia é candidata viável a um investimento em expansão. “Minha missão é mostrar aos acionistas que a Veracel é a melhor alternativa de investimento. Mas a decisão final é deles”, diz o presidente Andreas Birmoser, que fez carreira na Stora Enso e está há seis meses no comando da empresa brasileira.
O tema expansão é antigo e esbarrou em obstáculos relevantes, incluindo conflitos fundiários na região, que levaram a seu adiamento. Mas voltou a ser tratado internamente com mais entusiasmo após o controle de fatores de risco e uma vez que a fábrica opera no limite da capacidade produtiva. Estudos da consultoria Pöyry contratados pela Veracel indicaram que os dispêndios para ampliar a linha atual seriam muito altos, o que faz da construção da segunda linha a alternativa mais atraente.
O processo de licenciamento para expansão teve início em 2008, à época para instalação de uma nova linha com capacidade para 1,5 milhão de toneladas — hoje, considerando-se o que há de ponta em tecnologia na indústria, há linhas únicas de 2 milhões de toneladas anuais. Os preparativos, porém, pararam na derrocada financeira de uma sócias originais, a Aracruz, que em 2009 teve de se unir à antiga Votorantim Celulose e Papel (VCP) na Fibria, e em pelo menos dois fatores exógenos: uma série de invasões de terras que atingiu o ápice entre 2010 e 2011 e o anúncio de construção de novas fábricas pela concorrência.
De acordo com Birmoser, a questão agrária foi pacificada, embora ainda existam 3 mil hectares da empresa ocupados por grupos que estão fora de um grande acordo costurado com o governo Estado, com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e seis movimentos sociais. Nesse acordo, a Veracel ofertou mais de 16 mil hectares de terras, ou cerca de 20% da área produtiva. “Hoje esse é um assunto com o qual sabemos lidar”, garante.
Se uma decisão de investimento fosse tomada hoje — o que parece improvável já que a Fibria está sendo comprada pela Suzano Papel e Celulose —, a expansão seria operacional em seis ou sete anos, porque ainda não há florestas disponíveis para abastecer a segunda linha. Da área total de 190 mil hectares atualmente, há pouco mais de 87 mil hectares de plantio próprio de eucalipto (além de 21 mil hectares plantados de fomento) e cerca de 96 mil hectares de preservação — a Estação Veracel, uma reserva particular, é reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco.
A região é propícia ao cultivo de eucalipto. Com chuvas bem distribuídas ao longo do ano, tem um dos melhores índices de produtividade no país: mais de 40 metros cúbicos por hectare/ano, contra 36 da média nacional. Por isso, e por causa da curta distância entre fábrica e floresta (algo entre 60 e 65 quilômetros), o custo caixa de produção de celulose da Veracel é um dos menores da indústria.
A Veracel nasceu em 1991 com o nome Veracruz Florestal, uma subsidiária da Odebrecht, e no mesmo ano iniciou o plantio de eucalipto. Cinco anos depois, obteve a licença para instalação de uma fábrica de celulose. Com a associação entre Odebrecht e a sueca Stora, em 1997, passou a se chamar Veracel.
Nos anos seguintes, dois rearranjos societários influenciaram a operação: a sueca Stora se fundiu à finlandesa Enso em 1999 e, em 2002, a Odebrecht deixou a sociedade. Com isso, o controle da Veracel passou a ser compartilhado entre a europeia Stora Enso e a antiga Aracruz (hoje Fibria). A fábrica de Eunápolis entrou em operação em 2005. À época, era a terceira maior linha única de celulose no mundo.
Formado em administração de empresas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), o novo presidente da Veracel tem MBA no IMD Business School, na Suíça, e ocupou cargos de vice-presidente sênior de estratégia e desenvolvimento de negócios, vice-presidente sênior de finanças, TI e planejamento estratégico na Stora Enso Biomateriais, incluindo uma temporada fora do país.
Fonte: Valor