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Artigo - Corredor Bioceânico: Um Novo Horizonte para o Comércio Exterior Brasileiro

Em meio aos congestionamentos observados nos portos brasileiros, o Corredor Bioceânico surge como uma alternativa estratégica para o comércio exterior brasileiro, conectando os oceanos Atlântico e Pacífico através de uma rota que atravessa Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Com a construção em andamento da Ponte Bioceânica, que ligará Carmelo Peralta, no Paraguai, a Porto Murtinho, no Brasil, o projeto poderá avançar e proporcionar uma nova via de escoamento para exportações brasileiras.

Embora o Corredor Bioceânico não seja uma solução universal para todos os tipos de carga, regiões do país ou para todas as rotas de exportação do Brasil, poderia ajudar a aliviar os congestionamentos nos acessos terrestres e marítimos aos portos de Santos e Paranaguá, frequentemente sobrecarregados, dado que esse projeto será particularmente relevante para o agronegócio do centro oeste, pois, em tese, representaria uma rota mais curta e econômica para os mercados asiáticos, como China e Japão.

Progresso nas obras de acesso à ponte e atualizações da Rota Bioceânica
Do lado brasileiro, a montagem das 96 vigas para a ponte já foi concluída, e o trabalho continua em outras partes. No Paraguai, o trecho da rodovia entre Carmelo Peralta e Loma Plata, com 270 km, já está finalizado. O segundo trecho, de aproximadamente 100 km, que conecta Loma Plata a Mariscal Estigarriba, ainda está em fase de planejamento. Já o terceiro trecho, de Mariscal Estigarriba até Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina, com 220 km, está em construção. No total, serão 600 km de rodovias em território paraguaio. A Rota Bioceânica também avança com a pavimentação de rodovias na Argentina, com previsão de término em aproximadamente 2,5 anos, até meados de 2026.

Os Benefícios Prometidos
Entre os principais benefícios apontados para os exportadores brasileiros está a diversificação das opções de embarque, que podem ajudar a regular preços, já que a redução no tempo na distância não seria é tão importante. Por exemplo, uma carga que sai de Campo Grande com destino ao mercado asiático percorre atualmente cerca de 1.100km por rodovia (ou trêm) até Santos e outros 20.000km (11.000 milhas náuticas) até Xangai, enquanto que pela pela Rota Bioceânica, essa mesma carga percorreria cerca de 2.300km por rodovia até Antofagasta e outros 18.000km (10.000 milhas náuticas) até Xangai.

Já o Paraguai, que não tem saída direta para o mar, seria um dos maiores beneficiados, com acesso facilitado tanto ao Atlântico quanto ao Pacífico. O Chile, embora já banhado pelo Pacífico, também veria melhorias no acesso ao Atlântico, potencializando suas exportações. A Argentina, assim como o Brasil, também poderia otimizar a logística de seus produtos agrícolas e industriais com uma essa saída para o Pacífico.

O projeto, que já conta com recursos do novo PAC e investimentos significativos do governo brasileiro, visa não apenas melhorar a infraestrutura logística da região, mas também impulsionar o desenvolvimento econômico e a integração regional na América do Sul. Com a conclusão das obras, os grãos brasileiros passarão a contar com uma nova alternativa para competir no comércio internacional.

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Os Desafios e as Incertezas
No entanto, como todo projeto de grande escala, a Rota Bioceânica enfrenta desafios que vão além das questões técnicas e logísticas. A confiança nos governos envolvidos é um fator crítico. O projeto depende de investimentos pesados e de um cronograma de obras que precisa ser rigorosamente seguido. O Brasil, por exemplo, está investindo R$ 240 milhões apenas nas primeiras etapas das obras. O Paraguai, que inicialmente estava atrasado, conseguiu avançar rapidamente nas suas responsabilidades, concluindo 275 km de pavimentação antes do prazo.

Outro ponto de interrogação é o compromisso dos governos futuros. Projetos de infraestrutura frequentemente sofrem cortes de orçamento quando há mudanças políticas. Embora o consórcio responsável pelas obras esteja avançando, com previsão de conclusão da ponte bioceânica entre Brasil e Paraguai para dezembro de 2025, há sempre o risco de atrasos.

Além disso, há a questão de como o projeto será mantido e administrado após sua conclusão. Os governos estão preparados para lidar com a manutenção e operação de uma infraestrutura dessa magnitude? Haverá acordos internacionais sólidos que garantam a continuidade do projeto mesmo diante de crises políticas e econômicas?

Por fim, o impacto ambiental e social não pode ser ignorado. Com grandes obras atravessando regiões sensíveis, como áreas indígenas na Argentina, é crucial que os governos estejam preparados para gerenciar esses aspectos de forma justa e eficiente. Os conflitos locais, como o impasse com os indígenas na Argentina, levantam questões sobre a viabilidade do cronograma e se todos os atores envolvidos estão realmente alinhados para o sucesso do projeto.

Qual é o cenário para os exportadores de outros estados do Brasil?
Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que o Corredor Bioceânico não afetará igualmente todas as rotas ou regiões exportadoras. Seu impacto será mais sentido nas exportações do Brasil para a Ásia, mas cargas com origens mais próximas aos portos do Sudeste brasileiro podem não se beneficiar diretamente dessa nova infraestrutura. Por exemplo, não é viável que cargas de São Paulo ou Santos atravessem o continente (mais de 3.000km) para embarcar no Chile.

Comparação com a Ferrovia Chinesa
Uma analogia interessante pode ser feita com o projeto da ferrovia chinesa que conectará Rio Branco ao Porto de Chancay, no Peru. Esse projeto, que estava previsto para começar em 2015, vem enfrentando muitos atrasos devido a instabilidades políticas no Brasil e, sobretudo, devido à necessidade de superar grandes desafios de engenharia ou, ainda, relacionados à questões ambientais. Ou seja, apesar dos muitos desafios a serem superados, é fato que o projeto rodoviário da Rota Bioceânica, aproveitando traçados pré-existentes (e já licenciados), está muito mais avançado do que esse projeto greenfield de ligação ferroviária que pretende cruzar não apenas a cordilheira das Andes como também trechos da floresta amazônica no Peru e no Brasil.

Em suma, a Rota Bioceânica tem o potencial de transformar a logística na América do Sul e fortalecer a economia dos países envolvidos. Se todos os desafios forem superados, o corredor poderá realmente cumprir seu papel de promover uma maior integração das economias sul-americanas e ampliar a competitividade da região no comércio global. 

henrik-simon-thiago-lopes-solve-shipping-edit-artigo.jpgHenrik Simon é sócio da Solve Shipping Inteligence


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Thiago Lopes é Head of Business Development na Solve Shipping











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