Por Leonardo Cerquinho
Até a década de 90, considerava-se bom profissional aquele que detivesse a maior quantidade de informações. Era comum termos dentro de cada instituição, pública ou privada, o “papa” de um determinado assunto. As instituições eram extremamente verticalizadas, com muitas camadas hierárquicas, e as coisas mudavam muito, mas muito lentamente.
A partir dos anos 2000, com a popularização dos sistemas de gestão, esse quadro se alterou rapidamente. A capacidade de fazer a informação circular com rapidez e eficiência tornou-se mais importante do que o conhecimento isolado de um determinado profissional. As instituições passaram a ser mais democráticas, menos hierarquizadas e passou a ser comum ver profissionais abaixo dos 40 anos em cargos de direção.
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Tais mudanças, no entanto, eram focadas apenas na gestão interna e só com o impacto do desaparecimento de gigantes, como Kodak e Blockbuster, provocados por concorrentes inovadores, as instituições começaram a se dar conta da revolução que os avanços tecnológicos estavam produzindo fora das suas sedes. A solução encontrada por um número crescente de empresas, para não serem engolidas, tem sido a inovação em rede. Estimular o pensamento “fora da caixa” dos seus funcionários, valorizar experiências e referências externas, conectar-se com startups e parques tecnológicos passou a ser algo comum nas corporações.
Se no setor privado a inovação em rede tornou-se uma forma de enfrentar as ameaças das mudanças cada vez mais rápidas no mercado, no público – onde a maior parte das atividades governamentais não se constitui em mercados competitivos, rentáveis e escaláveis – o caminho para a inovação governamental ainda está sendo trilhado. A natureza não-concorrencial do setor público não confere o mesmo dinamismo à inovação do setor privado, tornando-se necessário estimulá-la diretamente.
Em recente viagem aos EUA, a convite do departamento de Estado americano, participei de um intercâmbio profissional chamado IVLP (International Visitor Leadership Program), com o tema “Inovação Governamental”. Junto a outros seis gestores públicos de todo o Brasil, conheci as melhores práticas das três esferas do poder executivo nos quesitos inovação e eficiência.
A resposta para o dilema da dinâmica da inovação no setor público que eles encontraram passa por um conceito bastante poderoso: Dados Abertos!
Muito além de prover transparência, que é uma obrigação, os poderes executivos federal, estadual e municipal americanos têm realizado um grande esforço para sistematizar e abrir a imensa massa de dados que gera e buscado atrair a cooperação de universidades, empresas privadas e organizações civis para trabalhar esses dados em prol de soluções que afetem positivamente a vida da sociedade.
A disponibilidade dos dados viabiliza a inovação em rede, pois permite aos empreendedores e centros de estudos não apenas identificar novas potencialidades de mercado e serviços, mas principalmente identificar falhas e propor melhorias que irão beneficiar a eles próprios diretamente e a toda a sociedade indiretamente.
Já há inclusive, por parte do governo federal americano, iniciativas no sentido de colocar governo e sociedade dentro de uma mesma plataforma blockchain para, por exemplo, identificar de forma mais rápida a reação de cada paciente aos tratamentos de pandemias e replicar de forma mais eficiente as melhoras práticas. Ou mesmo para fiscalizar e gerenciar de forma mais efetiva o repasse de recursos federais a entidades privadas sem fins lucrativos.
Os esforços para conseguir resultados efetivos levam alguns anos, pois coletar, sistematizar e abrir os dados de forma estruturada é uma tarefa árdua, cujo sucesso depende ainda do engajamento da sociedade em buscar soluções conjuntas a partir destes dados. Mas é preciso plantar para colher. Investir em tecnologia e inovação, capacitar equipes, firmar boas parcerias, abrir possibilidades. É isso o que estamos fazendo em Suape, com a convicção de que boas sementes só podem render bons frutos.
Leonardo Cerquinho é presidente do Porto de Suape