Por Maria Fernanda Palanch e Mariângela Oliveira de Barros
• O Município de Santos cresceu em torno da atividade portuária, desde o século 16, quando o porto foi transferido, por Brás Cubas, da Baia para o interior do estuário. A partir de então se formou um povoado no entorno do porto. Atualmente, Santos abriga o maior porto da América latina, por onde passam quase 30% da economia brasileira, abrangendo 15.960 metros de extensão de cais e área útil total de 7,8 milhões de metros quadrados. Nessas áreas estão incluídos 55 terminais marítimos e retroportuários e 65 berços de atracação, dos quais 14 são de terminais privados. (Relatório Codesp, 2017)
PUBLICIDADE
Na Baixada Santista importantes corpos hídricos, como os rios Cubatão, Jurubatuba, Quilombo, Diana, entre outros, servem ao abastecimento da população e contribuem para a manutenção de muitas espécies de valor ecológico e econômico. Nessas áreas com regime hídrico de transição entre água doce e água salgada, abrigam-se espécies vegetais típicas, que suportam períodos de inundação e de seca; a inundação com a entrada da água salgada trazida pela maré enchente, a seca com o recuo da água salgada e avanço da água doce. A vegetação das planícies de maré está sobre solo argiloso e encharcado, rico em matéria orgânica, que gera odor desagradável.
Tais características poderia dar aspecto degradante aos manguezais, no entanto estes estão entre os mais ricos e importantes ecossistemas costeiros, por dar condições à manutenção da vida nos oceanos, com a transferência de nutrientes para o mar e servindo de berçário para espécies marinhas que buscam as águas abrigadas e menos salgadas para sua reprodução, retornando depois ao ambiente marinho.
Além da importância ecológica dos manguezais, a sua vegetação possui função estrutural, pois protege as margens dos canais dos processos de erosão.
Diante de tantos benefícios promovidos pelos manguezais, o município de Santos vive um impasse: conservar suas áreas naturais ou permitir que o porto cresça? Analisando estas alternativas, parece difícil resolver esse impasse. Por isso, é recomendável levar em consideração os aspectos favoráveis e contrários dessas ações e, considerando a necessidade de expansão do porto, é fundamental considerar também a capacidade de suporte do estuário Santista.
Dentre as soluções, a implantação de equipamentos portuários mais modernos e processos operacionais mais eficientes podem contribuir para minimizar impactos ambientais. Um exemplo dessa visão pode ser a do Terminal Integrador Portuário Luiz Antônio de Mesquita (TIPLAM), localizado em Santos Continental, ao lado da Usiminas, pois o uso de mecanismos automatizados de escoamento de produtos, que diminuam o tempo de parada das embarcações e aceleram os processos de carregamentos e descarregamentos de trens, a implantação de linhas férreas mais modernas e eficientes, contribuindo com a rapidez dos processos de carregamento e descarregamento de navios fora da área urbana, resulta numa eficiência portuária aperfeiçoando o processo operacional e, consequentemente, minimizando os impactos ambientais.
Maria Fernanda Palanch é mestre em Ciências, Fisiologia Geral pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo e graduada em Oceanologia pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Professora do Centro Universitário São Judas, campus Unimonte.
Mariângela Oliveira de Barros é mestre em Oceanografia pela USP. Geógrafa pela Unesp. Professora do Centro Universitário São Judas, Campus Unimonte.