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MSC

Governo Temer e a Indústria Naval

Com o afastamento temporário da presidente Dilma Rousseff e a posse de Michel, interinamente. e ignorando a disputa e a polarização política, como brasileiro senti uma mistura de esperança e apreensão.

As perguntas que nao se calam:


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Como irá se comportar esse novo governo temporário em relação à indústria Naval: sentiremos falta do protecionismo do PT, que incentivava a construção local de navios, sondas, petroleiros, FPSO's e equipamentos?

A lava-jato teve um imenso impacto negativo nos projetos das sondas da Sete Brasil, que teve seu financiamento pelo BNDES bloqueado pelo Ministério Público, no mesmo período em que o valor do barril de petróleo despencou, postergando investimentos em exploração, e tornando a oferta das sondas muito superior à demanda. Houve impacto no resultado e caixa da Petrobras, assim como em seu grau de endividamento. Grandes empreiteiras envolvidas em novos estaleiros continuam sofrendo as consequências, aliás, justíssimas, que fique bem claro. Ficou complicada a operação dos mesmos. Demissões em massa ocorreram. Hoje, nossa indústria emprega cerca de 50.000 pessoas, segundo últimos dados do SINAVAL.

A demanda da Petrobras na parte de Produção de petróleo continua. Uma das poucas que está aumentando a quantidade de barris produzidos no momento. Mas os resultados financeiros continuam muito ruim. As únicas petroleiras do mundo, que estão com uma curva de resultado financeiro distoante da curva de preço do barril de petróleo, são as que investiram em refinarias e distribuição. As vendas de combustível e lubrificantes estão dando maiores margens de lucro. Interessante que o investimento feito pela Petrobras nessa área foi taxado pelo mercado e pela opinião pública de "megalomaníaco", e se tivesse ido em frente, o resultado da Petrobras seria muito melhor nesse momento.

Saindo um pouco do cenário, e voltando à demanda da Petrobras, a sede por mais FPSO's, Petroleiros e Gaseiros permanece. Muitos poços já foram explorados, e para aumentar a produção, e gerar caixa, a empresa precisa saciar essa sede o mais rápido possível. Para cumprir seu cronograma de crescimento de produção, e com os problemas em alguns estaleiros, juntamente ao problema na obtenção de novos financiamentos, algumas encomendas foram transferidas para o exterior (China). Com o enfraquecimento do PT , que fomentava essa produção local, chegando até a impactar nos planos da maior estatal brasileira, essa mudança de planos não sofreu resistência. Aliás, o mercado tende a apoiar a Petrobras nessa "briga" e os meios de comunicação que apoiavam a mudança de governo íam na mesma linha. Triste ver a demissão de tantos trabalhadores sem o menor grito da mídia, que, aliás, é a mesma que divulga e critica o aumento dos índices de desemprego.

Como o PMDB fazia parte do governo PT, quando se incentivou a indústria naval no início desse século, inclusive nomeando o antigo presidente da Transpetro (Sérgio Machado), que criou o PROMEF e gerou encomendas ao Estaleiro Atlântico Sul, Vard Promar e EISA, havia um pouco de esperança no ar.

Nas relações exteriores, foi nomeado o ministro José Serra, oriundo de um partido com histórico de privatizações e ojeriza ao envolvimento do Estado na indústria, através de suas estatais. Por ele, abre-se o mercado todo para os estrangeiros. A discussão da lei que obriga a Petrobras a ser a operadora dos campos do Pré-Sal ganhará força. Ainda não tenho opinião formada sobre esse assunto:

Ao abrir: desobriga a Petrobras a se envolver em todos os campos (até nos mais arriscados e menos rentáveis), que no curto prazo ajudaria o caixa e a eficiência da empresa, e teoricamente, atrairia as petroleiras estrangeiras. Como o Estado só pode influenciar na Petrobras, as gringas farão o que bem entender no respeito à contratação de FPSO, petroleiros e navios de apoio. Logicamente, respeitando a lei do REB, conteúdo local estipulado pela ANP (governo) e bloqueios de embarcações de bandeiras brasileiras. No nordeste, essa condição de operador único não existe. No Round 11, inúmeros campos foram arrematados pela Premier-Oil, Chevron, Exxon, Total, BG, dentre outras e a evolução no desenvolvimento dos mesmos pouco se nota. O fato é que algumas delas chegam a ter um funcionário apenas no Brasil, enquanto as "grandes" tem em torno de 1 mil.

Mantendo a condição de operador da Petrobras pode ser uma grande tacada para o médio/longo prazo, quando o barril se estabilizar na casa dos 60/70 dólares, como preveem os "especialistas". O caixa da empresa vai sofrer no curto prazo. As petroleiras mais experientes, sempre estão junto à Petrobras nos campos mais rentáveis (Libra por exemplo). Ao lado dela, que sabe navegar em nosso peculiar país, tudo anda mais rápido. Licenças ambientais são obtidas no prazo, pois está familiarizada ao processo junto ao IBAMA. Isso pode durar quase 2 anos nas maos de uma BG por exemplo (Barreirinhas). Além de forçar o governo a investir em infra-estrutura, já que o mesmo faz parte do conselho administrativo da empresa.

Difícil escolha. Há prós e contras.

Fabricantes de equipamentos que oferecem seus financiamentos estão levando vantagem. Sofrem os que foram penalizados por abrir fábricas no Brasil, especialmente os que ganharam contratos das sondas da Sete Brasil. Os fabricantes locais estão fechando as portas. Impossível competir com os líderes de mercado, que ainda vem munidos de financiamento. Aliás, assim deve ser! BNDES deveria financiar empresas brasileiras apenas, como o GIEK ajuda os noruegueses por exemplo. Por muitos anos, o BNDES através do FMM, financiou equipamentos e pacotes importados, e ninguém reclamava. Isso foi ajustado, corretamente. Quando o BNDES financia a Odebrecht num projeto em Cuba, a mídia e a oposição acham um absurdo.

Estamos financiando comunistas!

Mas quando o banco de desenvolvimento chinês faz o mesmo junto à Petrobras, ou quando o banco japonês tenta salvar os fornecimentos das empresas japonesas junto ao Enseada, ou os de Cingapura fazem o mesmo com Jurong e Keppel, todos se calam.

Obviamente, respeitando-se a idoneidade e éticas do relacionamento. Coisas que podem não ter acontecido na relação Odebrecht junto ao governo e BNDES. Aliás, é por isso que a empreiteira financia campanhas dos principais partidos, e esse interesse e transparência pouco é cobrada por nós eleitores e cidadãos.

O recém empossado Meirelles (Ministro da Fazenda) já fala em abrir nosso mercado e ser menos protecionista...sinceramente, espero que ele não esteja falando da construção naval!

Das encomendas de navios pelo mundo, o país com o melhor desempenho atual, incomparável com o segundo lugar (Coréia), e mesmo em queda, trata-se da CHINA, onde o governo é protecionista ao extremo! Financia. Estimula, Cria clusters. Tem METAS. Conteúdo local na casa dos 80%, controle dos valores do aço (pra não perder competitividade e um SONHO aqui no Brasil). Força as empresas estrangeiras a se instalarem por lá. Força a transferência de know-how. Não à toa, a Coréia também tem atuação do Estado.

Isso se explica na capacidade de movimentação da Economia, que uma produtiva indústria Naval proporciona. Empregos diretos e indiretos, arrecadação de impostos, e até o comércio ao redor (hotéis, restaurantes, etc).

Enquanto eu permanecia receoso, vários amigos de nossa indústria naval, torciam pelo impeachment. Vi muitos comemorarem o afastamento da Dilma. Gostaria de ter a certeza que isso beneficiará nossa indústria! Espero que o PMDB se lembre dos tempos áureos de nossa indústria, e volte a apoiar, que é o que mais precisamos AGORA!

Paralelamente, a oferta do petróleo vai se ajustando à demanda global. Quem sabe os Sauditas não se acertam com os iranianos, numa redução proporcional coletiva de produção? Tudo o que nossa indústria precisa é uma valorização do ouro negro.

Boa sorte a todos nós!


Gustavo Pedreira é CEO e fundador da Status Offshore






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