O primeiro semestre de 2024 foi marcado por adversidades e transformações no comércio exterior, ressaltando a importância das questões geopolíticas, mudanças climáticas e avanços tecnológicos. Na reflexão sobre as tendências e consequências que moldaram este período, fica claro que as questões geopolíticas, as mudanças climáticas em conjunto com os avanços tecnológicos seguem desempenhando papel balizador no tabuleiro global dos negócios. A partir desses aspectos, é possível explorar as perspectivas para o segundo semestre do ano.
Os conflitos em Gaza, guerra entre Rússia e Ucrânia, e tensões entre EUA e China afetaram diretamente o comércio global, causando incertezas e influenciando políticas comerciais e tarifas. A instabilidade na Ucrânia prejudicou as rotas de transporte na Europa Oriental, enquanto as tensões EUA-China influenciaram o mercado global.
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No Mar Vermelho, o custo do transporte marítimo aumentou devido à continuidade dos desvios causados por conflitos, com o trajeto contornando o Cabo da Boa Esperança elevando os custos. De acordo com o rastreador de mercado de frete Xeneta, na última semana de maio, o custo médio para transportar um contêiner de 40 pés entre o Extremo Oriente e o norte da Europa – um valor altamente suscetível às variações de mercado –, alcançou US$ 4.343, quase o triplo do que no mesmo período do ano anterior.
A seca contínua no Canal do Panamá, devido ao fenômeno El Niño, reduziu o número de travessias diárias e afetou o fluxo de mercado no início de 2024, pois cerca de 5% do comércio marítimo mundial passa por lá. O segundo semestre de 2023 foi um dos mais secos da história do canal, o que forçou desvios de rotas e aumentou os custos logísticos. Mas há previsão de melhorias: com a chegada da temporada de chuvas, em junho, o número de travessias diárias aumentou de 24 para 32.
Apesar dos desafios, o setor de transporte marítimo registrou movimentações recordes. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, o valor das exportações e importações aumentou devido ao crescimento nos volumes, embora os preços tenham caído. Nos primeiros cinco meses do ano, as exportações somaram US$ 138,8 bilhões, com um superávit comercial de US$ 35,89 bilhões. A corrente de comércio atingiu US$ 241,73 bilhões, refletindo um aumento de 2,1%. Como consequência, a balança comercial apresentou superávit de US$ 35,89 bilhões, com crescimento de 3,9%, e a corrente de comércio registrou aumento de 2,1%, atingindo US$ 241,73 bilhões.
O mercado sul-coreano se abriu para produtos brasileiros, e o Brasil assinou um memorando de cooperação econômica com a Áustria, além de expandir laços comerciais com a Colômbia e países árabes. A demanda por carros elétricos aumentou, impulsionada pela conscientização ambiental e avanços tecnológicos, com crescimento de 20% no setor, apesar das novas tarifas de importação.
Tecnologia e inteligência artificial estão transformando a eficiência operacional e a segurança no setor, enquanto o compromisso com a descarbonização permanece uma prioridade. O transporte marítimo, responsável por cerca de 3% das emissões globais, está adotando metas rigorosas para reduzi-las, incentivando o uso de tecnologias verdes.
Investimentos em infraestrutura também serão fundamentais. O plano de investimento de R$ 10,64 bilhões para o Porto de Santos e os estudos do BNDES para o desenvolvimento econômico marítimo na região Sudeste demonstram um compromisso com o fortalecimento da logística nacional.
No setor de transporte de cargas, é tempo de ajustes e adaptações. A previsão é de uma redução na rentabilidade, mas um aumento no volume de importações, estimado em 10%. No entanto, a rentabilidade das exportações permanece estável, apesar da ausência de crescimento no mercado e da retração contínua.
Enfrentamos o desafio de manter nossos serviços consolidados operacionais, garantindo a regularidade e a oferta de diferenciais competitivos, mesmo em um mercado difícil. Conduzido por desafios, o segundo semestre de 2024 também está repleto de oportunidades.
Estamos preparados para superar esses obstáculos e progredir com as novas possibilidades.
Marcus Coelho é Chief Finance Officer (CFO) da Craft