Rio de Janeiro e São Paulo - O déficit comercial do setor de máquinas e equipamentos é crescente no país. No primeiro quadrimestre ele atingiu US$ 5,5 bilhões, acumulando uma perda desde 2004 de US$ 50,7 bilhões. O aumento do déficit comercial em relação ao mesmo período do ano passado foi de 33,3%, de acordo com dados divulgados ontem (25) pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
O presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, atribuiu grande parte do desempenho deficitário da balança comercial do setor à concorrência “predatória” da China que neste início de 2011 já ocupou o segundo lugar, em valor, entre os principais mercados exportadores para o Brasil. Em 2004, a China ocupava a décima posição. Ele estimou que em até 2013, os chineses assumirão a liderança dos destinos importadores do Brasil.
Aubert Neto defendeu que os produtos importados têm de passar por normas de segurança, como ocorre em relação ao produto nacional. A China apresenta outras vantagens, como a ausência de tributação sobre o investimento e o câmbio, que “é manipulado pelo governo [chinês], o que facilita as exportações”. A Abimaq não é contrária à importação de produtos com tecnologia elevada não fabricados no Brasil, frisou Aubert Neto. Acrescentou, porém, que isso não está ocorrendo.
Com as importações nos primeiros quatro meses deste ano chegando a US$ 8,9 bilhões e as exportações a US$ 3,4 bilhões, o déficit comercial do setor no período alcançou US$ 5,5 bilhões. Para Aubert Neto, a expectativa para este ano é de um déficit recorde. “O déficit este ano vai ser recorde. Vai passar de US$ 18 bilhões. O Brasil está primarizando a economia”, disse.
Para deter a concorrência da China ao setor de máquinas e equipamentos brasileiro, ele disse que a Abimaq está solicitando ao governo a adoção de todos os instrumentos que estão ao alcance, entre os quais salvaguardas, ações de dumping (exportação a preço inferior), valoração aduaneira, aumento da alíquota de importação para 35%. “Nós estamos pedindo tudo para frear essa importação maciça que está ocorrendo”. Avaliou que a importação da China é danosa porque, na realidade, não se está importando qualidade, mas preço.
Aubert Neto afirmou que se o governo fizer a desoneração total dos investimentos, além da redução dos encargos trabalhistas, isso seria um passo importante para garantir a competitividade brasileira no setor de máquinas e equipamentos. Nesse processo, ele ressaltou que a mobilização da sociedade é fundamental.
Além do problema do câmbio depreciado, que “é mortal e está tirando a competitividade da nossa indústria”, Aubert Neto afirmou que outro elemento fundamental seria a extensão, “sem data para acabar”, do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) do governo federal para o financiamento de longo prazo ao setor produtivo, com juros reduzidos, como ocorre, por exemplo, na Alemanha, onde o patamar de juros é de 2% ao ano.
A pesada carga de tributos que incide sobre os produtos nacionais, estimada entre 30% e 40%, em média, estimula o processo de “desindustrialização” no país, disse o presidente da Abimaq. Isso justifica, segundo afirmou, o fato de empresas deixarem de investir aqui e construírem unidades no Mercosul para ”fugir do custo Brasil” e vender o produto depois no mercado interno, livre de impostos.
Os números da Abimaq revelam, ainda, que em paralelo ao déficit comercial, o setor de máquinas e equipamentos vem enfrentando diminuição na carteira de pedidos. No primeiro quadrimestre, a redução registrada foi de 18,2%, em comparação a igual período de 2010, “o que mostra claramente que as importações estão aumentando cada vez mais a participação no mercado interno”, com queda do valor agregado na cadeia do setor, alertou Aubert Neto.
O presidente da Abimaq falou ainda que o setor deve também sofrer os efeitos do aumento de preço previsto para o aço forjado e laminado. Segundo ele, as distribuidoras já acenaram que o aço deve sofrer um aumento de cerca de 20% nos dois próximos meses por causa do aumento nas usinas. “O aço é o principal insumo que nós temos. Cada ponto percentual que aumenta é mais um item de perda de competitividade que a gente tem”, afirmou.
Fonte: Jornal do Brasil/Agência Brasil/Alana Gandra e Elaine Patricia Cruz
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