Na reunião de duas horas que teve na segunda-feira com analistas de diversos bancos, a presidente da Petrobras, Graça Foster, voltou a encantar o mercado com sua firmeza e comprometimento, mas o resultado prático foi uma queda das ações ontem. O motivo foi a admissão de que a companhia poderá suspender o pagamento de dividendos para detentores de ações ordinárias (ON), para reforçar o caixa e compensar perdas com o subsídio dos combustíveis e um eventual, e esperado, aumento do custo das captações. As ações ON fecharam em queda de 3,29% (valendo R$ 15,57) e as PN caíram 3,11% (a R$ 16,80). Procurada, a Petrobras não se manifestou.
Em relatório, a equipe do Itaú BBA mencionou que essa é uma medida que pode ser tomada pela companhia para melhorar seu balanço e reduzir as taxas de juros cobradas de emissões externas, caso recorra ao mercado para fazer novas captações. A Petrobras vinha dando às ações ordinárias (ON) o mesmo tratamento às preferenciais (sem direito a voto, mas com garantia de dividendos) apesar de não ser previsto este tratamento igualitário.
Além da presidente, participaram da reunião os diretores Almir Barbassa (financeiro), José Formigli (exploração e produção) e José Carlos Cosenza (abastecimento e refino). Segundo o Credit Suisse, a Petrobras manifestou o "desejo" de continuar pagando dividendo equivalente ao mínimo de 25% do lucro líquido ajustado para detentores das ON. Mas segundo os analistas Vinicius Canheu e Andre Sobreira, o diretor Almir Barbassa salientou que isso vai depender do resultado e da situação do fluxo de caixa. "Isso nos levou a acreditar que os administradores não descartam uma redução do dividendo [para as ON] se necessário".
Segundo cálculos do Citi, se cortar os dividendos das ON, a Petrobras pode economizar até R$ 3,2 bilhões em 2014. O Credit Suisse destacou que Graça admitiu que a paridade de preços com o mercado internacional não parece "viável" no momento. Apesar da forte mensagem de que estão fazendo o seu melhor para melhorar as condições operacionais e financeiras da Petrobras, os analistas frisaram que os gestores foram sinceros ao reconhecer os desafios para retornar a alavacagem aos níveis auto impostos de 2,5 vezes a dívida líquida dividida pelo Ebtida nos próximos dois anos.
Segundo o banco, eles admitiram "o pouco ou nenhum espaço" para redução dos investimentos em 2014 e 2015 e a impossibilidade de assegurar que os preços dos combustíveis irão subir de maneira significativa no curto prazo. A reunião não mudou a visão do HSBC. Luiz Carvalho e Filipe Gouveia ainda veem a petroleira com fundamentos fracos, dada a alavancagem no balanço da empresa, o fluxo de caixa negativo até o fim da década, a interferência negativa do governo e os investimentos em refino com retornos mais baixos do que o custo de capital.
Nenhum dos participantes saiu convencido da existência de uma metodologia "secreta" aprovada pela conselho que permita retorno da paridade de preços em relação ao mercado internacional. E também não há quem acredite que os novos reajustes poderão ser decididos pela direção da empresa, mas sim pelo governo. Para o Santander, apesar de Graça deixar claro que vai lutar por novos reajustes, eles vão depender do governo. Gustavo Gattass, do BTG Pactual, mostrou preocupação com o impacto do câmbio. "O risco cambial talvez tenha tornado a Petrobras em uma história mais ligada ao contexto macroeconômico do que imaginávamos e isso nos deixa ainda mais preocupados em relação ao futuro do papel no longo prazo", escreveu.
Já o JP Morgan vê como o maior risco para a Petrobras a possibilidade de rebaixamento da nota do Brasil, o que arrastaria a estatal. Entre os gatilhos positivos esperados estão o aumento da produção de óleo e da capacidade de refino.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner e Natalia Viri | Do Rio e São Paulo
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