O novo comandante da Usiminas, que será oficializado hoje na sede da companhia durante reunião do conselho de administração, terá de tomar algumas decisões consideradas importantes ao longo deste ano. O Valor apurou que Julián Eguren, executivo da Ternium, a siderúrgica do grupo ítalo-argentino Techint, será o novo presidente da Usiminas.
Executivo de carreira da Techint - atualmente diretor-geral das operações da América do Norte da Ternium e presidente da Ternium México -, Eguren vai substituir Wilson Brumer, após passar cinco anos na siderúrgica mineira - um como conselheiro, dois como presidente do conselho e desde abril de 2010 como presidente da diretoria-executiva.
Nas próximas semanas, o executivo começa a definir os demais nomes da diretoria, que terão cargos de vice-presidentes. Dois ou três brasileiros terão presença garantida na nova gestão. Hoje, a Ternium indicará três conselheiros representantes na empresa e um deles deve ser independente.
As decisões estratégicas da nova gestão incluem desde a venda de ativos considerados fora do principal negócio - siderurgia e mineração de ferro - a novos investimentos. É o caso da controlada Automotiva Usiminas, que faz cabines para caminhões. É um ativo com receita de R$ 500 milhões e que fica em Pouso Alegre (MG).
O BTG Pactual foi contratado em meados de 2011 para conduzir a operação de venda, mas o negócio foi congelado diante do processo de mudança societária da Usiminas que culminou com a entrada da Ternium.
Segundo uma fonte, em algum momento a Usiminas também terá de avaliar se é o caso de continuar controladora da Usiminas Mecânica, fabricante de bens de capital que fica ao lado de sua usina, em Ipatinga (MG). A pergunta que se faz é: "tem sentido a empresa atuar também na fabricação de estruturas metálicas e até de vagão ferroviário?". Essa controlada fatura R$ 1,7 bilhão.
Na área de investimentos, a prioridade atual é para o negócio de minério de ferro, introduzido na empresa em 2008. São R$ 4,5 bilhões orçados para atingir a meta de produzir 29 milhões de toneladas do produto em 2015. Além de atender necessidades próprias - principalmente da usina de Cubatão (SP) -, o objetivo é ser um exportador da matéria-prima. O produto, hoje, é negociado na faixa de US$ 140 a tonelada no mercado "spot" chinês, maior importador mundial. O nível de produção atual é de 8 milhões de toneladas ao ano.
Dois outros projetos estão paralisados na Usiminas. Um deles é o plano de otimização da produção de aço, com substituição de um alto-forno antigo na usina de Ipatinga (MG) por outro maior - moderno e mais competitivo em custo - simultaneamente a ganho marginal nos altos-fornos e aciarias da usina de Cubatão.
Isso renderia mais 1,5 milhão de toneladas de aço bruto anualmente à Usiminas. Será que se justifica, com o cenário de superoferta mundial e perda interna de mercado da empresa? Mesmo com a Ternium sendo um cliente potencial desse excedente para suas operações no México? Fazer semi-acabado (placas) para exportação não é um bom negócio, avaliam executivos e especialistas do setor. A ArcelorMittal Tubarão tem parado até hoje um alto-forno que era dedicado ao mercado europeu, desde a crise de 2008.
O outro projeto envolve uma usina de pelotização de minério de ferro, orçada em US$ 1 bilhão, em Minas Gerais. Quando se manifestou sobre isso em conferências de imprensa, Brumer disse que a busca de um parceiro era ponto crucial. Talvez a própria Ternium seja o sócio estratégico.
A Usiminas também almeja ser autossuficiente na geração de energia elétrica, usando subprodutos (gases) dos altos-fornos e aciarias de suas usinas, além de investimento direto. Hoje, ela tem menos de 20% do que consome, bem diferente de CSN, com 100%, e ArcelorMittal Tubarão, que chega a vender excedente. Estima-se investimento de R$ 3 bilhões.
Em março, o último grande investimento na área de aço, do pacote definido em 2007, será concluído. A usina de Cubatão ganhará novo laminador de tiras a quente, um equipamento que vai modernizar essa unidade para fazer produtos de aplicações mais nobres.
Com isso, encerra-se uma fase na Usiminas que buscou maior competitividade da empresa e oferta de produtos de maior valor agregado para setores em expansão no país - indústria automotiva, de construção e petrolífera.
Mas a empresa chegou atrasada ao boom da demanda e foi atropelada pela crise de 2008 e 2009. Caberá à Ternium e seus sócios japoneses - estes na empresa desde 1958, onde entraram no papel de co-fundadores - traçar o novo caminho da Usiminas.
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
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