Para economistas e pessoas ligadas à indústria, poderá ocorrer atraso na entrada de novos investimentos
O adiamento da refinaria Premium II, a ser instalada no Estado, pode resultar em impactos bastante negativos para a economia cearense, segundo avaliam economistas e pessoas ligadas ao setor industrial. Um deles, apontam, é o possível atraso na entrada de novos investimentos ao Estado, uma vez que já existia uma expectativa por parte de empresários de que, entre 2013 e 2014 - que é quando a usina estaria funcionando -, já houvesse uma nova demanda por produtos por aqui, acompanhada de um maior crescimento econômico. Segundo o Diário do Nordeste informou ontem, com exclusividade, a Petrobras adiou em quatro anos o início das operações da refinaria, que agora só deverá ser inaugurada em 2017. "Uma notícia dessas é muito ruim para o Ceará. Isso pode interferir nos planos dos empresários, que podem repensar investimentos que projetavam para cá", destaca o coordenador de Economia e Estatística do Instituto de Desenvolvimento Industrial (Indi) da Fiec, Pedro Jorge Ramos Vianna. Segundo ele, não necessariamente somente os projetos industriais diretamente ligados à refinaria, como é o caso de indústrias fornecedores da matéria-prima, podem ser reavaliadas.
"É tudo. Isso porque a economia não vai crescer como se estava planejando com a entrada da refinaria. Este crescimento vai ser adiado. Portanto, todo o sistema econômico é afetado, a expectativa diminui", projeta.
Mudanças consecutivas
O industrial criticou a atitude da Petrobras na modificação do cronograma anterior da refinaria. "Já várias vezes ela mudou essa data, não tem explicação", disse. O mesmo posicionamento é tomado pelo professor de Economia Marcos Holanda, da Universidade Federal do Ceará (UFC). "Mais uma vez, vemos que o Ceará não tem muito prestígio com a Petrobras", criticou. Esta percepção chegou a ser reforçada, inclusive, pelo presidente Lula, durante visita ao Ceará, no último dia 8. Na ocasião, Lula afirmou que, se fosse pela Petrobras, não haveria novas refinarias no Brasil, sobretudo no Nordeste.
Para descolar
Para o economista Marcos Holanda, a refinaria "é um projeto importantíssimo para que o Ceará possa fazer o descolamento de sua economia". "O Estado só vai romper a barreira dos 2% do PIB [Produto Interno Bruto] do Brasil com a entrada dos grandes empreendimentos", afirma. Ele diz que o atraso é preocupante, uma vez que os outros estados, como o Maranhão, tiveram garantidas as suas refinarias em período bem mais curto. A Premium I, maranhense, começará a operar em 2014, duplicando sua produção em 2016.
Solução
Para Holanda, em virtude dos diversos postergamentos dos projetos estruturantes do Estado, é preciso realizar uma política de planejamento estratégico para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) em que este não tenha sua evolução unicamente em dependência da refinaria. "Não se pode ficar eternamente esperando a Petrobras. O Pecém pode se viabilizar sem a refinaria. Tem a ZPE [Zona de Processamento de Exportações], a siderúrgica e as novas indústrias. Tem que ir atrás", defende Holanda.
Conforme o economista, o Porto do Pecém ocupa uma posição muito estratégica e, com a ZPE, é possível angariar vários outros projetos que possam alavancar a economia cearense. "A lógica agora é essa, tem que pensar além", conclui.
EXPECTATIVA
Projetos do CE vão ficando para depois
Só a siderúrgica deu passos concretos, saindo do papel, mas ainda precisa captar um novo investidor para a 2ª fase
O Ceará já possui uma lista de grandes empreendimentos que carregam em si não só o potencial, mas a incumbência de dinamizar a economia, modificando a realidade de Estado pobre e que pouco contribui para o desenvolvimento nacional. Contudo, entre estes, somente a siderúrgica já deu os seus primeiros passos concretos, fora do papel. Todos os outros seguem, entre polêmicas e entraves, atrasados ou inviabilizados.
Na verdade, até a siderúrgica já não possui mais garantida toda a capacidade inicialmente anunciada. Como divulgado com exclusividade pelo Diário, a Vale, sócia majoritária da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), com 60% das ações, ainda busca novos parceiros para poder viabilizar a segunda fase da usina. Portanto, até agora, só a primeira está garantida, e prevista para 2013. Além do adiamento da refinaria, ainda há o atraso em vários outros projetos. Como a usina de urânio e fosfato de Itataia. O questionamento da licença ambiental e as divergências jurídicas sobre quem deveria expedir a licença para as obras da usina, fez com que o projeto permanecesse parado. Completam exatos dois anos desde que foi anunciada a exploração entre as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e Galvani. A Transnordestina, que deverá contribuir fortemente para o escoamento da produção cearense e nordestina pelo Porto do Pecém, contribuindo para o desenvolvimento do Interior, também está atrasada. As obras andam, mas deveriam ser finalizadas em dezembro deste ano. A nova previsão para o trecho cearense já aponta para 2013. Outro projeto que ficou para depois foi o tão polêmico estaleiro. O Promar Ceará, depois de cerca de um ano de controvérsias, não fica mais no Ceará. O que ficou foi a promessa do presidente Lula de garantir, no futuro, uma nova indústria naval no território cearense. Para quando ainda não se sabe. (SS)
Opinião do especialista
Governo mantém ações de implantação
Adail Fontenele
Secretário de Infraestrutura
Este prazo (da Petrobras) está razoabilíssimo. Um projeto desse porte não se faz em três, quatro anos. Mas em cinco, seis anos. Nós não seremos acusados de nenhum atraso no projeto. O que está ao cargo do governo, continuará sendo feito. O projeto de desvio da CE-085 da área da refinaria já está concluído e pronto para ir à licitação. Esperamos uma resposta do Ministério do Turismo em 15 dias sobre se será liberado recurso para a duplicação da rodovia. Caso sim, as obras ocorrerão simultaneamente. Se não, será dado início ao processo licitatório do desvio. As desapropriações do terreno estão em bom ritmo. A questão sobre as terras indígenas está sendo resolvida.
Fonte: DiáriodoNordeste (CE)/SÉRGIO DE SOUSA
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