A agropecuária brasileira deu um baile em quem se arriscou a fazer qualquer previsão sobre o que seria a década passada. O setor mostrou um dinamismo bastante inesperado.
Os erros nas previsões de produção levaram também a estimativas equivocadas na participação brasileira no mercado internacional.
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Não se imaginava que as exportações do setor atingiriam um patamar perto de US$ 1 trilhão nos últimos dez anos.
Os erros começaram no início dos anos 2000, quando o agronegócio ainda era dependente do mercado externo e pouco produtivo. O Brasil terminou os anos 1990 com uma produção de grãos de apenas 83 milhões de toneladas.
Com base nesse ritmo fraco, o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) estimou, em 2002, que o Brasil produziria apenas 48 milhões de toneladas de milho em 2011 e que as exportações seriam de 1,1 milhão.
Os números ficaram bem acima. A produção foi de 73 milhões, e as exportações somaram 10 milhões de toneladas.
As previsões continuaram subavaliadas na década passada, tanto pelo Usda como pelo Ministério da Agricultura. Este previu, em 2011, que a produção nacional do cereal seria de 66 milhões de toneladas em 2020 e que as exportações atingiriam apenas 14 milhões.
O Usda estimou vendas externas ainda menores: 8,5 milhões. Os números finais indicaram uma safra de 103 milhões de toneladas e exportações de 34,4 milhões.
A soja também surpreendeu a quem fez previsões. Em 2011, o Ministério da Agricultura estimava uma safra de 86,5 milhões em 2020/21. Já o Usda previa 94 milhões.
Os números ficaram bem distantes, uma vez que a safra deste ano deverá render um volume superior a 130 milhões. As exportações, previstas à época em 49,5 milhões, ficam em 83 milhões.
As disparidades nos números ocorreram devido a um avanço inesperado da soja e do milho no país, produtos que representam 89% da produção nacional.
As previsões indicavam, há dez anos, que a área ocupada pela soja seria de 30 milhões de hectares. Está em 38 milhões. Já a de milho seria de 13,4 milhões, mas já atingiu 19 milhões.
As avaliações de produção não contemplavam, ainda, a importância que o Brasil assumiria no cenário mundial, nem tampouco previa-se uma China com tanto apetite no mercado internacional, e dando preferência ao Brasil.
A demanda externa elevou os preços das commodities para um patamar superior ao da média histórica, incentivando o plantio e permitindo ao produtor a busca por novas tecnologias. O resultado são recordes de produção.
Em 2011, o Ministério da Agricultura esperava uma produção de 176 milhões de toneladas de grãos em 2020/21. Quando fechados, os números deverão indicar 260 milhões.
A demanda por carnes também colocou o Brasil em vantagem no mercado externo, embora o aumento esperado no volume de produção na década passada, de 6,5 milhões de toneladas, não tenha se confirmado.
Melhora da renda e urbanização, principalmente em países da Ásia, abriram as portas para as proteínas brasileiras.
Além disso, vários continentes foram acometidos por doenças. Os países atingidos foram obrigados a reduzir a produção. Não afetado, o Brasil se destacou como fornecedor mundial.
O coronavírus vai trazer uma nova realidade ao mercado internacional de grãos e de proteínas. As barreiras comerciais vão ficar ainda mais acirradas, e o Brasil, por ora, não tem muito a oferecer devido à desorganização interna no trato com essa doença.
Os números do fim desta década também já estão no mercado e indicam novos crescimentos da produção nacional.
As previsões apontam que os preços dos alimentos deverão continuar aquecidos nos próximos anos, o que garante renda para o produtor. A safra de grãos 2029/30 dos cinco principais produtos (arroz, feijão, milho, soja e trigo) deverá somar 318 milhões de toneladas, 27% acima da de 2019/20.
Os dados são do Ministério da Agricultura, que prevê o avanço da área plantada em 17% no período, atingindo 76 milhões de hectares.
O Usda estima que o Brasil vá produzir 137 milhões de toneladas de milho na safra 2029/30 e que a produção de soja atinja 158 milhões. As exportações ficariam em 47 milhões e 97 milhões, respectivamente.
Os números estão dados, mas as novas estimativas de safra estariam novamente defasadas?
Fonte: Folha SP