A Aker Solutions, empresa norueguesa que presta serviços de engenharia e manutenção e fornece equipamentos submarinos à indústria de petróleo e gás, vê o Brasil como uma região relevante na busca por descarbonização e maior segurança no suprimento global de energia nos próximos anos, depois da pandemia e da guerra na Ucrânia. De acordo com o presidente global da Aker, Kjetel Digre, o país é um importante lugar para se desenvolver tecnologias que vão ajudar a reduzir o conteúdo de carbono na produção de petróleo e gás.
Na primeira visita ao Brasil cerca de dois anos depois de assumir o cargo, o executivo norueguês explica que a companhia vislumbra a possibilidade de auxiliar a desenvolver a indústria de geração eólica em alto-mar no país para otimizar o uso de energia em projetos de produção de óleo e gás. Hoje, ainda não há iniciativas de geração no mar a partir dos ventos em operação no Brasil, mas a Aker presta serviços a projetos nesse segmento na Europa e Estados Unidos. “Será um mercado interessante no Brasil. Há muitas oportunidades para usar tecnologias existentes, mas também para criação de novos negócios nessa área. São grandes operações, com diferentes componentes, o que vai gerar muita atividade local”, diz o executivo.
PUBLICIDADE
Na agenda de Digre no Brasil, estão visitas ao centro tecnológico da Petrobras, o Cenpes, e a ida à unidade de serviços da companhia em Rio das Ostras (RJ). Segundo ele, o objetivo da viagem é buscar novas oportunidades no país, no contexto da transição energética. “O que está acontecendo agora é que, no desenvolvimento de campos de petróleo e gás, tanto existentes quanto novos, se está buscando formas diferentes de geração de energia elétrica para reduzir a pegada de carbono. Essa é uma das principais iniciativas que estamos conduzindo, com base em tecnologias de equipamentos submarinos”, afirma.
Petroleiras buscam formas de desenvolver campos existentes com menores custos e emissões, diz executivo
Digre explica que, com a transição energética, as petroleiras estão investindo menos na exploração em busca de novas descobertas de jazidas de petróleo, enquanto focam em maneiras de desenvolver os campos existentes com menores custos e emissões. “Isso vai gerar novas necessidades para a Petrobras e outros operadores, que vão precisar estender a vida dos campos, por exemplo. Eles vão ter que trabalhar mais no aumento da recuperação dos reservatórios, para aproveitá-los ao máximo”, diz.
Nesse contexto, uma área de grande interesse para a Aker e que tende a crescer são as atividades de conexões submarinas de plataformas existentes a novas descobertas de petróleo, solução usada para estender a vida de um campo ou para viabilizar descobertas menores. “As coisas estão mudando e isso vai abrir muitas oportunidades interessantes para nós no Brasil. Tivemos uma reunião com um operador recentemente que confirmou que aumentar o número de conexões submarinas é uma tendência. Fornecemos isso no Brasil", diz.
Na transição energética, a Aker vai focar em atuar no apoio aos segmentos de energia eólica marítima; captura, utilização e armazenamento de carbono; e hidrogênio. Até 2025, um terço da receita da empresa deve vir dessas novas iniciativas, segundo o presidente. Até o fim da década, a expectativa é que o óleo e gás represente apenas um terço do faturamento.
Com receitas globais de 29,5 bilhões de coroas norueguesas em 2021 (US$ 3,3 bilhões, na cotação do fim do ano), a Aker Solutions está no Brasil há quatro décadas e tem hoje 3 mil funcionários no país, distribuídos entre fábricas no Sul e Sudeste que produzem equipamentos, inclusive, para exportação. Segundo Digre, a companhia busca oportunidades de fusões e aquisições, assim como a contratação de novos talentos no Brasil.
A fábrica da empresa em São José dos Pinhais (PR) entrega módulos de controle e árvores de natal (equipamento que controla a vazão de petróleo e gás natural nos poços). “A maioria desses componentes entregues aos nossos clientes no mundo todo vêm daqui. O Brasil é um país que tem governança em óleo e gás, o que leva a iniciativas locais como exigência de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e de conteúdo local, isso nos ajuda a construir competências", comenta Digre.
Segundo ele, o Brasil está num momento de forte contratação para projetos que entrarão em produção nos próximos anos. A Petrobras conduz, atualmente, três licitações que envolvem equipamentos produzidos pela Aker no país. Há expectativa, ainda, de novas contratações no segundo semestre, para o desenvolvimento de novas fases em áreas de águas profundas, como o campo de Búzios, na Bacia de Santos, e projetos na Bacia de Sergipe-Alagoas, além de outras áreas no pré-sal.
Do ponto de vista tecnológico, a contratação mais importante à qual a Aker concorre este ano é conduzida pela Petrobras. Trata-se da licitação que vai selecionar fornecedores para desenvolver a tecnologia HISEP, no campo de Mero (Libra), no pré-sal da Bacia de Santos. A tecnologia, patenteada pela própria Petrobras, faz a separação e reinjeção, no fundo do mar, do gás com elevado teor de carbono produzido junto ao petróleo. Diversas descobertas no pré-sal têm alto teor de CO2. “É uma tecnologia pioneira, animadora, que vai quebrar recordes na tecnologia submarina. Tomara que sejamos escolhidos para fazer isso para a Petrobras aqui no Brasil”, afirma.
A Aker participa também de processos de contratação de equipamentos para projetos de outras companhias no Brasil, como a área de Pão de Açúcar operada pela Equinor na Bacia de Campos, e o campo de Lapa, operado pela TotalEnergies na Bacia de Santos. Além disso, a companhia está em contato com empresas menores, que compraram áreas vendidas pela Petrobras nos últimos anos. “Estamos estudando como desenvolver ainda mais os ativos que esses operadores assumiram e olhar para novas formas de operá-los”, diz.
Fonte: Valor