O gordo reajuste dos preços do minério de ferro esperado para este ano, na casa de 100%, já leva alguns bancos e consultorias a revisar drasticamente as suas estimativas para o saldo comercial. O forte aumento das cotações do produto deverá produzir um ganho substancial das exportações em 2010, elevando o superávit mesmo num cenário de forte elevação das importações . O Bradesco, que em fevereiro apostava num saldo de US$ 5,5 bilhões, hoje trabalha com US$ 18,4 bilhões. A LCA Consultores, por sua vez, vai elevar em breve a previsão de US$ 12 bilhões para US$ 20 bilhões ou US$ 21 bilhões. Além do aumento do minério, os analistas já incorporam nas previsões o impacto do reajuste sobre os preços do aço e, por tabela, nas exportações do produto. Em 2009, o saldo comercial ficou em US$ 25,3 bilhões.
O diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, diz que as sucessivas melhoras nas previsões para os preços do minério de ferro são de longe o fator mais importante para explicar o salto nas estimativas. Quando projetava um superávit de US$ 5,5 bilhões, o banco trabalhava com um reajuste de 20% nas cotações do produto. No momento em que passou a esperar uma alta de preços de 60%, o superávit esperado subiu para US$ 13,1 bilhões, também influenciado pela expectativa de uma alta no volume exportado de petróleo. Com base nas recentes notícias sobre as negociações da Vale com as siderúrgicas, o Bradesco reestimou o aumento para 90% a partir de abril, elevando para US$ 18,4 bilhões o saldo comercial projetado para 2010.
Em fevereiro, o banco esperava que as exportações de minério de ferro em 2010 totalizassem US$ 16 bilhões, número que hoje está em US$ 24,7 bilhões - em 2009, foram de US$ 13,3 bilhões. Além da alta de preços, o Bradesco elevou a previsão para o aumento do volume exportado de 10% para 15%.
Com a alta do minério, os preços do aço também sobem, melhorando o desempenho das exportações. Em vez de uma alta de 15%, o Bradesco passou a contar com um reajuste de 22% das cotações do aço. Fica claro que a melhora do saldo da balança se concentra no desempenho das exportações de commodities. Barros diz ainda que o banco elevou a projeção para o PIB dos países relevantes para a balança comercial, que inclui Argentina, China, EUA e os membros da zona do euro. "Há quatro meses, esperávamos um crescimento de 3,9%, que passou para 4,6%", diz Barros. Isso se traduz em maior demanda por produtos brasileiros.
O Bradesco aposta em exportações de US$ 196,7 bilhões em 2010, 28,5% a mais do que no ano passado. No caso das importações, a previsão é de alta de 39,6%, para US$ 178,2 bilhões, num cenário de forte aquecimento da economia - o Bradesco acabou de elevar a previsão de crescimento do PIB neste ano de 6% para 6,4%. A projeção anterior para as compras externas era de US$ 177,2 bilhões.
O economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, ainda faz os ajustes finais na sua estimativa para a balança, mas diz que o número ficará entre US$ 20 bilhões e US$ 21 bilhões, devido ao reajuste do minério de ferro e do aço. Num primeiro momento, os preços do minério poderão subir até 100%, avalia ele, observando que as cotações tenderão a sofrer variações depois, já que deverá ser adotado um sistema de correção trimestral. Nas contas de Borges, as exportações devem crescer 26,8% em valor em 2010, atingindo a casa de US$ 194 bilhões. Elas serão impulsionadas especialmente pela alta de preços, estimada por ele em 20,3% - o volume deve crescer 5,4%.
O economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Fernando Ribeiro, trabalha com um saldo comercial de US$ 10 bilhões neste ano, resultado de exportações de US$ 176 bilhões e importações de US$ 166 bilhões. No mês passado, ele elevou de 10% para 15% a previsão para o aumento das exportações, apostando em alta de 5% do volume e de 10% nos preços.
Neste mês, Ribeiro vai examinar mais uma vez os números, com base no resultado do comércio exterior no primeiro trimestre e em informações sobre a questão do minério de ferro, podendo elevar o saldo previsto para 2010 em função da melhora dos preços. Segundo ele, há uma situação melhor do que se vislumbrava para as cotações do minério de ferro, aço e também do petróleo.
Um superávit comercial na casa de US$ 20 bilhões é factível? "Não acho que seja impossível, mas hoje me parece um número otimista", diz ele, que espera alta de 30% nas importações, o que as levaria para US$ 166 bilhões, com aumento de 23% do volume importado.
Com o aumento expressivo do saldo comercial, o país terá neste ano um déficit menor em conta corrente, o resultado das transações de bens, serviços e rendas com o exterior. Borges deve reduzir a sua projeção para esse rombo de US$ 45,5 bilhões para US$ 37 bilhões, ou de 2,3% para 1,8% do PIB. O Bradesco passou a estimar um déficit de US$ 47,2 bilhões, ou 2,5% do PIB, depois de já ter projetado US$ 63,5 bilhões, ou 3,4% do PIB. Com isso, o Brasil deverá ter mais facilidade para financiar o déficit externo, diz Barros. Segundo ele, "as boas perspectivas para o crescimento, a existência de um baixo endividamento externo e interno em termos relativos ao mundo e um baixo prêmio de risco garantem esse financiamento".
Ainda assim, o banco mudou a sua expectativa para o câmbio no fim do ano de R$ 1,70 para R$ 1,90. Segundo Barros, a mudança se deve em parte à percepção de que "o dólar poderá ganhar alguma força em virtude da melhora das perspectiva para a economia americana". Ele acha também que haverá uma disputa maior entre os emergentes pelos fluxos de investimentos, o que fará com que o Brasil receba volumes menores do que se esperavam há alguns meses. O Bradesco estima que o país receberá US$ 30 bilhões de inversões estrangeiras diretas, abaixo dos US$ 45 bilhões projetados até o fim de fevereiro. Borges estima um dólar de R$ 1,75 no fim do ano, próximo ao R$ 1,778 de ontem. Para ele, a grande vantagem de um déficit em conta corrente menor será a menor volatilidade do câmbio, pois o país ficará menos dependente dos fluxos para a bolsa e a renda fixa para financiar o rombo externo. Além disso, ele projeta investimentos diretos de US$ 40 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/ Sergio Lamucci, de São Paulo
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