Prêmios de qualidade do minério acima das expectativas e preços altos devem compensar os embarques abaixo do esperado e garantir à Vale um “resultado sólido” nos três primeiros meses do ano. Estimativa compilada pelo Valor junto a quatro bancos e corretoras aponta para um lucro líquido médio de US$ 5,435 bilhões entre janeiro e março, o que, caso se confirme, significará uma expressiva alta de 2.174% frente ao ganho de US$ 239 milhões do primeiro trimestre do ano passado, quando a mineradora ainda sofria no balanço os efeitos do rompimento da barragem da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, com o fechamento de algumas áreas produtivas, e do início da pandemia, que tinha efeitos não apenas nas operações da empresa, mas também nos preços das commodities.
A média das estimativas para a receita líquida foi de US$ 13,421 bilhões, uma alta de 92,5% na comparação com os US$ 6,969 bilhões de um ano atrás. Já a estimativa média para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) foi de US$ 8,71 bilhões, 202,3% a mais que os US$ 2,88 bilhões do primeiro trimestre do ano passado.
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É bom lembrar que, embora não tenha registrado novas provisões por Brumadinho nos três primeiros meses de 2020, naquele trimestre o minério de ferro, principal produto da companhia, registrava cotação de US$ 89 por tonelada para o produto com 62% de teor de ferro. Neste ano, em igual período, o minério de ferro fechou com preço médio 87,6% maior - US$ 167 por tonelada.
Além disso, a mineradora brasileira acelerou tanto a produção, quanto as vendas. Este ano houve alta de 14,2% da produção de minério de ferro sobre igual período de 2020, para 68,045 milhões de toneladas, enquanto as vendas subiram 14,8% na mesma comparação, para 59,3 milhões de toneladas. Ou seja, a companhia produziu e vendeu volumes mais altos em um cenário de preços significativamente maiores. Tudo isso num ambiente menos pressionado pelos efeitos de Brumadinho.
O Valor compilou as estimativas de Itaú BBA, Bradesco BBI, BTG Pactual e XP Investimentos. As projeções para o lucro líquido variaram de US$ 4,57 bilhões do Itaú BBA a US$ 6,5 bilhões do BTG, enquanto a receita líquida foi de US$ 12,7 bilhões do Bradesco BBI a US$ 13,97 bilhões do BTG. Já o intervalo das estimativas para o Ebitda ficou entre US$ 8,12 bilhões do Bradesco BBI e US$ 9,32 bilhões do BTG.
O Itaú BBA, em relatório assinado por Daniel Sasson, Ricardo Monegaglia e Edgard Pinto de Souza, lembra que as vendas de minério de ferro e pelotas, de 65,6 milhões de toneladas - divulgadas no relatório de produção da empresa, no dia 19 de abril - ficaram 4% abaixo das estimativas dos analistas do banco, apesar de terem ficado 11% acima de igual período do ano passado. O relatório frisa que os prêmios de qualidade ficaram em US$ 8,3 por tonelada entre janeiro e março, acima do previsto.
Segundo os analistas, com todas essas informações, eles estão “confortáveis” com a estimativa de Ebitda de US$ 8,3 bilhões para a Vale no primeiro trimestre do ano.
“Esperamos que a perda de 2,6 milhões de toneladas em relação à nossa projeção para as vendas de minério de ferro (4% abaixo da nossa estimativa) e os volumes mais fracos que o esperado na divisão de metais básicos sejam compensados pelos prêmios por qualidade levemente maiores que o antecipado”, diz o relatório, acrescentando que a forte performance de preços do minério, níquel e cobre deve ser destacada no trimestre, ajudando a minimizar os impactos negativos da menor diluição dos custos fixos, do custo mais alto das compras de minério de terceiros e dos custos de frete levemente mais altos.
O Bradesco BBI, em relatório assinado por Thiago Lofiego e Isabella Vasconcelos, destacou que a alta dos preços do minério de ferro foi acompanhada pelo avanço dos prêmios pagos pela qualidade do produto. Nesse sentido, o banco estimou um preço médio realizado no primeiro trimestre ao redor de US$ 155 por tonelada, o que, caso se confirme, ficará bem acima dos US$ 83,8 por tonelada do primeiro trimestre do ano passado.
Fonte: Valor