A mineradora Anglo American anunciou que terá uma baixa contábil de US$ 4 bilhões em seu balanço de 2012 referente à operação de minério de ferro Minas-Rio, em Minas Gerais e Rio. O anúncio, que já era esperado pelo mercado, foi necessário após vários atrasos nas obras.
A companhia comprou o projeto Minas-Rio da MMX, mineradora de Eike Batista, em 2007, por US$ 5,2 bilhões, e tinha o objetivo de começar a operar em 2010. Agora, a previsão é de fazer o primeiro embarque de minério no fim de 2014. Com uma série de problemas com licenças ambientais e compras de terrenos, o projeto ganhou uma nova dimensão: além dos quatro anos de atraso, exigirá o triplo do esperado em desembolsos. A princípio, a empresa estimava investir US$ 3 bilhões. Ontem, anunciou que o aporte necessário subiu para US$ 8,8 bilhões, também acima da última estimativa, de US$ 5,8 bilhões. Segundo René Medori, diretor financeiro da empresa, já foram investidos US$ 3,8 bilhões.
Os US$ 8,8 bilhões previstos incluem US$ 600 milhões de contingências para que consiga lidar "com uma série de fatores potenciais" para que consiga cumprir o cronograma do projeto. Esses fatores incluem a finalização das obras civis e de terraplenagem em terras que ainda precisam ser acessadas.
O Minas-Rio é dividido em quatro partes: a mina, a unidade de beneficiamento, um mineroduto de 525 quilômetros, que atravessa 32 municípios mineiros e fluminenses, e obras no Porto de Açu, em São João da Barra (RJ), de onde a commodity será exportada.
A meta da companhia, de realizar seu primeiro embarque em 2014, não deve ser cumprida, na opinião de analistas. Para Tony Robson, da BMO Capital Markets, a Anglo American conseguirá fazer seu primeiro carregamento apenas no primeiro semestre de 2016.
Estágio atual das obras varia de 46% na área de mineração, em MG, a 66% na construção do mineroduto até o porto
Para cumprir o prazo, a mineradora informa que precisa garantir que pelo menos três questões sejam resolvidas neste ano. Uma delas é que limitações relacionadas ao acesso às terras do projeto sejam solucionadas até março. Outra premissa é o início das atividades de implantação da mina (ou "pre-stripping", o último passo antes do início da mineração) em abril. Segundo a empresa, antes disso, trabalhos adicionais são necessários para solucionar aspectos relativos a cavernas na região das minas.
A Anglo American precisa ainda concluir até o fim de maio a barragem de rejeitos na unidade de beneficiamento de minério. A barragem deve estar pronta para ser preenchida durante o próximo período de chuvas. Além disso, a companhia também conta com a inexistência de intervenções inesperadas, como liminares relativas às licenças do projeto. Das 300 necessárias, a companhia ainda precisa obter 17.
Cynthia Carroll, presidente da mineradora, disse em nota divulgada ontem que considera que os riscos previstos daqui em diante são bem menores que os anteriores. Ela também afirmou que a falta de clareza sobre o processo regulatório no Brasil foi um dos principais contratempos ao projeto. No ano passado, a empresa teve três ações civis públicas e algumas partes do projeto ficaram paralisadas. A primeira parte das obras na área da mina ficaram paradas de 20 de março até 14 de setembro, e a obra para implantação da linha de transmissão de energia de transmissão de planta de beneficiamento ficou parada de 12 de abril até 20 de dezembro. Hoje, ambas estão em andamento.
Todos os atrasos e aumentos de custos relativos com o projeto contribuíram para a saída de Cynthia, que deixará a empresa em abril e será substituída por Mark Cutifani. Hoje, ele dirige a sul-africana AngloGold Ashanti e, na visão de analistas, terá entre seus principais desafios colocar Minas-Rio em operação.
Conforme a companhia, o estágio atual das obras no Minas-Rio é de 46% na área de mineração; 53% nas instalações da unidade de beneficiamento do minério; 66% no mineroduto e de 52% nas operações do porto de Açu.
Em apresentação enviada ontem a acionistas, a companhia disse que a atratividade e o posicionamento estratégico do projeto Minas-Rio continuam intactos. Ela destaca o alto grau de qualidade e o grande potencial de produção: poderá ir das 26,5 milhões de toneladas ao ano iniciais a 90 milhões de toneladas. Já os recursos identificados até o momento, disse, são de 5,77 bilhões de toneladas de minério de ferro. E que poderá produzir uma tonelada por apenas US$ 30 e vendê-la por US$ 80.
O Minas-Rio vem sendo priorizado pela companhia, que janeiro vendeu sua participação de 70% em uma mina de minério de ferro no Amapá para a suiça Zamin Ferrous. O valor não foi divulgado, mas era estimado pelo mercado em torno de US$ 210 milhões. Na ocasião, analistas disseram que o objetivo da companhia com a venda foi focar seus recursos no projeto Minas-Rio.
Em relatório, o Citigroup disse que a baixa contábil pode ter sido pequena demais, considerando os investimentos já feitos e ainda necessários para a conclusão do empreendimento. Os analistas John Tumazos, da JTVI Research, e Robson, da BMO Capital Markets, por sua vez, disseram que a baixa contábil, já esperada, trouxe alívio ao mercado, e que o aumento de capital para investimento no projeto ficou em linha com as estimativas.
Fonte:Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo/Colaboraram Ana Fernandes e Renato Rostás)
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