A Royal Dutch Shell conseguiu o apoio dos acionistas para seu plano de transição energética, mas a companhia de petróleo também enfrenta um apoio crescente às demandas de um grupo ativista para que estabeleça metas mais ambiciosas de combate às mudanças climáticas.
Quase 89% dos acionistas presentes no encontro anual com os investidores ontem votaram a favor da estratégia da petroleira de criar uma empresa com emissões zero até 2050.
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O voto dos acionistas sobre a estratégia corporativa, embora não compulsório, foi algo sem precedentes para uma grande companhia de petróleo e gás e não alcançou o apoio de mais de 95% dos acionistas, geralmente necessário para que as propostas sejam levadas adiante pela administração.
A Shell também enfrentou uma rebelião de acionistas por causa de uma resolução separada do acionista ativista holandês Follow This, que queria que a companhia definisse metas mais “inspiradoras”, que atraíram o apoio de 30% dos acionistas.
Embora a proposta não tenha conseguido atrair o limite de 75% necessário para aprovação, o grupo conseguiu mais que dobrar a base de apoio a partir de uma votação parecida realizada no ano passado. As regras de governança corporativa do Reino Unido ditam que a Shell agora terá que consultar esses acionistas e se reportar de volta dentro de seis meses.
“Os acionistas estão emitindo um sinal forte de que a Shell terá de estabelecer novas metas”, afirmou Mark van Baal, da Follow This, que apresentou uma resolução parecida na assembleia de acionistas da concorrente BP na semana passada.
A reunião coincidiu com um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) afirmando que todos os novos projetos de exploração de petróleo, gás e carvão terão de ser interrompidos se os governos quiserem mesmo cumprir as metas do Acordo de Paris de 2015. O relatório também diz que a demanda por petróleo terá de encolher quase 75% até 2050, enquanto o consumo de gás terá de cair à metade.
Enquanto isso, a Shell continuará explorando petróleo e gás em novas regiões até 2025. Ela também pretende investir a maior parte de seu caixa em hidrocarbonetos no futuro previsível, almejando ao mesmo tempo direcionar seus gastos para combustíveis mais limpos “com o tempo”, ampliar seus negócios de baixas emissões de carbono e compensar as emissões.
As empresas de petróleo e gás vêm enfrentando uma reação de ambientalistas e alguns investidores, que acreditam que elas não estão adotando medidas drásticas o suficiente para combater as mudanças climáticas.
Mas os executivos enfrentam um problema: como se afastar da produção lucrativa de petróleo e gás que paga os dividendos que os acionistas ainda buscam, quando os negócios com baixas emissões de carbono ainda não são capazes de gerar tanto dinheiro.
Ben van Beurden, diretor-presidente da Shell, disse que embora a companhia queira “acelerar a transição” da empresa em direção a combustíveis mais limpos, ela precisa fazer isso não só “com propósito”, mas também “com lucro”.
“Se tivermos que reduzir a pegada de combustíveis fósseis da empresa, isso ajudará a sociedade? Não”, disse van Beurden aos acionistas. “Se nós simplesmente não fornecermos [esse petróleo e gás], alguém mais o fará.”
Embora a Shell pretenda reduzir as emissões para zero, numa base absoluta, até 2050, suas metas de prazos mais curtos estão em grande parte voltadas para a “intensidade energética”, uma medida de carbono por megajoule de energia vendida, que vêm enfrentando críticas.
Fonte: Valor