Empurradas pelo agronegócio, as exportações de Mato Grosso caminham neste ano para bater os números recordes alcançados em 2020, quando as vendas externas aproximaram-se de US$ 18,23 bilhões, avançando quase 6% em relação aos US$ 17,21 bilhões exportados no ano anterior. A soja deverá desempenhar papel central na trajetória antecipada para o setor externo.
“O Estado deverá registrar novo recorde na exportação do grão em 2021, superando o número do ano passado”, diz Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea). Atualmente, acrescenta ele, o Estado destina ao mercado externo entre 60% e 63% da produção da oleaginosa.
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As projeções consideram o valor baixo dos estoques globais de soja e também de milho, e a forte demanda asiática, sobretudo da China. Economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato lembra que o mercado chinês representou quase 30% das exportações do Estado no ano passado, respondendo por US$ 5,45 bilhões em vendas, num salto de 137% em relação a 2019 - o que significa dizer que praticamente um terço do avanço geral experimentado pelo total das vendas externas mato-grossenses deveu-se à contribuição chinesa.
“Não temos projeções específicas para o Estado, mas para o Brasil projetamos alta de 5,4% do volume exportado em 2021, impulsionada pelo crescimento global. Parte disso será de commodities, o que deve beneficiar também as exportações agrícolas do Mato Grosso”, afirma Honorato.
Com participação de 98,4% no total exportado pelo Estado, as exportações do agronegócio mato-grossense atingiram igualmente números históricos em 2020, avançando de US$ 16,85 bilhões para US$ 17,95 bilhões, em alta de 6,5%. Em uma década, as exportações totais subiram 115,5%, com salto de 116% para as vendas realizadas lá fora pelo agronegócio. Honorato estima que a soja tenha registrado participação de 51% no total exportado, seguida por algodão bruto, com 17%, e pelo milho, com uma fatia de 7,7%.
Desde 2020, observa Latorraca, registra-se uma escalada na demanda global por alimentos, o que fez com que o mercado chegasse ao começo deste ano desabastecido. “Falta grão no planeta. Os estoques apontados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) não existem na realidade”, diz o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), Marcos da Rosa. Além disso, a conversão estrutural no setor de produção de carne suína na China, com instalação de granjas mais modernas, incrementou o consumo interno de milho e deverá transformar o país em importador do grão.
“A China deve começar a comprar milho brasileiro em 2022”, sugere Latorraca. Os dados do USDA mostram queda de 11,6% nos estoques mundiais desde 2018/19 e um salto de 435,7% nas importações chinesas, previstas em 24 milhões de toneladas no ciclo 2020/21, em torno de 9,2% da produção global.
As estatísticas divulgadas mostram que o ano começou com forte aceleração das exportações, influenciada muito mais pela alta dos preços médios dos produtos exportados, com destaque para farelo de soja e soja em grão, milho e algodão. Os volumes embarcados avançaram muito menos ou chegaram a registrar alguma baixa em função do atraso na colheita das lavouras de soja nos primeiros dois meses de 2021.
No primeiro trimestre, as vendas externas totais cresceram 16,5% frente ao mesmo período do ano passado, avançando de US$ 4,34 bilhões para US$ 5,06 bilhões. Novamente, o agronegócio fez toda a diferença, com alta de quase 17% nas vendas externas, que subiram de quase US$ 4,27 bilhões para US$ 4,99 bilhões, representando 98,85% do total. O volume embarcado, no entanto, cresceu apenas 2,45%, para 10,5 milhões de toneladas - refletindo principalmente a redução de 7,2% nos embarques de soja em grão, que baixaram de 6,94 milhões para 6,44 milhões de toneladas.
Desse total, aponta Latorraca, em torno de 63,3% foram destinados ao mercado chinês.
Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt), Gustavo de Oliveira, o desempenho das exportações tem contribuído para dar alguma sustentação à atividade econômica local em tempos de pandemia e de medidas de restrição à circulação de pessoas. “A exportação gera oportunidades de negócios, com efeitos domésticos também”, afirma, lembrando que o Estado responde por praticamente um quinto das exportações totais do país no segmento do agronegócio.
O Estado deverá elevar sua participação nas exportações de carne bovina da Marfrig para alguma coisa acima dos quase 25% registrados em 2020, tendo principal destino o mercado asiático. No ano passado, a China assumiu participação de 47,2% nas exportações de carne bovina de Mato Grosso, com vendas de US$ 794,8 milhões e salto de 93,6% em relação a 2019. O frigorífico tem incrementado o investimento no modal ferroviário, que passou a responder pela movimentação de 30% de todo o volume exportado pela Marfrig.
O escoamento da produção a partir de Mato Grosso tem sido realizado pelos trilhos da Rumo entre Rondonópolis e Santos. O número de contêineres transportados por ferrovia, que recentemente avançou de 50 para 300, deverá atingir em torno de 500 unidades neste ano, de acordo com a empresa.
Fonte: Valor