Após um ano de baixas contábeis, cortes de custo, ajustes internos e vendas de ativos, a mineração global passará agora por um momento de união de companhias. Essa é a avaliação de John Gravelle, principal executivo global da área de mineração da PriceWaterhouseCoopers (PwC), que esteve no Brasil e falou com exclusividade ao Valor PRO, serviço de tempo real do Valor.
Gravelle passa a maior parte do ano visitando mineradoras em todo o mundo e, segundo ele, as conversas mais recentes com os principais executivos do setor indicam que as companhias têm cada vez mais optado pela realização de joint ventures para conseguir financiar seus empreendimentos.
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Entre tantos projetos que despontaram nos últimos anos, os que tendem a ser levados adiante são apenas aqueles que tiverem alta qualidade mineral e baixos riscos, acrescenta o executivo.
"Começa um novo ciclo. As empresas estão revisando seus planos estratégicos, estão mais seletivas e buscando joint ventures, priorizando os projetos melhores. Estão buscando formas de conseguir um posicionamento forte para os próximos anos", afirma.
No ano passado, diversas gigantes globais do setor anunciaram baixas contábeis e venderam ativos pelo mundo. Rio Tinto e Anglo American, Barrick Gold e GlencoreXstrata lideraram as baixas ("impairments"). No Brasil, o mais expressivo foi o anúncio de uma baixa de US$ 4 bilhões da Anglo American no projeto de minério de ferro Minas-Rio. Analistas calculam que o valor das baixas somou US$ 50 bilhões em todo o mundo.
Sobre a distribuição global dos recursos, a percepção de Gravelle é a de que os países emergentes serão menos atrativos para as joint ventures e outros investimentos em mineração, por apresentarem alguns riscos adicionais. Ronaldo Valiño, analista de mineração da PwC no Brasil acrescenta que os projetos acabam ficando mais caros em países menos desenvolvidos por causa da necessidade de se investir também em infraestrutura.
Em estudo que acaba de finalizar sobre o tema, Gravelle diz que muitos executivos afirmam preferem não se envolver sozinhos em grandes projetos ou aquisições de volumes muito elevados.
Essa aversão já teve impacto no ano passado no número de fusões e aquisições em mineração. Em 2013, que foi o pior ano desde 2005, houve uma redução de 20% no volume de negócios, com 1.437 transações, ante 1.803 em 2012. Em valores, a queda foi de 35%, para US$ 36 bilhões, ante US$ 56 bilhões, sem considerar a fusão entre a Glencore e a Xtrata, que movimentou US$ 54 bilhões em 2012.
As cinco maiores fusões e aquisições do mundo em 2013 mostram que houve uma mudança na natureza desses negócios, diz ainda a PwC (Veja mais na tabela). Ao invés de fechar grandes negócios, as companhias já preferiram comprar pequenas fatias de projetos. Os executivos estão "alçando voos mais baixos", diz o executivo, optando por joint ventures em ativos estratégicos em vez de assumir todo o risco associado a uma aquisição completa.
Há uma maior dificuldade de financiar projetos mais caros, uma grande pressão para que a viabilidade de projetos de médio e longo prazos seja reavaliada e um maior foco na divisão dos riscos, diz ainda a consultoria. "Há uma ideia de 'não assumir riscos' em toda a indústria da mineração. Ainda assim, as empresas precisam continuar a encontrar maneiras de crescer e garantir seu futuro", afirma Gravelle.
Neste contexto, ele acredita que serão mais frequentes as joint ventures entre companhias que têm caixa e capacidade de financiamento com empresas com projetos de qualidade ou com grande potencial para elevar a produção. Ele destaca que investidores asiáticos vão despontar mais como sócios com capacidade de financiar projetos em acordos em que possam a ser donos de parte dos recursos.
Entre as joint venture recentes no mundo, ele cita a da mineradora Wallbridge Mining, que se uniu à Lonmin, no Canadá, para explorar platina, cobre, níquel e ouro. Outro exemplo foi o acordo em que a Nordgold se uniu à Columbus Gold em projetos de ouro na Guiana Francesa. A PwC cita ainda no estudo a parceria entre Copper Fox Metals e Teck Resouces no projeto Schaft Creek, de cobre, ouro e prata, no Canadá.
Na América Latina, a PwC destaca o acordo entre a Polar Star Mining e a Newmont Mining para explorar cobre no Chile.
Entre projetos com potencial de anúncios de joint ventures, Gravelle cita o caso da Rio Tinto com a jazida de ferro de Simandou, na Guiné. A companhia anunciou que está em busca de parceiros investidores para o projeto. Em fevereiro, seu principal executivo, Sam Walsh, afirmou em teleconferência que um parceiro reduziria o risco da empresa e possibilitaria uma mudança significativa no projeto.
Gravelle também espera o aumento de joint ventures entre parceiros de históricos diferentes, como fundos soberanos com companhias de produção dos metais e minérios. Na sua experiência na PwC, esse modelo de união é mais fácil no que diz respeito aos termos e condições. Outra expectativa dele é de que aconteçam investimentos de private equity, já que há fundos do setor que captaram em 2013 e ainda não fizeram aportes.
O executivo da área de mineração da PwC comenta, entretanto, que a formação de joint ventures tem suas desvantagens. Em mineração, ele cita como a principal delas a possibilidade de falta de acordo entre os sócios, o que pode levar a atrasos na tomada de decisões.
Ele lembra que os preços das commodities metálicas e minerais estão, em geral, bastante pressionados nos últimos anos, com a desaceleração global. Na visão dele, a continuidade da urbanização na China, na Índia e em países africanos, como a Nigéria, tende a contribuir para uma aceleração da demanda global nos próximos anos, o que levará os preços das commodities metálicas e minerais a uma recuperação.
Gravelle aposta no ouro como o metal que poderá mostrar uma melhora antes dos demais, com seu preço favorecido pelo aumento da demanda global. Ainda que a oferta também esteja em alta, ele diz que os fundos de investimento que estavam vendendo ouro nos últimos meses agora estão parando, o que está limitando o excesso de volume ofertado.
Em relação ao minério de ferro, o executivo diz acreditar que a demanda chinesa continua a sustentar os preços em um patamar adequado para os produtores brasileiros. Ele destaca que o minério de origem do Brasil, por ter um teor mais alto de ferro, tende a ser preferido nos próximos anos por causa das preocupações ambientais. Quanto mais puro é o minério, menor é o gasto de energia e a emissão de poluentes para a produção do aço.
Depois da passagam no Brasil, Gravelle seguiu para China, onde tinha reuniões com executivos de mineração. Em seguida, passaria pela Austrália, antes de retornar ao Canadá, onde está baseado.
Fonte:: Valor Econômico/Olivia Alonso | De São Paulo