Analistas do banco de investimentos BTG Pactual acreditam que o impacto direto sobre a economia brasileira tende a ser limitado se forem mesmo adotadas as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciados pelo presidente americano, Donald Trump, porque as exportações brasileiras para os Estados Unidos, representam apenas 12% do total enviado ao exterior, ou cerca de 1,7% do PIB. Mas destacam que as consequências políticas podem ser mais profundas. A conclusão faz parte de relatório divulgado nesta quinta-feira (10), um dia após o anúncio do governante americano.
Segundo o estudo, assinado por Carlos Sequeira, Leonardo Correa e outros analistas sêniores do banco, caso as tarifas não sejam revertidas, o superávit comercial brasileiro pode cair US$ 7 bilhões em 2025 e US$ 13 bilhões em 2026, mesmo com parte das exportações sendo redirecionadas a outros mercados.
Mas os impactos não serão uniformes. O BTG alerta que setores com forte dependência do mercado norte-americano, como aviação, papel e celulose, materiais de construção e madeira, devem sentir os efeitos mais fortes. Uma das empresas mais prejudicadas deve ser a Embraer, que tem aproximadamente 60% de suas vendas voltadas aos EUA.
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Os jatos executivos Praetor, montados no Brasil, podem ser diretamente afetados. Já os jatos Phenom, fabricados na Flórida, teriam impacto menor. O BTG estima que uma tarifa de 50% pode reduzir as margens da empresa, tornando mais provável a revisão de suas projeções para os próximos anos. Já para a fabricante WEG, gigante industrial brasileira, a preocupação deve ser com os transformadores e motores exportados aos Estados Unidos, que representam cerca de 30% das vendas no país. A empresa pode considerar alternativas, como ampliar a produção local ou transferir parte das operações para o México.
A Suzano, que tem cerca de 19% de sua receita oriundos de exportação ao mercado norte-americano, prevê o estudo, terá dificuldades para redirecionar o volume exportado. Com a demanda global por celulose ainda fraca, será um desafio para a empresa e para o setor buscar novos mercados em curto prazo. ainda que os preços atuais estejam próximos de um piso.
Segundo os analistas, há setores que devem passar praticamente ilesos. Petróleo e derivados, por exemplo, seguem isentos segundo ordens executivas anteriores, a Petrobras destina apenas 4% de seu petróleo bruto aos Estados Unidos e esse volume, prevê o estudo do BTG, poderia ser facilmente exportado para outros países. Os economistas do banco avaliam que o setor siderúrgico também não deve ser impactado pelas novas medidas, já que produtos como placas de aço são taxados acima de 50% desde 2018.
Os analistas BTG argumentam que, apesar de a tarifa tornar inviável a exportação de carne bovina aos Estados Unidos, a maioria das empresas do setor tem baixa dependência do mercado americano, com destaque para Marfrig (2% da receita) e Minerva (5%). A Jalles Machado, que exporta açúcar orgânico para os americanos, pode, segundo eles, ter perda, embora isso represente atualmente algo em torno de 5% de sua receita.
Para o BTG, as implicações políticas da medida podem ser mais duradouras que os impactos econômicos imediatos. O banco avalia que a postura de Trump fortalece o presidente Luiz Inácio Lula da Silva internamente, permitindo que ele se posicione como defensor da soberania brasileira contra uma tentativa de intervenção estrangeira, o que pode levar a uma guerra tarifária.