A ArcelorMittal quer aumentar sua produção de bobinas de aço e de bobinas a frio. O anúncio foi divulgado pelo jornal “A Gazeta”, da última sexta-feira (9). Segundo a siderúrgica, a idéia é que os novos planos estejam em atividade até 2014. Entretanto, nada foi acordado ainda para que a siderúrgica cumpra as medidas mitigadoras da poluição produzida por ela, conforme exigido pela sociedade, antes mesmo desta expansão.
Para expandir, além de aumentar sua produção de bobinas de aço a quente de 4 milhões para 7,5 milhões de toneladas por ano, e de bobinas a frio de 1,3 milhão para 2 milhões de toneladas por ano, a Arcelor quer instalar aqui um processo antes só desenvolvido em Santa Catarina. A idéia dos indianos é construir aqui uma unidade de produção de tiras a frio.
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Em contrapartida aos planos, nada é dito sobre as medidas mitigadoras exigidas para que a siderúrgica minimize a poluição que despeja no ar da Grande Vitória. A empresa continua se recusando a atender às exigências da sociedade.
Segundo a minuta apresentada pela Associação dos Bairros de Vitória, a comunidade exige que a Arcelor Mittal adote aqui as mesmas tecnologias utilizadas em suas usinas na França, Bélgica e Canadá. Trata-se de lavadores de gases, que, instalados nas usinas, diminuem a emissão de gases tóxicos e particulados.
As reivindicações ainda não foram consideradas pela siderúrgica, que afirma atuar em conformidade com a legislação ambiental e que já utiliza mecanismos para minimizar suas emissões, como o cinturão verde que a envolve em parte.
A negociação vem sendo feita através do Ministério Público Estadual (MPES) e a intenção é que um Termo de Compromisso Ambiental – antigo Termo de Ajustamento de Conduta – seja assinado entre as partes.
A semelhança entre as duas empresas, no entanto, não se limita ao impacto ambiental que geram no Estado. Ambas anunciaram suas expansões na mesma ocasião em que a sociedade exigia, de fato, iniciativas para minimizarem suas emissões de poluentes no ar da Grande Vitória.
O acordo foi, portanto, uma espécie de moeda de troca para os mais céticos. No caso da Vale, o Termo de Compromisso Ambiental (TCA), só foi assinado porque a licença para sua expansão foi colocada em risco, caso a mineradora não adotasse as medidas mitigadoras exigidas pela sociedade. Entre as medidas que deverão ser adotadas até o fim de 2010 estão a instalação das redes Wind Fence; a troca de seus carregadores de navios por um novo modelo que inclua uma trompa capaz de impedir a dispersão do minério no ar e no mar e a instalação de sistemas de aspersão de água no processo de manuseio do pó e de aspersão de polímeros nas pilhas de minério.
Grande parte das exigências era cobrada há mais de 22 anos à Vale, sem solução. Mesmo com o acordo firmado, dizem os ambientalistas, será necessário aguardar o fim das obras, para avaliar se, de fato, as medidas irão ou não mitigar seus impactos, já que as exigências vêm sendo cumpridas no mesmo momento em que ela aumenta sua produção.
A Vale atualmente constrói sua 8ª usina no porto de Tubarão. Com isso, ela irá agregar 7,5 milhões de toneladas aço por ano à sua produção de 25 milhões de toneladas por ano de pelotas de minério de ferro das sete usinas em atividade (destas, cinco em parceria com outras empresas). A mineradora já deixou claro também que vai otimizar a produção das atuais usinas, atingindo uma produção de 39 milhões de toneladas de pelotas de ferro por ano. Na prática, dizem os especialistas, a otimização das sete usinas equivale à sua 9ª pelotizadora em Tubarão.
Já a antiga CST, conhecida por descumprir condicionantes ambientais, mantém o jogo duro e ainda não aceitou as exigências das sociedade.
A expectativa da sociedade, no entanto, é que o MPES seja duro e não permita qualquer expansão, até que a antiga CST se adapte às exigências feitas.
Segundo a Arcelor, para expandir a produção de energia, haverá investimentos na atual infraestrutura de Tubarão e a logística de produção também deverá ser ampliada.
Movimento agressivo
A Vale está apressando a construção da sua oitava usina, no porto de Tubarão. As contratações de serviços de montagem da usina, previstas para julho, serão finalizadas este mês, acelerando a conclusão das obras. A medida, segundo especialista, faz parte de um movimento agressivo da mineradora para comandar o preço do minério de ferro no mercado.
A informação é que a mineradora quer atingir sua capacidade máxima de produção e monopolizar o preço do minério de ferro. Consequentemente, o mesmo movimento vem sendo assistido também nas ações da Arcelor.
A siderúrigca vai retomar as atividades do seu alto-forno 2, na Serra, até o final do mês de abril. A informação foi divulgada pelo jornal “Valor Econômico”, que divulgou também estar a siderúrgica operando com 100% da capacidade dos seus dois alto-fornos restantes. Atualmente, a siderúrgica opera com 87% da sua capacidade.
A empresa também anuncia que, após 27 anos de funcionamento - recorde mundial – o alto forno 1 só será reformado em 2012.
Neste contexto, o que é chamado de 3º ciclo de desenvolvimento pelo governador Paulo Hartung significa, para os capixabas, uma queda brusca na qualidade de vida e lucros exorbitantes para as indústrias.
Fonte: Século/Flavia Bernardes