O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME), Márcio Félix, disse nesta quarta-feira que empresários argentinos estão se movimentando para exportar gás natural para o Brasil.
“As coisas estão acontecendo numa velocidade que a gente não dá conta de acompanhar. Mas existe um movimento por parte da indústria argentina, do governo argentino, de viabilizar a conexão com o Brasil, pelo gasoduto entre Uruguaiana (RS) e Porto Alegre (RS)”, afirmou a jornalistas após participar do Seminário de Gás Natural do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).
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Ele mencionou que a inciativa privada do país vizinho está construindo um gasoduto para escoar a produção da área de gás não convencional de Vaca Muerta até Buenos Aires. Esse projeto deve reduzir a demanda argentina por gás boliviano, o que tem potencial para mexer nos preços do gás que o Brasil importa da Bolívia.
“A Argentina já exportou sua primeira carga de gás natural liquefeito (GNL) e pode ter uma sobra de 20 milhões de metros cúbicos diários (m3/dia) em determinadas épocas do ano [para exportar]. O destino mais fácil é vir para o Brasil”, comentou.
Do lado brasileiro, a Transportadora Sulbrasileira e Gás (TSB) opera um gasoduto que liga a Argentina a uma termelétrica em Uruguaiana (RS), mas tem um projeto para construção de um gasoduto entre Uruguaiana e Porto Alegre, de 615 quilômetros de extensão.
A TSB é uma empresa da Petrobras, Ipiranga Produtos de Petróleo, Repsol e Total, cada uma com 25% de participação. Segundo Félix, o novo cenário de integração pode estimular a entrada de novos investidores privados no projeto da TSB.
“Já vejo movimento nesse sentido [para construção do gasoduto”, disse.
Questionado se as eleições presidenciais argentinas podem comprometer a integração com o Brasil, Félix disse que o pleito lança "novos desafios" ao projeto. Outra opção seria a Argentina exportar para o Brasil via gás natural liquefeito (GNL).
"É uma questão de necessidade para a Argentina [buscar novos mercados]", comentou.
Espaço para importação
O presidente da Shell no Brasil, André Araújo, disse que a companhia vê espaço para fornecer gás natural ao mercado brasileiro não só a partir de suas reservas no país, mas também a partir de importação do produto.
“Estamos olhando todas as opções. A Shell é um grande player mundial em gás e tem interesse em aproveitar as oportunidades. Isso serve para gás oriundo da Bolívia, eventualmente, futuramente, da Argentina, do nosso próprio gás do Brasil ou GNL [gás natural liquefeito]”, disse durante o seminário do IBP, ao ser questionado se a empresa prevê trazer parte de sua produção na Bolívia para o Brasil.
Nesta semana, a Shell avançou para a terceira fase da chamada pública coordenada pelas distribuidoras de gás canalizado MSGás (MS), Gas Brasiliano (SP), Compagas (PR), SCGás (SC) e Sulgás (RS). As concessionárias entraram em negociações finais com os potenciais fornecedores para contratação de gás a partir de 2020, por meio do gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol).
A lista de empresas que negociam com as cinco companhias inclui a Shell, a Petrobras, a Total e a boliviana YPFB.
A Shell está num momento de expansão de suas atividades no Brasil, para além do setor de petróleo e biocombustíveis, e tem interesse em fortalecer sua posição nos setores de energia elétrica e gás natural.
Em fevereiro, a empresa anunciou a sua estreia no setor de energia, no Brasil, ao entrar com uma fatia de 29,9% no consórcio responsável pela construção da termelétrica a gás de Marlim Azul (565 megawatts), em Macaé (RJ), ao lado do Pátria Investimentos e da Mitsubishi. A unidade consumirá o gás da Shell do pré-sal.Nesta quarta, o presidente da companhia anunciou ainda uma nova descoberta no pré-sal da Bacia de Santos.
Fonte: Valor