O falecido presidente venezuelano Hugo Chávez costumava recriminar a velha administração da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) por vender petróleo para a Europa. Chávez, que morreu em março de 2013, dizia que as vendas da PDVSA para a Alemanha, Reino Unido e Suécia não faziam sentido comercial por causa da distância envolvida e da proximidade dos consumidores europeus com os fornecedores do Oriente Médio.
Passados 15 anos, a PDVSA está firme nas mãos dos partidários do falecido presidente. No ano passado, a PDVSA enviou mais petróleo para a Ásia do que para a América do Norte, algo inédito na história da companhia, muito embora leve um mês para o óleo bruto da Venezuela chegar à China e à Índia.
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As vendas para a Ásia cresceram 11%, para cerca de 1,03 milhão de barris por dia, enquanto as vendas para a América do Norte, principalmente Estados Unidos, caíram 12%, para 879 mil barris/dia. Hoje, as velhas críticas de Chávez sobre o fornecimento a países distantes estão esquecidas, enquanto seus sucessores aplaudem a expansão da presença da Venezuela na Ásia.
O aumento das vendas à China é principalmente uma consequência da disparada do endividamento da Venezuela com Pequim. Nos últimos anos, a Venezuela tomou emprestados mais de US$ 40 bilhões da China para cobrir rombos orçamentários, e esses empréstimos são pagos com petróleo. "As vendas à China podem estar aumentando", diz Fernando Sanchez, vice-presidente da Sociedade dos Engenheiros Venezuelanos do Petróleo. "Mas a companhia não ganha dinheiro com elas. É com os Estados Unidos que eles ganham dinheiro vendendo petróleo."
A situação da PDVSA seria administrável se a produção de petróleo estivesse aumentando, o que não acontece. Isso significa que qualquer aumento das remessas para a China ocorre por meio de uma redução das vendas para o mercado americano, que já chegou a comprar 1,5 milhão de barris/dia.
A Venezuela é dona das maiores reservas de petróleo do mundo, correspondente a 297 bilhões de barris. Mesmo assim, segundo o Ministério do Petróleo venezuelano, a produção de óleo bruto vem apresentando queda há dois anos, encolhendo de 2,99 milhões de barris/dia em 2011 para 2,91 milhões em 2012 e 2,89 milhões no ano passado. Muitos analistas acreditam que os números reais da produção são ainda menores.
O declínio coincide com o atual plano de investimentos de seis anos da PDVSA para o aumento da produção para 5,8 milhões de barris/dia, que prevê a aplicação de US$ 257 bilhões.
"A PDVSA não tem dinheiro para aumentar a produção", diz Sanchez. "E as petroleiras internacionais estão investindo." Ele estima que as petroleiras estrangeiras investiram cerca de US$ 1 bilhão no ano passado em suas operações venezuelanas, menos que o pico de US$ 10 bilhões registrado no período em que o país cortejava os investimentos privados.
Chávez nacionalizou as operações de todas as companhias de petróleo privadas na última década, decretando que a PDVSA teria que ter o controle operacional - e uma participação de 60% - em todas as joint ventures subsequentes. Chávez também mudou os contratos existentes, aumentando os impostos e royalties. Ele decretou que todas as disputas de negócios devem ser resolvidas em cortes de justiça venezuelanas.
Muitas companhias de petróleo, como a ExxonMobil, a ConocoPhilips e a BP, deixaram o país. Para aquelas que ficaram, operar sob as novas diretrizes tem sido difícil. "As companhias enfrentam muitos desafios", diz Igor Hernández, um professor da escola de negócios Iesa, de Caracas, especializado em petróleo. "Elas querem mais liberdade operacional e um controle menor da PDVSA. Há falta de dutos, válvulas e outros materiais graças ao controle exercido pela Venezuela sobre o câmbio.
A Venezuela também não está conseguindo atrair investimentos para suas refinarias especializadas (as "upgraders"), necessárias ao processamento de seu óleo bruto ultrapesado, que apresenta a viscosidade do piche, antes da realização do refino tradicional.
Cada "upgrader" custa cerca de US$ 5 bilhões e, como a grande maioria das reservas do país é de petróleo ultrapesado, o aumento da produção depende de novas "upgraders", diz Hernández.
Algumas companhias - especialmente a Lukoil, da Rússia, e a Petronas, da Malásia - estão cansadas de esperar que a PDVSA melhore o clima para os investimentos. As duas desistiram de joint ventures com a PDVSA na área de petróleo ultrapesado.
Andrei Kuzayayev, um executivo da Lukoil, disse no ano passado que a Venezuela poderá aumentar a produção, mas apenas se o governo der mais segurança aos investidores privados. Kuzayayev afirmou que as companhias precisam de "uma situação tranquila, estabilidade nos contratos e um bom clima para investimentos".
Meses depois, a companhia russa fechou seu escritório e deixou o país. O presidente da PDVSA, Rafael Ramírez, que também é o ministro do Petróleo e vice-presidente de Assuntos Econômicos, garantiu às companhias de petróleo em fevereiro que o governo poderá rever algumas das políticas de Chávez para tornar seus investimentos mais atrativos. Essas mudanças ainda não ocorreram.
Fonte: Valor Econômico/Peter Wilson | Bloomberg BusinessWeek