O superávit de US$ 2,879 bilhões registrado pela balança comercial brasileira de julho apresentou queda de valor tanto nas exportações (9,9%) quanto nas importações (9,5%) em relação ao mesmo mês no ano passado. Para a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a greve de servidores federais nos portos e a diminuição vertiginosa nas compras de combustíveis na última semana do mês foram os principais motivos para o resultado.
Na quarta semana de julho, quando aumentou o movimento grevista nos portos em função da paralisação de servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a média diária de importações foi menor (US$ 782 milhões) do que a registrada na primeira semana(US$ 947,4 milhões).
Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB, a paralisação afeta muito mais as importações. “Praticamente 90% das exportações passam direto, sem o fiscal. De todos os produtos comprados, por outro lado, no máximo 50% deles passam pelo canal verde. É difícil medir o impacto das greves, mas elas influenciaram no resultado sim”, afirmou.
Entre os produtos, os que mais ajudaram na queda total das importações foram os combustíveis. Na primeira semana do mês, a média diária ficou em US$ 235 milhões, disparada a mais alta entre os setores mapeados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Equipamentos mecânicos, segundo setor com maior demanda pelo mercado interno, somaram US$ 128 milhões de média. Na quarta semana, a média diária de combustíveis caiu para US$ 88 milhões, enquanto equipamentos mecânicos mantiveram-se em US$ 121 milhões. Na quinta semana, que compreendeu os dias 30 e 31 de julho, a média diária de combustíveis caiu ainda mais: US$ 17 milhões.
Se os combustíveis tivessem mantido o mesmo ritmo, as importações totais teriam pulado de US$ 18,126 bilhões para cerca de US$ 20 bilhões, de acordo com cálculos de Castro, o que diminuiria o superávit — acima do esperado para julho pela associação — já que as exportações totais ficaram em US$ 21 bilhões. “A queda nas exportações já era prevista. As importações é que surpreenderam um pouco mais. Não dá para saber o que realmente aconteceu com combustíveis, pois não houve diminuição de demanda. Pode ser que a Petrobras tenha segurado as compras na última semana”, disse.
Pelo lado das exportações, houve queda nos embarques dos principais produtos, como minério de ferro, petróleo e açúcar. Quem teve bom desempenho, ajudando no resultado do mês, foi a soja, que aumentou 5,5% em volume em relação a julho do ano passado, e 16,6% em valor.
Para a CBIE, queda atípica
A queda nas importações de combustíveis e lubrificantes durante o mês de julho também foi considerada atípica pelo diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires. “Você compra combustíveis por contrato. Às vezes a Petrobras achou que o preço estava bom no início do mês e fez estoque. Não é algo linear”, afirmou Pires.
Outro fator que contribuiu para a diminuição das importações, na avaliação do dirigente da entidade, foi a greve de funcionários da Anvisa nos portos. A tendência para os próximos meses, segundo ele, é que a média diária fique mais próxima dos US$ 235 milhões diários do que dos US$ 88 milhões. “Talvez um pouco mais baixo do que esse pico. Mas o Brasil vem aumentando muito as importações de combustíveis neste ano. Enquanto no primeiro trimestre do ano passado a gente comprava 17 mil barris por dia de gasolina, hoje a média é de 70 mil barris.”
Fonte: Valor / Rodrigo Pedroso
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