Relações externas: Executivos de 120 empresas visitarão o Brasil
s belgas estão chegando para fazer negócios. Executivos de 120 empresas acompanharão o príncipe herdeiro Philippe em visita oficial ao Brasil na semana que vem. Boa parte quer fechar parcerias no país para produção ou distribuição, e em alguns casos a ideia é comprar. Companhias dos setores de serviços ambientais, do agronegócio, químico, de logística, serviços esportivos, engenharia, do setor imobiliário, de segurança informática estão entre as mais interessadas em estabelecer negócios com empresas brasileiras.
O tamanho da missão comercial da Bélgica reflete a atração crescente que o Brasil exerce sobre companhias europeias, tanto pela expansão da economia como por projetos envolvendo a exploração do pré-sal, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Executivos belgas são pragmáticos: baseados na experiência de outras empresas, consideram que a melhor maneira de se estabelecer no país é por meio de joint ventures, se possível mantendo o controle, com sócios que ajudem a entender e superar a "complexidade burocrática" do país.
"Estamos discutindo com uma empresa para aquisição", diz Francis Lambilloitte, presidente do Grupo Hamon, do setor de engenharia (sistemas de descontaminação do ar, construção de chaminé para produção elétrica, de petróleo, metalurgia etc.). O grupo tem uma subsidiária no Brasil, e recentemente comprou a parte do sócio local, porque "ele fazia negócios ruins". Agora, quer ampliar as operações no país, de olho em contratos no pré-sal.
Pylos, grupo investidor imobiliário, anunciará a entrada no mercado brasileiro em associação com um grupo de São Paulo. Chega com capital de € 10 milhões para investir, mas avisa que a capacidade de alavancagem é enorme. Acredita que vai fazer negócios para clientes institucionais, como bancos, fundos de pensão e seguradoras.
A ideia é comprar imóveis comerciais, renovar e revender. "Vários fundos de pensão estão prontos a colocar dinheiro no mercado imobiliário brasileiro", diz Edward De Neve, sócio da Pylos. "Apenas São Paulo tem 3 mil prédios-torre. O negócio é enorme." Para começar, a empresa examina seis projetos em São Paulo e Rio de Janeiro. "Escolhemos o Brasil porque também existem clientes que nos pedem para procurar imóveis para eles lá", acrescenta, apontando entre seus clientes multinacionais como Panasonic, Fedex, ING, Credit Agricole etc.
O interesse no setor imobiliário no Brasil não é surpresa para Xavier Vanwynsberghe, da companhia de transporte e logística Ziegler, com faturamento de € 5 bilhões por ano. E avisa que a Ziegler também busca parceiro no Brasil: "Podemos entregar uma mercadoria no prazo de 70 e 90 horas em qualquer ponto da Europa".
A Vasco Data Security, especializada em segurança nas transações na internet, envia o principal executivo para examinar se dá para produzir em Belo Horizonte, com incentivo fiscal, uma parte de seu "digipass", aparelho que muda a senha a cada 36 segundos e é um dos principais produtos da empresa, que tem 9 mil clientes em cem países.
"O Brasil já está muito avançado na segurança de dados, temos muitos clientes lá e agora queremos fazer uma plataforma para a América Latina", diz Jochem Binst, diretor de comunicação. A empresa busca também contratos com os bancos do setor público para proteção de dados.
A Automatic Systems, um dos líderes mundiais no controle de acesso (catracas, portas automáticas, barreiras levadiças) constatou também que precisa fabricar parte da produção no Brasil. Recentemente, perdeu um contrato importante no país para um concorrente alemão, que tem parceiro local numa parte da produção. "Estamos tirando da gaveta um projeto para presença direta no Brasil", diz Marc-André Vynckier, diretor para a região. "O Brasil terá de modernizar aeroportos, tem o passaporte biométrico, e tudo isso necessita de tecnologia como a nossa."
Um grupo de 50 empresas, reunidos no Clube Belga de Tecnologia do Esporte, vai ao Brasil com projeto completo para oferecer aos organizadores da Copa de 2014 e da Olímpíada do Rio. Inclui infraestrutura, tecnologia, hotéis etc. Segundo o executivo da entidade Dimitri Huygen, duas empresas já decidiram se instalar no país: a Suseia, de criação de eventos, e a Veldeman, especializada em construções temporárias. A Production Resources Group, contactada pelos organizadores da Copa, busca também parceiros na área de serviços e equipamentos para eventos.
No agronegócio, a Wagrialim, entidade que reúne 80 empresas com faturamento anual entre € 5 milhões e € 10 milhões, vai levar executivos a Belém do Pará para negociar "plataforma tecnológica" com empresas locais. A ideia é pesquisar o açaí, cupuaçu e outras frutas para produção de remédios e cosméticos.
A Transurb, grupo de engenharia ferroviária belga, também busca sócio e contratos. Para isso, organizará seminário no Rio na busca de parceiros para participar de negócios específicos de metrô, como certificação de material fixo e engenharia de linhas de trem de alta velocidade.
Também o setor químico está interessado no país. Frans Dieryck, diretor da Federação Belga da Industria Química, diz que pelo menos duas de seis empresas que acompanham a delegação tem planos de produzir no Brasil. Outro projeto é cooperar com as brasileiras numa rede de informações, conhecimento e experiência para implementar o projeto Reach, da União Europeia, que impõe exigências adicionais para a entrada de produtos químicos na Europa.
Empresas da área ambiental estão igualmente ativas. Uma delas, a Idrabel, negocia com a prefeitura de João Pessoa um contrato para tratamento da água encanada, considerado econômico e "sustentável"'. Na construção civil, o grupo Besix, especializado na construção de grandes estádios, portos e estruturas marinhas, busca sócio para obter contrato na área do pré-sal. Sua carta de visita é a construção da torre mais alta do mundo, com 828 metros, localizado em Dubai, nos Emirados Árabes.
O numero de empresas grandes e grandes buscando parceria no país é significativo, dizem Catherine Van Ransbeeck e Sylvianne Vanbocquestal, diretoras para América Latina das agências de promoção de investimentos e comércio das regiões de Flandres e Valônia, respectivamente. Segundo Amanda Cortez, da Câmara de Comércio Belgo-Brasileira, 360 pequenas empresas das duas regiões estão em busca de contatos. A entidade criou um fundo de investimento, com capital de € 10 milhões , para estimular as operações.
Quem acaba de entrar no país calcula o potencial de negócios. De Smet Engineers & Contractors é uma empresa de engenharia que quer entrar no mercado de fábricas completas no setor sucoalcooleiro. Oferece projetos "chave na mão", onde cuida do desenho, construção, financiamento. Fez parceria com a Interunion, empresa de Ribeiro Preto, e agora vai impulsionar seu nicho milionário.
"Vai haver mais investimento no setor de açúcar e etanol no Brasil do que no resto do mundo", diz o diretor da firma, John Griffin. Descontados os projetos que não saíram do papel, ele acha que nos próximos cinco a dez anos o país construirá de 20 a 30 fábricas completas. E cada uma custa no mínimo € 200 milhões .A ideia não é se limitar ao mercado brasileiro. "Como o Brasil é referencia mundial no mercado de açúcar, podemos a partir de lá buscar projetos na África e América Latina", afirma.
Por sua vez, a Deme, empresa de drenagem e engenharia civil, obteve no porto de Santos seu primeiro grande contrato na América Latina. Por € 75 milhões, está recuperando uma área contaminada do "lixão" da Alemoa, que será usada na expansão do porto. Os olhos do diretor Hubert Fiers brilham quando estima o volume de negócios tanto com manutenção como construção de portos no Brasil.
De todas as empresas ouvidas, apenas a Desso, produtora de tapetes para escritórios, hospitais e companhias aéreas, prefere se instalar no Uruguai. "Examinamos ir para o Brasil, mas depois de discussões com autoridades brasileiras ficou claro que a instalação é mais favorável no Uruguai", diz o diretor Geert Snaphaan. A empresa planeja investir € 4 milhões numa fábrica de montagem. Ao mesmo tempo, Desso acabou de obter uma encomenda milionária para produção de 200 mil metros quadrados de tapetes para o novo prédio administrativo do governo de Minas, em parceria com Giroflex.
A missão econômica tem também uma parte acadêmica. Várias universidades belgas querem parceria com as brasileiras. Patricia Petit, da Universidade de Liege, diz que um projeto é de "co-diplomar" estudantes de pós-graduação. O estudante sai com o diploma tanto da faculdade brasileira como da belga, abrindo as portas para a atividade profissional na Europa.
Fonte: Valor Econômico/Assis Moreira, de Bruxelas
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