A crise da Petrobras e a queda das ações da companhia contaminaram o balanço do BNDES, que teve uma perda de R$ 2,6 bilhões, ao corrigir para baixo valor de sua participação na estatal.
O banco detém 17% do capital da petroleira. Com "o declínio prolongado e significativo das ações" da empresa, diz o BNDES, o valor é "passível de não recuperação", seguindo recomendações do Banco Central.
Da cifra de R$ 2,6 bilhões, R$ 1 bilhão foi lançado como baixa no balanço de 2014; R$ 1,6 bilhão permaneceu no patrimônio do banco, como um ajuste a menor.
A fatia de ações da estatal em poder do BNDES sofreu uma desvalorização de 40% --de R$ 37,7 bilhões ao fim de 2013 para R$ 22,5 bilhões em dezembro de 2014.
Ao assumir essa baixa em suas contas (principal fator negativo em seu balanço), o BNDES viu seu lucro limitado em 2014 a R$ 8,594 bilhões. O desempenho, porém, supera em 5,4% os R$ 8,150 bilhões de 2013.
RESSALVAS
O balanço da instituição foi aprovado com ressalvas pela KPMG. A auditoria independente ponderou que o valor total da perda deveria ser assumido já no balanço de 2014.
Uma resolução do Conselho Monetário Nacional determina que ações de estatais aportadas pelo Tesouro para capitalizar o banco não "tem horizonte de venda", segundo Carlos Frederico de Carvalho Silva, chefe do Departamento de Contabilidade da instituição.
Ou seja, só haveria perda em caso de venda dessas ações. "Mas são ativos que estão há décadas na carteira do banco e têm um papel estratégico. A BNDESpar tem essa característica, diferentemente de outras empresas de participações."
Outro ponto levantado é que não há fontes para confrontar a avaliação do valor da companhia feita pelo BNDES, pois o balanço auditado da Petrobras de 2014 não foi apresentado ainda.
Segundo o BNDES, o tamanho da perda com as ações da Petrobras levou em conta avaliação econômico-financeira da companhia --que sofre com a depreciação de seus ativos diante da queda do petróleo e da repercussão da Operação Lava Jato, que investiga atos de corrupção.
Metodologia igual, diz Silva, foi adotada em outros semestres e anos e não apontou perdas a serem assumidas.
EMPRÉSTIMOS
O banco diz que a Petrobras não atrasou pagamento de empréstimos concedidos. Ao todo, o BNDES aprovou créditos de R$ 40,4 bilhões à estatal desde 2005 --parte da dívida já foi quitada, mas o banco não informa o quanto.
Para Ricardo Macedo, professor de economia e finanças do Ibmec, o BNDES começará a ter problemas em créditos dados à cadeia de óleo e gás com o agravamento da crise da estatal e a decisão da Petrobras de frear investimentos.
Sobre a perda decorrente das ações, Macedo diz que o banco optou por diluir essa baixa diante do cenário de incertezas, mas não feriu as regras contábeis.
Fonte: Folha de São Paulo/PEDRO SOARES DO RIO
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