O BNDES vai transformar o escritório de representação que tem Londres em subsidiária operacional, a BNDES PLC. Sérgio Foldes, superintendente da área internacional do banco, disse ao Valor que a nova unidade fará captações em moeda estrangeira e vai emprestar recursos para companhias brasileiras que fechem negócios em outros países, em condições mais competitivas. "Com a estrutura no exterior, o dinheiro não precisará mais passar pelo Brasil, o que reduz custos fiscais e cambiais, principalmente", afirma o executivo.
Foldes conta que a decisão de atuar mais fortemente lá fora foi tomada pelo banco a partir da demanda de vários clientes. A difícil situação dos países da zona do euro não intimida a instituição. "Por conta de alguns anos de crise global, muitos ativos, em particular na Europa, estão com preços depreciados e podem gerar negócios interessantes para as companhias brasileiras", avalia o executivo. "Já estamos conversando com algumas delas."
O plano do BNDES é captar em 2013 por meio da BNDES PLC. A primeira captação do veículo internacional deverá ser de US$ 1 bilhão e está prevista para ocorrer no segundo semestre. O banco precisa conseguir ainda as autorizações para o funcionamento da subsidiária - tanto do Banco Central (BC) brasileiro quanto das autoridades britânicas. "Dentro dos parâmetros do que tem feito o banco, acredito que uma operação de US$ 1 bilhão será suficiente para começarmos os trabalhos de empréstimos internacionais", afirma Foldes.
Atualmente, empresas privadas brasileiras e até estatais têm levantado recursos no exterior, com boas condições de taxas. Em 2012, o BNDES não fez nenhuma captação. Mas desde que retornou ao mercado internacional, em 2008, acumulou US$ 4 bilhões com lançamento de bônus e empréstimos de organismos multilaterais lá fora.
Os recursos levantados em moeda estrangeira serão destinados apenas a companhias brasileiras. Estão previstas concessão de empréstimos bilaterais ou até mesmo com a participação do banco em eventuais emissões de dívida das companhias no mercado internacional. O primeiro foco da subsidiária será, porém, conceder recursos para a negociação de participações societárias, em operações de fusões, aquisições, parcerias, expansão dos negócio de brasileiras que já têm unidades lá fora e também projetos de novas empresas ("greenfield").
"É natural que os financiamentos comecem pelas empresas maiores, que já têm, inclusive, projeto mais prontos. Mas acreditamos que empresas de médio e pequeno porte também possam acessar essas linhas, por conta de suas perspectivas de crescimento", disse Foldes.
Entre as primeiras companhias beneficiadas deverão estar as que têm receitas em dólares, como as do setor de óleo e gás.
A análise das operações será feita em conjunto pela equipe do banco no Brasil e em Londres. O escritório londrino é, atualmente, chefiado por Jaime Gornsztein, que comanda mais três executivos. Mas o time deverá crescer. Os investimentos definidos serão sempre aderentes às políticas do BNDES e formatados dependendo das condições do país em que o os recursos serão utilizados, em particular por conta dos diferenciais fiscais entre as nações.
Foldes afirma que as linhas internacionais já são consideradas caras e o fato de o dinheiro sair do Brasil e ir para o exterior encarecia ainda mais os custos. "A vantagem competitiva atual do BNDES na concessão desses empréstimos era em termos de prazos. Agora teremos um ganho de eficiência, reduzindo custos".
Londres foi escolhida pelo banco como sede da BNDES PLC depois que um estudo encomendado para a PwC identificou que a cidade seria a melhor praça por questões de "benchmark", uma vez que abriga outros bancos de desenvolvimento, além de fundos soberanos. Aspectos fiscais também foram levados em conta, além do fato de o centro financeiro ter representatividade para a indústria financeira global. Outras instituições brasileiras, como Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e BTG também desenvolveram braços em Londres.
O escritório inglês, criado no fim de 2009, apenas divulgava a atuação do BNDES e o Brasil no exterior. A subsidiária internacional será listada no mercado londrino, como uma PLC ("public limited company") e não emitirá ações, mas apenas títulos de dívida. Enquanto aguarda as licenças para começar a funcionar, o BNDES trabalha no aprimoramento das práticas de governança corporativa e na elaboração de um novo estatuto para seu braço internacional.
O outro escritório de representação mantido pelo BNDES, em Montevidéu, no Uruguai, continuará em operação e mantendo suas características. A unidade está em fase de desenvolvimento e tem o foco em comércio exterior e na divulgação das linhas do banco, que já são repassadas por várias instituições financeiras latino-americanas. Conforme já afirmado pelo próprio presidente do banco, Luciano Coutinho, abrir um novo escritório no exterior, na Ásia, por exemplo, poderá ser cogitado.
"Está claro que o dinamismo da economia mundial hoje passa pela Ásia, mas não temos ainda calendário mais específico para isso", disse Foldes.
Fonte: Valor / Vera Saavedra Durão e Ana Paula Ragazzi
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