O aumento do ritmo de crescimento do Brasil pode provocar um gargalo no financiamento, segundo o assessor econômico da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Jorge Arbache. A uma plateia formada por empresários do Brasil e da Alemanha e representantes de bancos da Europa, ele propôs a entrada de novos formatos de financiamento com participação de instituições estrangeiras.
"O BNDES não será capaz de bancar o crescimento de demanda por linhas de financiamento sozinho", disse. Após sua apresentação, num dos painéis do 30º encontro econômico Brasil-Alemanha, em Frankfurt, Arbache explicou que seu prognóstico se refere ao médio prazo. Segundo ele, os recursos disponíveis hoje, que giram em torno de R$ 150 bilhões por ano, são suficientes para atender aos pedidos atuais. "Mas o problema é que no médio prazo não sabemos qual será o comportamento do poupador, ao mesmo tempo em que também desconhecemos como se dará a disposição do investidor em buscar recursos para financiamento", disse.
Ele lembrou que novos instrumentos de poupança, como o da previdência do setor público engrossarão os recursos para financiamento, dando mais fôlego na oferta de crédito para os empreendimentos. "Mas esse fundo, por exemplo, levará ainda um tempo para começar a crescer", destacou. Até lá, ele espera um aumento de demanda por conta de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além de necessidades de setores como a indústria.
Para o assessor do BNDES, se a tendência de queda da Selic se mantiver haverá menos especulação na taxa de câmbio, o que, no médio prazo, trará uma estabilidade no câmbio e consequente aumento de novos projetos. "A partir disso, a roda gira", disse. "Não se trata de um crescimento a altas taxas, mas com base numa economia mais previsível", destacou. Segundo ele, a redução da TJLP ocorreu para seguir a tendência da Selic e compensar o custo financeiro e de risco dos bancos na intermediação das linhas do BNDES. De qualquer forma, é um sinal da disposição em continuar a estimular o financiamento produtivo.
Arbache não mencionou que tipo de instituição poderia engrossar a oferta de linhas de longo prazo. O potencial econômico do Brasil foi tema constante nos dois dias de discussões em Frankfurt. "O Brasil tem uma grande riqueza, notadamente de matérias-primas. Esse mercado poderia ser ampliado se o país pudesse dar um passo mais acelerado na infraestrutura", disse Stefan Böhlich, chefe de financiamento de comércio e exportações do Commerzbank AG. O executivo alemão lembrou que se na Europa a crise de 2008 "se converteu numa dívida de bancos", no Brasil o setor bancário não foi atingido. "Por outro lado, percebe-se uma estagnação no crescimento do país. A redução dos juros poderá servir para mudar a tendência; mas o país não pode descuidar do controle de inflação", disse.
Fonte: Valor Econômico/Por Marli Olmos | De Frankfur
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