Com peso decisivo do Brasil, a América Latina deverá reforçar sua posição de maior exportador global de commodities agrícolas nos próximos dez anos, apontam a Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em relatório sobre as perspectivas agrícolas 2022-2031 publicado nesta quarta-feira (29/6).
Até 2031, a América Latina poderá responder por 61% das exportações globais de soja, 59% de açúcar, 45% de carne de pescado, 43% de milho, 40% de carne bovina e óleos de pescado, 32% de carne de frango e 25% de etanol. Nesse período, a produção agrícola na região deverá crescer 14%.
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Na última década, o superávit comercial da América Latina quase dobrou, e a participação da região nas exportações agrícolas globais cresceu para 17%. Agora, as duas organizações calculam que o superávit comercial latino-americano crescerá 28%, elevando para 18% sua fatia do comércio agrícola internacional.
Essa desaceleração reflete o desempenho do ritmo de embarques do Brasil, que representa mais da metade das exportações da região. O aumento das vendas externas brasileiras deve ficar abaixo dos 6% ao ano da última década, mas, ainda assim, ficará bem acima dos 2% ao ano esperados para o México e outros países da região.
As exportações líquidas da América do Norte deverão crescer 10% nos próximos dez anos, abaixo do ritmo da América Latina, por causa da expansão mais lenta da produção. Os embarques de milho e soja, que tiveram forte aumento na década passada, devem se estagnar nos próximos dez anos na América do Norte.
Na próxima década, as exportações líquidas da Europa e da Ásia Central poderão quase dobrar, a depender dos desdobramentos da guerra entre Ucrânia e Rússia.
Importações
A China, que mais do que dobrou suas compras agrícolas nos últimos dez anos, continuará a ser o maior importador. Mas, até 2031, o ritmo de expansão das importações de alguns produtos pode diminuir, na esteira de crescimento da população mais lento, da quase saturação no consumo de algumas commodities e do aumento da produção doméstica. Importadores como Paquistão, Irã e da Ásia menos desenvolvidas continuarão comprando muitos alimentos do exterior.
Globalmente, a demanda por commodities agrícolas (inclusive para usos não-alimentícios) deverá crescer 1,1% ao ano na próxima década, bem abaixo do crescimento médio da última década, de 2% ao ano. Isso ocorre principalmente com a desaceleração do crescimento da demanda na China (0,6% ao ano em comparação; na última década, ele foi de 2,3% ao ano) e outros emergentes, e na demanda global por biocombustíveis.
A maior parte da demanda adicional por alimentos continuará a vir de países de renda baixa e média. Já nos países de alta renda, o lento crescimento populacional e a saturação no consumo per capita de várias commodities limitarão o avanço da demanda. FAO e OCDE projetam que a população global será de 8,6 bilhões de pessoas em 2031. No ano passado, a população chegou a 7,8 bilhões.
Para a maioria das commodities, com exceção de laticínios, o aumento da demanda per capita durante os próximos dez anos será limitado. O aumento da população puxará a expansão da demanda adicional, que virá de regiões com alto crescimento populacional - África Subsaariana, Sul da Ásia, Oriente Próximo, e Norte da África.
Cereais e peixe
Para cereais e peixe, a expansão da demanda global ocorrerá em ritmo que corresponderá a cerca de metade do ritmo da última década, enquanto, para vegetais, o aumento corresponderá a apenas um terço do crescimento dos últimos dez anos. O óleo vegetal foi o produto de crescimento mais rápido na última década - em parte, o aumento foi impulsionado por políticas de biocombustíveis. Para a próxima década, o crescimento da demanda será limitado pela estagnação do consumo de biodiesel nos Estados Unidos e na União Europeia, os dois principais mercados.
Nesse cenário, o comércio agrícola mundial deve continuar a aumentar durante a próxima década. No entanto, em linha com a expansão mais lenta na demanda e na produção, o avanço ocorrerá em ritmo significativamente menor do que nos últimos dez anos.
Além disso, as projeções da FAO e da OCDE levam em conta o impacto decrescente da liberalização comercial que impulsionou as exportações agrícolas nos últimos dez anos. As organizações notam que, hoje, os esforços para reduzir as tarifas multilaterais e as reformas para reduzir subsídios que distorcem o comércio estão paralisados.
O volume de comércio de algumas commodities, incluindo soja, milho e carne de porco, cresceu fortemente durante o último ano.
Durante a próxima década, a maior taxa de crescimento deverá ser a do arroz, que crescerá 2,5% ao ano, segundo FAO e OCDE. Várias commodities terão avanço inferior a 1% ao ano - entre elas soja, óleo vegetal, ovinos, carne de aves e pescado - ou mesmo queda, como no caso de biocombustíveis e carne suína.
Fonte: Valor