O Brasil já se tornou o sétimo maior importador mundial de aços longos e é um mercado cada vez mais desejado como destino da produção excedente em outros países. Esse foi um dos diagnósticos mais comentados do Congresso Latino-Americano de Siderurgia, que ocorre entre ontem e hoje, em Buenos Aires.
"A demanda proveniente da América do Sul continuará a atrair importações, particularmente de países com economias domésticas fracas e excesso de capacidade instalada", disse Joachim Schroeder, principal executivo da consultoria suíça AG. Segundo ele, o Brasil já absorve 4% das exportações globais de aços longos. Há apenas dois anos, limitava-se a 1% do total. Além do crescimento da economia, Schroeder destacou "a substancial valorização do real" como uma das causas.
Para Sigurd Mareels, diretor da consultoria McKinsey, mercados emergentes como o Brasil podem se transformar em receptores das sobras de produção. Em 2005, conforme estatísticas apresentadas por Mareels, havia um déficit de 3 milhões de toneladas na produção de aço bruto. Ou seja, a oferta não cobria a demanda, o que ajudava a elevar os preços. Em 2015, esse desequilíbrio terá dado lugar a um excedente de 181 milhões de toneladas. "Só a China, que tinha déficit de 15 milhões de toneladas, ficará com uma sobrecapacidade de 118 milhões de toneladas", afirmou.
Diante do diagnóstico, empresários do setor ressaltaram a importância de uma blindagem contra a invasão de produtos siderúrgicos importados. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, disse que a medida anunciada pela Receita Federal de aplicar preços de referência contra a entrada de aço subfaturado é "o primeiro passo", mas que "deve haver medidas complementares". Ele não quis cogitar o caráter das novas medidas esperadas. "Têm que ser (avaliadas) produto a produto, caso a caso", assinalou o industrial.
Na semana passada, a Receita definiu uma tabela de preços que fixa valor mínimo para 16 tipos de aços planos e longos, com base na estrutura de custo de produção de cada produto. O cálculo tomou como referência uma planilha que foi entregue ao governo pelo Instituto Aço Brasil.
"É uma medida contra o subfaturamento", disse Steinbruch, lembrando que as siderúrgicas dos Estados Unidos e da Europa estão trabalhando com ociosidade de 40%. Segundo ele, esse controle deverá brecar importações com origem da China, Turquia e Ucrânia. "Não podemos entregar nosso mercado de bandeja para quem tem práticas ilegais", disse o empresário. Em setembro, o Brasil importou 552 mil toneladas de aço (25% do consumo total) e a previsão é superar 5,5 milhões neste ano.
O presidente da Organização Techint, Paolo Rocca, maior siderúrgica da Argentina, também demonstrou preocupação com as importações, mas não só de aço bruto. "Ano após ano, a América Latina cresce como mercado para as exportações indiretas de aço da China, em vez de competir para satisfazer a própria demanda interna e a dos países em crescimento."
Para ele, o ano que vem terá "um fator adicional de volatilidade", pois a China prevê aumento de apenas 3,5% no consumo doméstico de aço - nos últimos dez anos, a alta média foi de 16%. "Vamos ver outras consequências em excesso de capacidade, consolidação, preços dos insumos e desequilíbrio no comércio mundial", advertiu.
A América Latina desponta como um dos prováveis mercados em que serão despejados os excedentes de produção, na opinião do empresário argentino: o consumo anual de aços longos na região é de 51 quilos por habitante, enquanto na China alcança 258 quilos e, na Coreia, chega a 416 quilos. No segmento de aços planos, a desproporção é bastante parecida. "E os mercados americano e europeu não vão reagir", acrescentou Steinbruch, pessimista com a recuperação da economia mundial, mas otimista com o Brasil.
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner | De Buenos Aires
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