Em processo de reposicionamento estratégico, de olho na transição energética, a Equinor decidiu reduzir pela metade o número de países onde atua no setor de óleo e gás. No Brasil, pelo contrário, a ideia é continuar a crescer. Depois de anunciar, este ano, investimentos de US$ 8 bilhões - em conjunto com a ExxonMobil e Petrogal - para começar a produção no campo de Bacalhau, no pré-sal da Bacia de Santos, a petroleira norueguesa trabalha no desenvolvimento de novos projetos até 2030, e mira com atenção o leilão dos volumes excedentes da cessão onerosa das áreas de Sépia e Atapu, marcado para 17 de dezembro.
A Equinor é uma das onze companhias habilitadas para a rodada, que vai demandar desembolsos de R$ 11,1 bilhões em bônus de assinatura. Em visita ao Brasil, na semana passada, o vice-presidente executivo da área internacional de exploração e produção da Equinor, Al Cook, disse ao Valor que vê Sépia e Atapu como “ótimos campos”, do tipo “que qualquer companhia de óleo e gás do mundo olha”. A decisão de participar da licitação, no entanto, dependerá dos cálculos de retorno.
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“Basearemos nossa decisão em como podemos gerar valor”, afirmou o executivo, em entrevista exclusiva ao Valor.
Os excedentes são os volumes descobertos de óleo que ultrapassam os 5 bilhões de barris que a Petrobras tem direito de produzir no pré-sal, como parte do contrato da cessão onerosa assinado em 2010.
Em 2019, o governo ofertou, sem sucesso, os excedentes dos campos de Sépia e Atapu. Na ocasião, as petroleiras viram muitos riscos associados à licitação - o principal deles a necessidade de negociar com a Petrobras, depois do leilão, o valor da compensação financeira pelos investimentos feitos nos ativos.
Com o insucesso, o governo reviu algumas regras. A principal novidade é que, depois de negociações entre a Petrobras e a Pré-Sal Petróleo SA (PPSA), o valor da compensação a ser paga à petroleira brasileira foi calculado previamente. Além disso, os bônus foram reduzidos em 70%, em relação aos termos da licitação de 2019.
Al Cook comenta que, desde então, a indústria passou por uma profunda transformação, depois da eclosão da pandemia. Ele cita que os compromissos das petroleiras com as reduções das emissões se acentuaram. “Mas o que permanece o mesmo é a qualidade dos ativos do Brasil”, afirmou.
A licitação de Sépia e Atapu ocorre em momento em que o Senado debate sobre a taxação das exportações de petróleo, para financiar a criação de um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis. A Equinor não comenta o assunto. Em nota, o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) adverte, no entanto, que, se aprovada no Congresso, a proposta impacta negativamente em projetos em andamento e futuros e reduz a atratividade dos novos leilões.
Al Cook reforçou que o mérito do leilão de Sépia e Atapu é que os ativos se encontram em fase de produção. “Para nós, a combinação entre ativos em produção e desenvolvimento é o que faz o Brasil tão atrativo”, disse.
Desde 2017, a Equinor cortou pela metade o número de países onde atua em exploração e produção de óleo e gás, para 15. A empresa está de saída da Austrália, México, Irlanda e Nicarágua. Já o Brasil está entre os três principais destinos dos investimentos da empresa. “Nos países onde ficarmos, vamos realmente investir, para fazer diferença”, disse.
A norueguesa busca projetos com taxas de retorno acima de 20%, num cenário de óleo a US$ 60, e campos com intensidade de carbono abaixo de 8 quilos de CO2 por barril. A empresa aposta em ativos com retorno rápido e que tenham breakeven (preço de equilíbrio) abaixo de US$ 35 o barril.
Bacalhau é uma das principais frentes da carteira de projetos da empresa. A primeira plataforma do campo, de 220 mil barris/dia, deve começar a produzir em 2024. A segunda unidade de produção está prevista para entrar em operação até o fim da década, mas o avanço do projeto ainda depende da campanha de perfuração no norte da área. A perfuração da região, segundo ele, ajudará a ampliar o conhecimento sobre os reservatórios e “dirá o que pode ser feito” na concepção do projeto”.
Para 2022, a Equinor espera iniciar, no primeiro semestre, a fase 2 de Peregrino, operado pela empresa no pós-sal da Bacia de Campos. O projeto, que atrasou devido à pandemia, consiste na instalação de uma terceira plataforma fixa que permitirá atingir reservatórios antes inacessíveis. A ideia é aumentar a vida produtiva do campo e adicionar até 300 milhões de barris em reservas recuperáveis.
Hoje, a companhia possui dois ativos operacionais. Além de operar Peregrino, a Equinor é sócia da Petrobras, com 25%, em Roncador - campo maduro no qual a norueguesa mantém conversas com a brasileira para avançar num projeto de revitalização. Segundo Al Cook, as empresas conseguiram reduzir em 50% os custos dos poços do projeto. “Isso nos dá confiança para os próximos passos”, disse.
Outro ativo importante dentro da carteira da empresa é a descoberta de gás natural de Pão de Açúcar, na Bacia de Campos. O grande desafio é a monetização do gás. A decisão final de investimento deve ser tomada em 2023.
A Equinor produz 33 mil barris/dia de petróleo no Brasil. A multinacional chegou a anunciar planos de produzir entre 300 mil e 500 mil barris /dia no país até 2030. Al Cook, contudo, adota um discurso mais cauteloso. “Não perseguimos volumes de produção, mas metas de [geração de] valor.”
Do lado da exploração, ele diz que as últimas perfurações feitas pela empresa, no país, não tiveram o sucesso esperado. A companhia está focada, agora, em processar o conhecimento adquirido nas perfurações, antes de avançar em novas campanhas.
Fonte: Valor