A Braskem, maior petroquímica das Américas, pode suspender temporariamente a produção no polo petroquímico do ABC, em São Paulo, se o preço da nafta fornecida pela Petrobras for reajustado a partir do próximo mês. O Valor apurou que a companhia avalia estender o período da parada programada para manutenção do polo, que normalmente tomaria entre 30 e 40 dias, uma vez que um eventual aumento de custos com a matéria-prima não poderia ser absorvido pela cadeia petroquímica.
Uma paralisação além do programado, na avaliação da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), seria o "caos" para o setor. "Essas paradas são programadas com um ano de antecedência. Os clientes são avisados e cada um traça sua estratégia, sem sobressaltos", conta o presidente da entidade, Fernando Figueiredo, acrescentando que não tinha informações sobre os planos da petroquímica. "Fico extremamente preocupado com esse cenário".
A parada programada nos polos petroquímicos brasileiros deve ocorrer a cada seis anos, conforme a legislação. No ABC, a última ocorreu em 2008, ainda sob o comando da antiga Quattor, que aproveitou o momento para elevar as capacidade instalada de 500 mil toneladas anuais para as atuais 700 mil toneladas por ano de eteno. Além de petroquímicos básicos, a Braskem produz polietileno, polipropileno e especialidades químicas no polo.
Companhia avalia estender a parada programada para manutenção do polo, prevista para setembro
A próxima parada ocorrerá em setembro, quando deve entrar em vigor o novo preço da nafta. Caso o prazo seja estendido, a operação de "sete ou oito" empresas, conforme a Abiquim, especialmente na área de tintas e nylon, seria atingida. "Espero que essa situação ainda se resolva. Um aumento de preços teria impacto grave na cadeia", afirmou Figueiredo. "A forma mais fácil de [a Petrobras] resolver isso seria reajustar a gasolina".
Em nota, a Braskem informou que "está empenhada em encontrar uma solução com a Petrobras relativa ao contrato de fornecimento de nafta petroquímica e continua trabalhando para que as negociações sigam na direção de um resultado positivo que garanta a competitividade da indústria petroquímica brasileira".
O contrato de cinco anos de fornecimento de nafta firmado com a Petrobras, que é uma das principais acionistas da Braskem com fatia de 36% do capital total, venceu em fevereiro e foi prorrogado por seis meses, que se encerram no fim de agosto. Até o momento, não há sinalização de que as companhias possam alcançar algum entendimento nas negociações relacionadas ao preço da nafta, nem de nova prorrogação dos termos atuais.
O impasse nas negociações refere-se ao aumento de 5% a 7% nos valores do contrato, na comparação com o acordo em vigor, apresentado pela Petrobras e rejeitado pela Braskem, que busca o caminho oposto, de redução de custos com matéria-prima, alegando que a competitividade dos químicos e petroquímicos nacionais já está bastante comprometida em razão do gás de baixo custo usado nos Estados Unidos.
O reajuste da nafta seria decorrente da inclusão, no preço da matéria-prima fornecida à Braskem, do custo adicional com a importação do insumo - a Petrobras teria passado a usar mais nafta doméstica na gasolina, reduzindo a oferta do produto local à Braskem e ampliando a entrega do importado. Para um interlocutor, com essa equação (maior importação e preços mais altos), a Petrobras poderia reforçar suas margens, também pressionadas por causa da defasagem nos preços da gasolina.
O reajuste e uma eventual redução de atividade da Braskem preocupam a Unigel, fabricante de acrílicos, estireno e poliestireno, embalagens e fertilizantes, cujas margens foram duramente afetadas pela menor competitividade dos produtos nacionais. Conforme o presidente da empresa, Henri Slezynger, a Braskem é "pivô" da petroquímica nacional, uma vez que é a principal fornecedora de toda a cadeia, e um eventual aumento dos custos poderia tirar empresas do mercado. "Ainda não perdemos as esperanças e tem muita gente trabalhando para evitar ou adiar isso [o aumento]", ponderou.
Conforme o empresário, as margens da petroquímica nacional já estão pressionadas, o que desestimulou novos investimentos e levou prejuízo a determinadas operações. "Se aumentar mais, estaremos fora do mercado. A Braskem, definitivamente, não vai poder repassar esse aumento", disse.
Fonte: Valor Econômico\Stella Fontes | De São Paulo
PUBLICIDADE